Comunhão, adoração e família: o que muda na rotina da igreja pós-pandemia?

 

A pandemia da Covid-19 impôs uma série de restrições às sociedades ao redor do mundo e trouxe impactos também à rotina da igreja. Sem os tradicionais encontros presenciais, as comunidades tiveram que se adaptar. Aquelas que tinham transmissões por redes sociais por ter, viram a real necessidade de reforçar o uso da tecnologia como ferramenta para permitir que a mensagem chegue a quem precisa. Já as que não usavam, passaram a usar e não dão indícios que delas vão abrir mão. A convite da Rádio Trans Mundial, pastores analisam as lições que ficam aos cristãos e à igreja pós pandemia.

Para Itamir Neves, apresentador do “Através da Bíblia” e “Entendendo a Bíblia”, na RTM, além de ser um dos pastores da Primeira Igreja Batista de Santo André, a igreja como um todo terá uma série de adaptações a enfrentar em seu retorno às atividades presenciais. “A gente precisa entender, antes de tudo, que Deus nos dá oportunidades de melhorar. Eu gosto muito de olhar por este ponto de vista. Neste primeiro momento, nós vamos ter uma série de adaptações. Os templos estarão mais vazios e não teremos abraços e beijos, tão comuns nos inícios e términos dos nossos encontros. Uma prática que, de modo algum, deve representar o fim do carinho e da comunhão entre irmãos, mas a preocupação que devemos ter com os protocolos de higiene e segurança”, comentou.

Outra coisa a receber a devida atenção é a realização de algumas celebrações. Igrejas menores adotam, por exemplo, aquelas bandejas para distribuição de elementos (pão e suco de uva) da Ceia. “Esta é uma prática que terá que ser revista também, afinal, a partir do momento que muitas pessoas tocam as bandejas, o risco de espalhar o vírus aumenta. É uma questão de zelo e respeito com a vida e com a igreja a adoção de alternativas que permitam a realização da Ceia e respeite as recomendações das autoridades”, disse.

Renato Marinoni, fundador do Instituto de Adoração, Cultura e Arte (IACA), apresentador do #Adoração, podcast gravado em parceria com a RTM, e pastor da Igreja Batista Metrópole (IBMetrô), lembra de outro impacto muito significativo às igrejas: a pandemia mostrou que a tecnologia chegou para ficar na realidade das comunidades. “Muitas igrejas não estavam investindo adequadamente em tecnologia (transmissão, redes sociais, Youtube etc.). Essas igrejas sofreram muito com a chegada da pandemia porque se viram completamente desprovidas de canais para alcançar o seu público. Neste caso, acho que o aprendizado ficou para todos nós que somos pastores, líderes e ministros. Mesmo com a possibilidade do retorno dos cultos presenciais, as igrejas devem investir em ferramentas e tecnologias porque este é um caminho sem volta para o tempo em que vivemos. É uma sociedade cada vez mais conectada. A grande questão é saber usar isso de forma sábia, teológica e biblicamente falando”, analisou.

Outro ponto ressaltado por Marinoni foi a volta às origens de alguns grupos de louvor. “Pode parecer paradoxal, mas não é. As equipes de louvor tiveram a oportunidade de voltar para as suas raízes. Vi, neste período de pandemia, muitas igrejas, inclusive dei consultoria a algumas no Brasil, que quiseram voltar a fazer louvor retrô. Desta forma, quiseram trazer de volta músicas cristãs que marcaram época e as nossas vidas. Isso trouxe um aspecto interessante no exercício da atividade de louvor, trazendo à tona a simplicidade, que ajudou a evidenciar o que é mais importante, que é a verdadeira adoração”, acrescentou.

Kléber Lima, apresentador do programa “Família Hoje”, psicólogo e líder do Ministério de Famílias da Igreja Batista de Cambuí, em Campinas, ressalta que o aprendizado para a família é que relacionamentos no modo automático tendem a esfriar. “O automatismo, no início, é uma necessidade. Cada um tem os seus horários e a sua rotina. Aí chegam as mudanças, como essas, provocadas pela pandemia. A partir disso, somos obrigados a reavaliar as nossas prioridades. Em um momento como este, devemos perguntar: o que é mais importante? O coletivo ‘nós’ deve ocupar o lugar do singular ‘eu’. Neste caso, como exemplo do desta mudança, chegamos à conclusão de que precisamos conversar mais, nos adaptar às novas realidades e remar juntos na mesma direção”, destacou.

Além disso, Lima propõe uma reflexão: se o período de quarentena acabasse hoje, voltaríamos a ser como éramos antes das nossas vidas mudarem por causa da Covid ou teríamos aprendido alguma lição por causa de todo o impacto que tivemos?

“Tivemos ganhos e aprendizado com tudo isso. Aprendemos a valorizar o tempo com a família e a reconhecer que em todo o tempo Deus é Deus. Esta é uma verdade inquestionável. Somos totalmente dependente dele. Tudo passa pela soberania do Senhor. Quando o comando de Deus é reconhecido, compreendido e desejado, eu deixo de ser um fã e passo a ser um cooperador de Deus. Saber da suficiência do Senhor basta para aquietar o meu coração e consolidar a minha confiança”, concluiu.

Por Lucas Meloni