A Síndrome de Narciso é não querer conhecer a si mesmo, mas apenas admirar a própria imagem. 

 

A grande questão é que há um pouco de Narciso em cada ser humano. Todos são Narciso, em certo grau, todos encontram-se reféns da própria aceitação, quando não são reféns da aceitação dos outros. Existe o ser que os outros querem que eu seja; existe o Narciso, que representa o ser que eu desejo ser e existe um ser que os narcisistas não conhecem. Essa geração é tão viciada em si mesmo que acaba se tornando bela e depressiva ao mesmo tempo.

Outro fenômeno assustador: a ultra-capacidade de fala em contraposição a uma incapacidade de escuta. Todo mundo tem algo a dizer, mas poucos pensam, refletem e, por isso mesmo, desconfiam de tudo. Desconfiar de tudo é ouvir aqueles que os filósofos modernos chamaram de “os mestres da suspeita do século XX”: Nietzsche, Freud e Marx. E desconfiar de tudo inclui desconfiar de si mesmo.

Se uma pessoa acredita em tudo o que dizem a respeito dela, ela é um escravo da tirania do outro. Agora, como ser curado ou liberto da síndrome de Narciso? Como abandonar esse projeto de egolatria? Só há um jeito. Ouvindo o que Deus pensa a respeito de todos e desejando ser quem Ele quer que seja. Jesus viu quem era Pedro, mas Pedro não quis ouvir. Quando o Mestre disse que o Pastor seria entregue aos malfeitores e que suas ovelhas seriam dispersas, Pedro, cheio de si, disse que Deus estava equivocado.

Quando não sabemos quem somos ou quando acreditamos na mentira que contamos para o próprio coração, deixamos de viver a realidade e passamos a sofrer por conta da nossa própria imaginação. É como a adolescente que acredita que aquele garoto possessivo, machista, violento, mentiroso e abusador a ama e a valoriza – e ainda é o melhor de Deus para ela. Ou como aquele adolescente que pensa que o conselho de seus pais de deixar de andar com aqueles amigos que gostam de bebedeira, drogas e sexo mundano é uma forma de privar sua “liberdade”.

Quem não ouve um bom conselho ou quem não percebe que sofre manipulação não está viciado no outro, mas apenas anestesiado pelo prazer que sente em função do relacionamento adoecedor do outro. No fim das contas, faz isso porque o Narciso que mora na pessoa diz que o prazer imaturo é mais vivificante do que o olhar do amor de quem te diz a verdade sobre as coisas.

Jesus amou Pedro dizendo a verdade pra ele: “você é um traidor”. Pedro, após a morte e ressurreição de Jesus, teve uma nova chance. E lá, Jesus lhe perguntou: “tu me amas, Pedro?”. Essa pergunta, significa: você daria a vida por mim como eu dei a vida por ti? Pedro respondeu: eu não daria a vida por ti, mas eu quero continuar te seguindo. Cada resposta de Jesus significava: Pedro, eu te dou o meu maior tesouro – minhas ovelhas, por quem eu dei a minha vida. Cuida delas pra mim. Somente um Deus pode dar o próprio tesouro a um traidor. Mas será que somente Pedro traiu Jesus? A última resposta de Jesus curou a ferida da terceira negação de Pedro. Jesus cura a ferida da humanidade (pecado) a amando como são, e confiando a ela seu maior tesouro.

O doutor e pastor John Piper em seu livro, “Em Busca de Deus” diz que o problema não está na ausência ou na existência do amor-próprio. O problema da falta de amor ao próximo como a si mesmo é a confusão do mandamento com o pressuposto. Amar ao próximo é mandamento; amar a si mesmo é pressuposto. Saiba mais como se amar sem esquecer de Deus lendo a matéria Amar ao próximo como a si mesmo: Você entendeu errado.

Narciso morreu abraçando a própria imagem. O rio chorou a morte de Narciso, pois também via nos olhos dele sua própria imagem. Todos são narcisistas e a cura e libertação vem de abandonar a demanda de ser o que os outros querem que sejam ou ser o que desejam ser. Assim como Jesus, precisam ser quem Deus quer que sejam.

Por Maycson Rodrigues e Milena Scheid
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