Samuel Mariano concede entrevista exclusiva e fala sobre os desvios do meio evangélico e a criação do “artista gospel”
O pastor e cantor Samuel Mariano conquistou a simpatia dos irmãos da Catedral das Assembleias de Deus em Santa Cruz, com carisma e muita unção de Deus na ministração da Palavra de Deus e dos louvores “Adorarei”, “Um Homem, Um Tanque, Uma Cama”, “A Túnica”, “Depois do Culto”, entre outros hinos entoados no encerramento 15º aniversário de inauguração do Templo e 21º Congresso da CIBESC, na terça-feira, dia 8 de setembro. Após o culto, ele concedeu uma entrevista exclusiva ao REGIONAL e falou sobre os desvios do meio evangélico, a criação do “artista gospel”, e sobre as dificuldades enfrentadas pelos levitas que sobrevivem do ministério. Confira!
Quais seriam as características do “artista gospel” definido pelo senhor?
A febre desse tal de “artista gospel” é muito complicada, principalmente por que existem os dois lados da moeda. Se de um lado o cantor acha que Reino de Deus é cantar, por outro, ele acaba sendo usado pelo meio evangélico para atrair um público grande.
Então é o próprio meio evangélico que fabrica essas pessoas?
Sim, a culpa total da postura desses artistas gospel é da própria igreja. Você observa, principalmente nos jovens que até participam do culto de doutrina, que até vão adorar a Deus no templo, mas que faz uma bagunça tremenda gritando nos shows: “Oh fulano… cadê você, eu vim aqui só pra te ver!”. Eles copiaram a recepção dos artistas mundanos e trouxeram para cá. Eles não querem culto, eles querem uma cópia daquilo que eles veem lá fora. E aí se você entrar num show para pregar a verdade; ou você vai ser vaiado, ou vai ser o último show que alguém te contrata para fazer. Copiaram tanto o mundo, que eles já não se acostumam mais com o que é de fato culto. E o que eu acho pior nesses artistas é a falta de originalidade deles. Eles saem copiando uns aos outros. Tem que chamar o povo de galera, tem que mandar o povo tirar o pé do chão, a música parece que é uma coisa só. Não tem letra nenhuma, mas tem que ter um batidão para fazer o jovem sair do chão.
Então você é totalmente contra show gospel?
Tem gente que acha que eu sou um cara quadrado, mas eu não sou. Eu acho que os jovens podem, sim, pular. Mas eu penso que tudo o que a gente faz, tem que produzir resultado. Quando você termina de pular, nada aconteceu. Da mesma forma marchar, cair no chão… qual é o propósito disso? Tudo que é feito sem propósito é só um momento de emoção, nada mais. Eu até seria a favor dos shows gospel, se eles tivessem adoração, Palavra de Deus, apelo. Recentemente eu fui num evento com o Anderson Freire e fiquei encantado. O Anderson Freire está levando um culto para a rua, com direito a convite, choro e Palavra. Então é preciso a gente repensar nisso.
O que diferencia o verdadeiro levita de um artista gospel?
A diferença é que o glamour de um artista não corrompe um verdadeiro levita. Um levita consegue cantar com uma estrutura de show, mas um artista não consegue cantar em uma estrutura de evangelismo. Para o levita tudo está muito bom; o som está bom, o camarim está bom, a comida está boa. O artista exige um monte de coisa boba. O levita consegue subir, mas o artista não consegue descer. Se você colocar o artista para fazer uma cruzada evangelística, ele não vai. Mas se você colocar o levita no palco, ele vai dar um verdadeiro show. Ele prega a Palavra, atrai a atenção das pessoas, ganha almas para Jesus. Eu prefiro ser levita.
Geralmente o cachê dos cantores é bem maior que o dos pregadores, qual a sua opinião?
Eu acho injusto. Mas depende muito da estrutura de quem veio cantar, no meu caso eu levo 15 funcionários e preciso pagar esse pessoal. Eles sobrevivem do meu ministério. O pregador normalmente vai sozinho, no máximo com a esposa. Mas cada caso é um caso.
E essa coisa da tietagem, como você lida com isso?
As pessoas confundem humildade com simpatia. Se você não tirar foto com uma pessoa, você deixa de ser humilde. Para não criar problemas eu tento atender todo mundo. Mas quando a coisa fica exagerada, um monte de gente gritando, se rasgando… Eu entro no carro e vou embora. A maioria das pessoas que quer tirar foto com uma pessoa famosa é com intuito de ganhar curtidas no facebook, nada mais.
Esses dias eu estava comentando o caso de um cantor, que não vou citar o nome, em que eu estou começando a entender o lado dele. As pessoas não estão interessadas na sua pessoa, elas querem ser amigas do seu sucesso. Elas querem usar você para atrair uma plateia. E quem são essas pessoas? A própria igreja, os produtores de eventos, prefeituras. Essa rotina de shows vai criando uma frustração. Quando esse irmão percebeu que tinha sucesso, dinheiro e que não precisava do sistema evangélico, ele desabafou e acabou falando besteira. E o que aconteceu? Os crentes caíram em cima, os mesmos crentes que choravam com suas canções, que gritavam o nome dele. Aquela multidão que dizia crucifica foi a mesma que dizia Hosana. São casos a se pensar.