Entretenimento e diversão são primordiais para a saúde física e mental
Por Daniella Fernandes
Desemprego, atraso nos salários e uma tremenda dificuldade de arcar com as despesas fixas do lar, quem dirá desprender uma parte desse dinheiro para o lazer. Essa é a realidade de muitas famílias cariocas diante da crise do País e do Estado do Rio de Janeiro. Diante das dificuldades financeiras, poucos se dão conta de quanto o entretenimento e a diversão são primordiais para a saúde física e mental do ser humano. A psicóloga Cláudia Melo fala sobre a importância do lazer na vida das pessoas: “O lazer promove saúde e bem-estar, trazendo uma leveza, uma liberdade, uma ausência de preocupação do não fazer nada. Esse tempo livre que nomeamos de lazer gera energia e criatividade para os desafios do dia a dia”, explica. A psicóloga ainda pontua que a ausência de ‘sair para se divertir’ e ‘arejar a mente’ pode causar estresse metal, físico e psicológico, mau humor e intolerância. “Esse são alguns dos sinais e sintomas quando não respeitamos esse tempo de lazer e descanso. Logo, deixamos de liberar hormônios como: endorfina, serotonina, dopamina e outros”, diz.
Férias escolares, crianças e adolescentes em casa. Será que é possível planejar passeios e se divertir sem dinheiro? Como a família pode sair gastando pouco ou quase nada? A economista Fernanda Miranda, que também é professora universitária e professora de educação profissional, afirma que o segredo é planejamento. Ela conta que é carioca e sempre utilizou a política do lazer de baixo custo ou gratuito, o famoso ‘0800’. “No passado sabíamos muito pouco sobre lugares e opções de lazer. Hoje, a internet nos possibilita saber tudo antes de irmos vivenciar o lazer. Um bom planejamento possibilita a qualquer pessoa ou família aproveitar a vida com lazer. Fica mais fácil de alocar o lazer no planejamento financeiro da família. Recomendo buscar informações na internet de locais de diversão ‘0800’. Hoje é fácil obter essa informação”, afirma. A economista explica que passeio não quer dizer gasto, que geralmente as pessoas sempre associam seus atos ao consumo, com um pensamento equivocado de que se não consumiu, não se divertiu.
A economisita Fernanda orienta a família conhecer locais gratuitos próximos à residência e, à medida que as finanças forem melhorando, novos locais podem ser inseridos no programa familiar. “É possível fazer um programa gastando somente com o deslocamento, pois a alimentação pode ser levada de casa ou até optar por opções mais baratas de alimentação no local da diversão. É importante que toda a família compreenda o período de crise. Em relação à programação das férias, em tempos de crises, recomendo fazer um passeio por semana”, aconselha. Fernanda ainda pontua que há lazer fora dos shoppings e que opções culturais e ecológicas são geralmente de graça. “Crianças, adolescentes e adultos curtem ter histórias para contar e postar (época do eu fui e postei. E você? Curtiu e comentou?). Logo, por exemplo, podemos fazer uma trilha ecológica e ser feliz na escolha do que ir ao shopping, ficar só olhando vitrines e nos martirizando com a falta de possibilidade de consumo”, explica.
Na falta de dinheiro para passear, o que só não pode faltar são boas ideias para alegrar e divertir toda a família. A psicóloga Cláudia Melo incentiva as pessoas a usarem a criatividade e diz que o dinheiro é só um elemento que usamos na falta de outras coisas. “É claro que só temos criatividade quando existem interesse e motivação de estar juntos em família. Existem muitas possibilidades de aproveitar o tempo em família: fazer uma sessão de cinema em casa, jogos, ir ao parque ou praia com o lanche na bolsa para evitar maiores despesas, fazer trilhas, etc.”, diz.
Falta de dinheiro e a união familiar
A dificuldade financeira pode se tornar um problema maior ainda quando a família não é unida e perde o equilíbrio emocional em meio à crise. De acordo com a psicóloga Cláudia Melo, a família precisa ter bases fortes e profundas para lidar com momentos de necessidade. “Manter o equilíbrio é olhar para cada um desse familiar e enxergar um amigo, um aliado, saber que pode contar com ele. O desequilíbrio vem quando eles percebem que não formaram vínculos e se sentem sozinhos diante desse desafio que é viver”, explica. A psicóloga ainda diz que muitas famílias não se sentem confortáveis para falar sobre dinheiro, porque nunca sentaram para falar sobre as despesas da casa, e afirma a importância de tratar esse assunto em família. “Vejo que é possível trazer esse assunto para a realidade da família. É claro que a abordagem e linguagem mudam, dependendo da idade dos filhos. A mesa sempre será o lugar de afeto e comunicação. Acho interessante falar sobre a renda da família, e a partir desse assunto colocar as dificuldades para manter as despesas da casa. Coloque as contas na mesa, e dê a oportunidade de os seus filhos criarem meios e estratégias para lidarem com as despesas. No futuro eles irão lhe agradecer”, propõe.
A economista Fernanda Miranda também reforça a importância da união familiar e diz que a cumplicidade da família ajuda a superar dois momentos, que ela chama de SD (sem dinheiro) e SP (sem perspectivas). Ela afirma que nesses períodos de crise é preciso muito amor para lidar com as outras carências. “Esse amor deve ser alimentado com a fé em dias melhores. Isolar-se ou não interagir com o ambiente nos faz incapazes de compreender que a vida é um dia por vez, que tudo passa. O que sustenta uma família não é o dinheiro e sim as mãos que se unem e não a deixam cair nas dificuldades, ou seja, a generosidade do viver”, finaliza.