Muitas vezes a pressão é tão grande, que alguns preferem optar por uma relação mais distante na igreja com a finalidade de evitar mais choques e tensões.
Um pastor que lidera uma igreja é sempre uma pessoa que goza de bastante visibilidade e prestígio por parte da membresia, mas, também, ele sofre com muitas pressões que decorrem dessa posição. São múltiplas demandas, famílias em crise, desafios financeiros, dificuldades no exercício da liderança, fora que muitos membros de uma igreja acreditam que o pastor é um ser que necessariamente deve se dotar de infalibilidade, ou seja, não pode errar nunca e mais: nem deveria ter o direito a férias e outros benefícios por parte da igreja.
É possível afirmar que um filho de pastor se encontra neste contexto por diversas vezes, pois há uma pressão também sobre a família, não apenas sobre o indivíduo. Os filhos precisam também ser exemplo e muitos já especulam sobre quando o mais jovem entrará para o seminário teológico de modo a assumir a posição do pai num futuro próximo ou não. Se o pastor não pode errar, o filho do pastor se encontra quase que no mesmo grau de exigência e responsabilidade, de modo que, muitas vezes, falta também o aspecto da privacidade (ou o direito a isso) para ambos.
Não há como negar que os filhos do pastor possuem grandes responsabilidades desde novos e que nem todos sabem lidar bem com isso. Muitas vezes a pressão é tão grande, que alguns preferem optar por uma relação mais distante na igreja com a finalidade de evitar mais choques e tensões. É sempre um grande desafio para todos os envolvidos, e o pastor precisa estar bastante equipado no que tange às ferramentas emocionais e relacionais para conseguir administrar bem tanto o cuidado da casa quanto o da igreja.
Se formos analisar as cartas pastorais escritas pelo Apóstolo Paulo, vemos os filhos entrando na lista de critérios avaliativos para que um pastor seja escolhido para liderar uma igreja. Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar;
não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); (1 Timóteo 3:1-5).
Imagina só! A própria Bíblia inclui a relação privada do candidato ao ministério pastoral nas condições a serem verificadas para uma aceitação. O mesmo é dito na carta a Tito, e com um acréscimo: Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei:
aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. (Tito 1:5,6)
No grego original, a palavra “fiéis” ou “crentes” aqui é πιστός (pistós), que significa alguém “confiável”. Para a escolha de um pastor, está sendo considerado pelo Apóstolo as condições morais, sociais e espirituais de sua família. Mesmo que crentes aqui não apontem para “salvos”, certamente um critério (pegando o gancho de 1 Timóteo 3) é que a casa desse irmão seja bem conduzida e seus filhos sejam bons exemplos de conduta moral, no mínimo.
Se o obreiro não tem filhos que não são acusados em questões de imoralidade (dissolução – no grego essa palavra ἀσωτίας – ásotías, libertinagem ou esbanjador de dinheiro [pródigo]) ou desobedientes ou insubordinados (no grego um adjetivo para sinalizar pessoas que não se sujeitam a regras ou indisciplinados), a Escritura recomenda que não sejam escolhidos para a ocupar o ofício pastoral. Isto posto, vemos que a vida de um filho de pastor não é fácil porque grande é a responsabilidade e não tão grande assim é a paciência de muitos em relação ao desenvolvimento pessoal dessas crianças ou desses adolescentes e jovens. Entretanto, os filhos de pastor precisam ser bem discipulados em casa por seus pais para poderem saber se conduzir não apenas no ambiente eclesiástico, mas em todo e qualquer ambiente que eles estejam presentes.