O JRE reuniu pessoas de opiniões diversas para explicar o uso da bebida alcoólica por evangélicos

Por Daniella Fernandes

Cristãos, e muitas vezes não cristãos, também têm o mesmo questionamento: “crente pode beber vinho, cerveja, cerveja sem álcool ou qualquer outro tipo de bebida alcoólica?”. Para ajudar a esclarecer essa questão, à luz da Palavra de Deus, o JRE elaborou esta matéria, que trata das dúvidas a respeito do uso da bebida alcoólica por evangélicos. O bispo Hermes Fernandes, da Igreja Reina, afirma que não há razões bíblicas que impeçam o cristão de ingerir bebidas alcoólicas. “O que a Bíblia adverte é quanto à embriaguez, assim como adverte quanto à glutonaria, mas ninguém deixa de comer por causa disso. Se a ingestão de álcool fosse pecado, Jesus teria sido inconivente, ao transformar a água em vinho, na festa de casamento em Caná da Galiléia João 2:1. Alguns dizem que o vinho usado na época era sem teor alcoólico. Se isso fosse verdade, por que Paulo advertiria aos que estavam se embriagando durante a ceia do Senhor (1 Co 11.21)?”, explica.

Não é de hoje que o uso do álcool divide opiniões e gera grandes debates no meio cristão. Segundo a obreira e líder da equipe do Real Missionário, do Projeto Vida Nova de Irajá, Fernanda Santos, mesmo a Bíblia não trazendo nenhuma proibição explícita quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, o uso pode ser pecado. “Pecado é tudo aquilo que nos afasta do Senhor ou tenta roubar o lugar d’Ele no nosso coração e o entristece. Além do mais, algo que pode trazer malefícios para a saúde do nosso corpo, que é templo do Espírito Santo, deve ser evitado”, adverte.

O casal de pastores Giuseppe Fiano e Dani Fiano, que moram na Itália e são líderes na Igreja Generazione Benedetta (Roma-Itália), contam que no país que eles moram é comum beber vinho nas refeições, é uma prática cultural gastronômica considerada normal e corriqueira. O pastor Giuseppe também ressalta que, mesmo não havendo restrição ou condenação explícita ao consumo de bebidas alcoólicas nas Escrituras, há uma clara exortação à moderação. Ele cita passagens da Bíblia para melhor explicar a questão. “Vemos em Provérbios 31.4-5 e 1 Timóteo 3.8 uma condenação à embriaguez, como vemos também em Efésios 5.18 e 1 Coríntios 6.10, isto é, o excesso, o abuso e a dependência. Podemos ver, por exemplo, que Paulo aconselhou Timóteo a beber um pouco de vinho para aliviar as dores e problemas estomacais em 1 Timóteo 5.23”, exemplifica. Giuseppe esclarece que na época que Jesus transformou a água em vinho não existia nenhum processo de pasteurização e que era impossível que se tratasse de bebida não fermentada, isto é, não era suco de uva. “Jesus deixou bem claro o processo de fermentação que ocorreria naquele período inicial quando falou sobre diferenças entre vinho novo e vinho velho e o estrago que o vinho novo causaria aos odres velhos (Lucas 5.37)”, diz.

Já que o primeiro milagre de Jesus foi transformar água em vinho, muitos usam essa passagem para justificar o uso do vinho no cardápio cristão. Mas a obreira Fernanda Santos afirma que existe todo um contexto sobre o uso do vinho nos tempos de Jesus, e que falando dos dias atuais, o vinho é uma bebida alcoólica assim como a cerveja. “Creio que isso depende de uma decisão pessoal. No capítulo 14 de Romanos, o apóstolo Paulo trata justamente desse tipo de situação, sobre os tipos de comida ou bebida que um cristão pode comer. Ele destaca que o importante é fazermos tudo com a segurança na nossa mente e para glorificar ao Senhor, porque o Reino de Deus é maior do que comida ou bebida. No versículo 22, ele ainda declara: ‘Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova’. Se o consumo de bebida alcoólica vai gerar mau testemunho, se está gerando problemas de vício ou de consciência para uma pessoa, creio que se torna pecado e deve ser evitado ou abandonado”, pondera.




E a cerveja sem álcool? E a cerveja preta?

A cerveja preta é conhecida por ter um baixo teor de álcool. A pastora Dani Fiano explica que já que não considera errado o uso moderado das bebidas alcoólicas, a decisão de beber ou não pode ser uma escolha e preferência pessoal ou uma questão de conhecer as próprias limitações.  A pastora ressalta que o organismo de algumas pessoas é mais sensível quando se trata de álcool; nesse caso, ela aconselha que se abstenha. Quanto à cerveja sem álcool, ela acredita que algumas pessoas, antes de se converterem, costumavam beber cerveja alcoólica, então por uma questão de consciência, de testemunho, para não escandalizar outros, ou até mesmo para facilitar a quebra da dependência, essas pessoas sintam necessidade de recorrer à cerveja sem álcool.

A respeito desses dois tipos de cervejas, o bispo Hermes diz que depende do gosto de cada um, que ele particularmente não gosta de nenhuma delas e que, além disso, o álcool não exerce nenhum poder atrativo sobre ele. Mas Hermes esclarece que isso não o faz condenar os que bebem eventualmente, sem se embriagarem. “O problema não é a bebida em si, mas o que ela pode causar quando em excesso. Beber numa roda de amigos pode prover o encorajamento para que a pessoa ultrapasse o limite e se embriague. Por isso, não recomendamos tal prática. Mas beber eventualmente, seja em casa, seja numa celebração, não há razão para se privar, a menos que a pessoa já tenha tido um histórico de alcoolismo e queira evitar uma recaída”, pontua o bispo.

O pastor Giuseppe ainda alerta sobre a questão do causar escândalo. “Não podemos usar da nossa liberdade para ferir a consciência daqueles que não conseguem entender. A Palavra de Deus nos exorta a não sermos cheios de vinho e sim do Espírito Santo, então é claro o perigo decorrente de uma vida sem autocontrole. Não existe nenhum texto que proíba o uso de bebidas alcoólicas, apenas recomendações para que não existam excessos e para que a nossa liberdade não se torne pedra de tropeço para os fracos na fé”, adverte. A obreira Fernanda Santos diz que, em Levítico 10.8-10, a Palavra de Deus proíbe os sacerdotes de beberem vinho e bebida fermentada.  “Além desse texto, a Palavra faz várias referências quantos aos riscos do consumo de bebida alcoólica. O livro de Provérbios, que são palavras de sabedoria, trazem diversos avisos e conselhos quanto a isso. Não bebo nenhum tipo de bebida alcoólica e isso nunca foi impedimento para estar entre amigos e para fazer qualquer coisa. Se o Senhor não for bem-vindo em um local, eu também não posso estar ali, independente do que será servido ou de que se fará no local”, testemunha.