Quem já foi abordado por pedintes nas ruas e se viu em uma dessas situações sabe que, muitas das vezes, não é tão fácil saber como agir
Por Daniella Fernandes
Ei, você tem uma moedinha? Tio, me dá dinheiro pra eu comer um lanche? Pode me ajudar a comprar remédio? Quem já foi abordado por pedintes nas ruas e se viu em uma dessas situações sabe que, muitas das vezes, não é tão fácil saber como agir. Em um país onde a má distribuição de renda e as diferenças sociais são gritantes, como podemos avaliar cada situação, história ou indivíduo que se encontra em estado de mendicância? Como nós, cristãos, devemos ajudar o outro sem alimentar um estado permanente de pobreza e miséria e sem nos tornarmos mantenedores do mundo do crime e das drogas?
Não são perguntas tão simples de se responderem. Os questionamentos vão além do ato de dar ou não esmolas; são questões sociais que nos levam a pensar sobre como e quando ajudar o outro. Segundo o apóstolo e deputado federal, Ezequiel Teixeira, a esmola é um ato de bondade e generosidade, mas dar ou não é uma questão muito pessoal, que decidimos de acordo com que está no nosso coração. Ele ainda ressalta a responsabilidade da igreja na diminuição da pobreza. “O problema da miséria é social, mundial e também espiritual, que verdadeiramente necessita de libertação. A igreja precisa cumprir o seu papel quanto ao que diz respeito à libertação e à parte social”, acrescenta o apóstolo.
Ações que promovem a reinserção social são a melhor solução e também a maneira mais correta de ajudar a quem está nas ruas mendigando, sem contribuir com a marginalidade e o mundo das drogas. Essa é a ideia que compartilha o pastor e coordenador de comunicação social da ONG Missão Evangélica Beneficente Grupo do Amor, Roberto Oliveira. “O pedinte tem de querer sair dessa vida de destruição. O melhor caminho seria por meio de uma instituição que possua toda uma estrutura para auxiliar e ajudar essas vidas que vivem nessa nem sempre por opção, mas porque foram levadas por alguma circunstância a esse ambiente de degradação. O melhor a acontecer é uma instituição tirar a pessoa da rua”, explica. O pastor ainda alerta que nem sempre é bom dar dinheiro, porque alguns podem fazer mau uso dele, mas diz que, quando ele se sente tocado a contribuir dessa forma, aproveita a ocasião para orar e falar das boas novas do evangelho da salvação.
Muitas pessoas se sentem incomodadas a dar esmolas em dinheiro e acabam por ajudar de outra forma. Algumas preferem, por exemplo, pagar um lanche, comprar um remédio ou até perguntar para que a pessoa quer o dinheiro, a fim de contribuir de fato com o que ela precisa, é o que explica a psicóloga Christina Sales: “Você pode estar intervindo de uma forma favorável na vida de uma pessoa dando o que ela necessita e não necessariamente o que ela quer. Ação social não se resume em você se compadecer da pessoa que está na rua pedindo algo, mas é entrar no universo dela e entender o que de fato o outro precisa.” A psicóloga salienta que não tem como generalizar as atitudes, pois cada um é um enquanto um ser social, cada um tem uma história, por isso a esmola, às vezes, pode ser válida quando o necessitado faz uso de um modo positivo, como um degrau para melhorar e criar novas perspectivas para que ele possa alçar algo melhor. Christina também lembra que há muitas pessoas que estagnam e que tiram proveito da esmola e acabam por “profissionalizar” a mendicância, por isso é preciso avaliar cada caso. “Podemos ser um supridor de uma necessidade, porém não um mantenedor da miséria e da marginalidade”, finaliza.
Recentemente um caso chamou a atenção dos brasileiros: o morador de rua, Marcelo Batista Santiago, de 39 anos, passou em primeiro lugar no concurso público para auxiliar de limpeza da empresa estadual Minas Gerais Administração e Serviços S.A. (MGS). Ele entrou na disputa com quase 12 mil candidatos por uma das 300 vagas. Marcelo mudou de vida quando conheceu a República Reviver. Ele estudava lá mesmo na biblioteca da república e conseguiu chegar em primeiro lugar no concurso. É por conta dessas e outras histórias que o pastor Roberto Oliveira ainda acredita na regeneração do ser humano. “Tem um ditado que diz que pau que nasce torto não se endireita, mas Jesus é tão maravilhoso que a especialidade d’Ele é a carpintaria. Ele faz uma obra-prima”, afirma.