Por que devemos jejuar? Talvez essa seja sua pergunta.

 

O jejum é um tabu em muitas igrejas evangélicas e uma prática mal utilizada em outras. Será que estamos falando de um tesouro escondido ou de um amuleto que tanto faz sua utilização ou não?

Sabemos que o Antigo Testamento traz um contexto de adoração a Deus por sacrifícios de animais, que simbolizava e prefigurava o sacrifício final que ainda seria realizado pelo Messias (mesmo que nem todos os judeus contemporâneos de Jesus criam dessa forma).

Nos tempos antigos, Deus era encontrado através do sofrimento de um inocente, e tudo era intencional; Ele queria mostrar, no fim das contas, que somente por um Mediador é que o homem poderia novamente desfrutar de uma comunhão íntima e genuína com Ele.

A prática do jejum é milenar. Nos dias de Cristo, era muito comum ver religiosos pelas ruas e pelas praças com o rosto abatido, demonstrando estar nesse processo de conexão com o divino. Contudo, o próprio Senhor Jesus tratou de reprovar não a prática, mas, o modo como se praticava o jejum por parte dos fariseus.

Ele disse: “Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram o rosto com o fim de parecer aos homens que jejuam. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, com o fim de não parecer aos homens que jejuas, e sim ao teu Pai, em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”, Mateus 6.16-18.

Repare no texto que Jesus trata da questão prática e demonstra que o erro acontecia em função da motivação distorcida. Eles queriam tão somente se exibir utilizando uma prática espiritual. Não tinham o menor interesse de encontrar Deus, mas, sim, as pessoas que ficavam impressionadas e os enchiam de bajulação e louvores. A recompensa de um religioso exibicionista é o louvor humano, porém isso não passa de vaidade, como diz o Pregador do livro de Eclesiastes.



O jejum que agrada a Deus, digamos assim, é o jejum que não é feito para promover a si mesmo. Podemos ainda dizer que ninguém deve jejuar para alcançar uma bênção divina, como se fosse uma relação de barganha, e sim por uma expressão da fome de Deus que possui no íntimo. O jejum não é também uma “dieta religiosa”, ou uma disciplina do corpo com um toque devocional; o jejum é uma abstenção de alimentos e líquidos com um único propósito: atingir um objetivo espiritual e aprofundar o nível de comunhão com Deus.

Parafraseando Jesus, “não façam como os hipócritas”! Não é razoável perverter um meio de graça tão importante e que ainda fez parte da doutrina de Cristo durante Seu ministério terreno. Se você pretende incluir o jejum em sua espiritualidade, não faça de si para si mesmo, nem para receber algo de Deus em troca, ou imaginando que a quantidade simboliza qualidade; faça para mortificar a carne, para se permitir ser enchido pelo Espírito, para saciar sua fome de Deus, para vencer grandes desafios nas regiões celestes.

Podemos adicionar ainda uma prática complementar. Leia o texto abaixo do profeta Isaías: “Eis que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto. Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao Senhor? Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante?”, Isaías 58.4-7.

Não é normativo, pois o contexto trata uma denúncia da falsa espiritualidade do povo, enquanto eram indiferentes ao sofrimento humano e queriam obter favores divinos através de práticas espirituais vazias como era o jejum deles, mas é possível ver que Deus se agrada quando Seu povo deixa de comer para buscá-Lo e consegue separar este alimento que não foi consumido para ser compartilhado com quem ainda não comeu neste dia.

Busque a face de Deus por meio do jejum, e não se esqueça de olhar à necessidade do próximo para que todos possam contemplar que, de fato, quem você segue é Jesus Cristo e não um religioso hipócrita qualquer.