O cristão pode ficar trocando de congregação?
Por Daniella Fernandes
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Assembleias, Metodistas, Batistas, Presbiterianas, Congregacionais, etc. É uma lista de infinitas igrejas e denominações existentes em todo o território brasileiro. São tantas opções, com estilos e doutrinas variados, que alguns cristãos se sentem perdidos na hora de escolher um local para congregar e, de tempos em tempos, acabam trocando de igreja, muitas vezes alegando falta de afinidade com a doutrina local ou por outras questões pessoais. O vice-presidente da Catedral das Assembleias de Deus em Santa Cruz (CADESC), pastor Adriano Teixeira, explica que existe todo um contexto histórico para o surgimento das diversas denominações da atualidade: “Talvez o surgimento esteja completamente ligado à reforma protestante, saindo da Igreja Católica as principais ramificações denominacionais. Dentro delas jamais podem ser ofendidos os princípios basilares da fé em Cristo Jesus, mas as visões doutrinárias e ênfases podem ser divergentes em determinados tópicos, gerando confusão nos cristãos, que frequentam de forma aleatória os templos evangélicos”, diz. O pastor ainda ressalta que não é adequado ficar mudando de igreja, que o cristão que tem essa prática constante é alguém que não tem raízes em Jesus. Ele ainda classifica como um hábito imaturo, que enfraquece a vida espiritual e que é muito característico da pessoa que não tem paciência de aprender os pilares da fé e tem pouca vontade de mudar a si mesma.
De acordo com o pastor da Igreja Metodista em Bacia de Anchieta, Wallace de Moraes, quando um membro migra para uma outra igreja, significa que ele não está satisfeito com ela. “Ovelha nutrida não procura outros pastos. As pessoas, quase em geral, não procuram igrejas por causa da denominação. Normalmente, atendem a um convite e, quando amadas e respeitadas, observam que o lugar é propício para ela e para seus familiares”, compartilha. O pastor afirma que não é adequado ficar trocando de igreja ou denominação, mas aconselha os pastores a identificarem nos membros essa debilidade, que pode ser oriunda de outros problemas: “Faz-se necessário, por parte do pastor, identificar no histórico da criação da pessoa traumas que podem ter desconstruído os valores que nos fazem enfrentarmos os ventos impetuosos sem abandonarmos o barco. Isso reflete na igreja, no trabalho, na vida conjugal e até nos relacionamentos com amigos. Pessoas que, ao primeiro sinal de conflito, procuram um lugar para se abrigar, não sabem que as melhores escolas estão no deserto da vida. Igreja é uma bênção, quando tem bolo e quando tem osso”, garante o pastor.
Viver em comunidade é algo complicado e, para algumas pessoas, pode ser até assustador, é o que explica o pastor Adriano Teixeira. Ele diz que, para ingressar em uma comunidade cristã, é preciso entender que todos estão em processo de aprimoramento espiritual e que trocar de igreja é o mesmo que trocar de comunidade, mas não é garantia de viver em plena paz. “Para vivermos bem dentro dessa comunidade devemos nos adequar, para, além de ajudarmos a nós mesmos, termos a capacidade de ajudar os demais”, orienta. Adriano também chama a atenção para a mudança de igreja por conta da doutrina, como, por exemplo, se é ou não liberado o uso de maquiagem, ou se o coque é obrigatório, etc. O pastor considera que são motivos frívolos.
Alguns cristãos possuem o hábito de fazer visitas constantes a outras igrejas. O pastor Adriano não vê problema nisso, mas aponta que as visitas constantes podem trazer embaraços em determinados aspectos doutrinários e é preciso cautela. “Vivemos em um mundo muito acelerado, de respostas rápidas e imediatistas. Com isso, percebemos cristãos membros da denominação ‘X’ frequentando denominação ‘Y’ por fatores variados, como: campanhas de oração, por causa de um pastor muito conhecido que, semanalmente, ministra nessa igreja; porque determinado cantor gospel é membro ou pastor dessa igreja. Tudo isso para receber sua bênção mais depressa e até mesmo por conveniência. O limite se encontra aí, quando os milagres de Jesus se tornam mais importantes do que o Jesus do milagre. Sinceramente, não vejo pessoas visitando outras denominações em reuniões de ensino, trabalhos de oração ou evangelismo”, questiona.
Mudança pastoral, pastor de igreja em igreja?
Existem algumas denominações que ocasionalmente mudam a liderança pastoral, é o caso da Igreja Metodista em Bacia de Anchieta, do pastor Wallace de Moraes, que, de dois em dois anos, pode mudar a liderança. Mas, apesar disso, o pastor Wallace já está há oito anos na mesma igreja. Ele diz que essa mudança parece desfavorável para a igreja, mas nem sempre é assim. “Quando a igreja e pastor não falam a mesma língua, a itinerância pastoral é um presente para ambos, pois é dada a oportunidade de se encontrar afinidade em outro ministro, e este, em outra igreja. Concordo com as mudanças, quando se leva em consideração o desejo do pastor, bem como o da igreja em que ele está pastoreando. Se ambos estão satisfeitos e o trabalho rendendo bons resultados, para o Reino de Deus e não para o pastor, deve-se podar para que produza mais ainda”, explica.
Segundo o pastor Wallace, é preciso pensar que o pastor não é dono das ovelhas, como também não é dono da igreja e ele deve ir aonde o Espírito Santo lhe conduzir. “O Pastor é o mensageiro da igreja, através do qual o povo recebe a Palavra revelada. Para onde Deus o mandar, ele deve servir com entusiasmo. Não deve se apegar a coisas ou a pessoas. Deve ser como folha ao vento, soprada pelo Espírito. E quando vai pelo vento do Espírito, renova suas forças, seus sermões, seus relacionamentos, seus estudos e vivencia outras culturas e renova sua motivação”, encoraja.