A cremação não era observada na cultura judaica e também não é historicamente recomendada pelos cristãos.

 

Existem práticas que não são tipificadas na lei de Deus, mas que nem assim deixam de ser inapropriadas para um cristão. Por exemplo, o cristão pode fumar um cigarro ou ingerir bebida alcoólica? Não existe na Bíblia um argumento forte o bastante para uma proibição; porém, compreende-se naturalmente que não convém a um cristão verdadeiro se envolver com tais práticas.

Ao aplicar isso ao caso da cremação, não tem base bíblica consistente o bastante para afirmar isso. Ainda assim, esta prática não era observada na cultura judaica do antigo Israel (nos dias de Jesus) e também não é historicamente recomendada pelos cristãos. Pode-se observar pela própria Escritura Sagrada e também pela experiência dos irmãos que viveram antes de nós, que o sepultamento é a melhor alternativa para quem deseja se despedir da vida terrena após o ciclo natural da vida humana, que é a morte. O corpo de José foi mantido por mais de 400 anos no Egito, e então transportado por 40 anos para finalmente ter seu sepultamento feito devidamente na terra prometida. Os israelitas poderiam ter optado pelo mais simples e cremado seu corpo para carregá-lo em um recipiente, mas quiseram realizar um sepultamento digno.

Em um artigo publicado em um site, o teólogo e pastor Bruno dos Santos, aponta que a cremação tem um histórico de punição contra os crentes. “A cremação também é uma prática antiga. Historiadores afirmam que no início da era cristã, o paganismo se utilizou desta prática para contradizer a ideia cristã da ressurreição do corpo. Não se pode esquecer que muitos cristãos foram queimados por ordem de César na igreja primitiva”. Ele continua exemplificando as crueldades feitas na época: “O mundo romano foi iluminado com cristãos pregados em cruzes, ou transformados em tochas vivas. A própria Igreja de Roma queimou, na estaca, milhares de cristãos bíblicos e judeus classificados como hereges. Estas mortes atestam a crueldade humana, mas não limitam a ação do poder de Deus.”

Três questões teológicas até um pouco densas precisam participar da discussão: o valor do corpo, a fé na ressurreição dos mortos e a esperança do porvir.

“O Valor do Corpo”
A Bíblia diz que “todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó” (Eclesiastes 3.20). Ou seja, de uma forma ou de outra, nosso corpo será reduzido ao estado do pó, como pretende o processo de cremação. No entanto, o que pode ser considerado no processo é o juízo de Deus sobre o coração que intenta, pela cremação, tentar a Deus por não crer no seu íntimo que a ressurreição dos mortos seja uma realidade a se manifestar em breve. E aí, tentar a Deus é pecado (Deuteronômio 6.16 e Mateus 4.7).

“A Fé na Ressurreição”
Crer na ressurreição é uma premissa básica e fundamental da vida cristã. Se não crer em ressurreição do corpo, não há crença no evangelho. Logo, é vital para qualquer cristão considerar que este corpo é um templo provisório e que um dia será ressuscitado e glorificado juntamente com os eleitos de Deus.

“A Esperança no Porvir”
A Escritura também diz: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Coríntios 15.19). Deve-se aguardar a ressurreição final e se alegrar com a promessa da vida eterna. Ser cristão é compreender que a vida, por causa da morte e ressurreição de Cristo, não vai acabar aqui neste mundo que jaz no maligno.

O pastor Bruno também explica que nas Escrituras, Deus parece concordar com o sepultamento. “O próprio Senhor Deus parece concordar com o sepultamento, pelo menos isto está implícito neste texto de Deuteronômio: “Assim morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, conforme a Palavra do Senhor. E o sepultou num vale, na terra de Moabe, em frente de Bete-Peor; e ninguém soube até hoje o lugar de sua sepultura” (Dt 34:5-6).

Portanto, é discutido que o cristão até pode cremar o corpo, já que cremado ou enterrado, nada disso impede o arrebatamento do cristão se o seu coração não estiver em rebelião consciente com a promessa da Escritura; contudo, é muito mais recomendável que seja sepultado e que o corpo siga o destino natural, que é retornar ao pó. O sepultamento é uma prática cristã constante na Bíblia, pois ele simboliza a esperança na doutrina da ressurreição. Abraão foi sepultado, Sara, Raquel, Isaque, Jacó, João Batista e entre vários outros, o próprio Senhor Jesus.

Por Maycson Rodrigues e Milena Scheid
Foto: Pixabay