Até pessoas extremamente morais, “certinhas”, podem afastar bons amigos porque sempre se colocam em uma posição de superioridade moral.
O que é melhor? Tomar um café na metade de um copo com praticamente a mesma quantidade de açúcar ou tomar o mesmo café, na metade de um copo, sem açúcar algum (partindo do pressuposto que você não gosta de café sem açúcar)? Creio que sua resposta será: “o meio-termo”. E isso faz todo o sentido! Pois, a maioria das pessoas poderá verificar que um consumidor de café com açúcar necessariamente carece do necessário de açúcar para que a experiência de consumo seja satisfatória. Muito açúcar é intragável, tanto quanto açúcar algum, neste caso.
Não é muito diferente no modo como se relaciona com as pessoas. Uma pessoa exagerada é tão desagradável quanto uma pessoa extremamente insociável. Você não quer ao seu lado alguém que arrume confusão por onde passa, mas também não quer ao seu lado alguém que não esteja pronto a te ajudar numa situação de apuros. Quando falamos de amizades, o que se espera é ter sempre por perto aquelas pessoas que não são falsas, bem como não se abrem a dividir um pouco da vida; acredito que você até queira mesmo ao seu lado gente que se perceba imperfeita, mas que seja minimamente capaz de te trazer algo que melhore quem você é.
Os extremos fazem mal porque estão muito distantes da possibilidade de mudanças. Quem fixa uma ideia na cabeça e não se abre mais a ser possivelmente corrigido, não se torna uma boa pessoa para se conviver. Estar com qualquer pessoa é fácil; difícil é “ser” com qualquer um.
E é por isso que passa a ser de suma importância que você escolha bem os seus melhores amigos principalmente partindo do pressuposto de que você é o melhor amigo possível para alguém, o que vai requerer de você uma melhor administração da própria vida, incluindo o modo de pensar, falar e, principalmente, agir.
Se você é como um café lotado de açúcar para alguém, o resultado será o afastamento, porque ninguém quer doçura demais. Porém, se você é como um café sem açúcar para alguém que não gosta de café sem açúcar, o resultado será o mesmo (afastamento), porque ninguém suporta uma pessoa amarga por muito tempo. Até pessoas extremamente morais, “certinhas”, podem afastar bons amigos porque sempre se colocam em uma posição de superioridade moral.
O melhor caminho é o equilíbrio. Nem muito extrovertido, nem muito introvertido. Sabendo o momento de opinar, e o momento de ficar em silêncio. As pessoas mais procuradas para uma boa amizade são aquelas que se permitem serem corrigidas, porque não fazem a menor questão de ter sempre a razão sobre tudo. São pessoas reais, humanas de verdade, que erram e acertam, mas estão sempre prontas a aprender e crescer ao seu lado. Gente assim é mais rara que o ouro, e deve ser sim muito valorizada.
A Bíblia tem um provérbio que diz: “como o ferro com o ferro se aguça, assim o homem afia o rosto do seu amigo” (Provérbios 27:17); ou seja, uma pessoa que não é extremista no sentido relacional do termo é aquela pessoa que não é indiferente como uma esponja, que toca um material feito de aço sem muitos efeitos práticos, mas também não é barra de titânio, que, quando toca o aço, o amassa, quando não o destrói. Você precisa ser como um ferro que afia o ferro, e ter ao seu lado pessoas assim. Parece uma busca inglória, entretanto, é uma busca por sobrevivência emocional e relacional. E acredite: todos precisam de amigos e amigos que não estejam em nenhum dos extremos da vida.
Foto de Marcelo Moreira no Pexels