Especialista afirma que a maioria das pessoas não sabe exatamente quanto recebe e quanto gasta, o que é um problema
Por Daniella Fernandes
danyyfernandys@hotmail.com
Aumento. Essa foi a palavra que mais se ouviu em 2015. Foi um pacote de notícias negativas na economia brasileira: altas taxas de juros; inflação nas alturas, que chegou a dois dígitos; o real desvalorizado, que ficou em 2ª lugar como a moeda mais desvalorizada no ranking de 27 países, entre outras coisas que deixaram os brasileiros preocupados e de cabelo em pé. Além da crise econômica que abalou o País, a crise política e o cenário de incertezas afastaram também investidores. Economistas e especialistas preveem que 2016 será um ano de mais dificuldades, com encolhimento da economia e com queda no Produto Interno Bruto (PIB), que pode gerar mais desempregos e diminuição da renda. O Jornal Regional Evangélico elaborou essa matéria com dicas de como administrar e equilibrar as contas no ano novo, mesmo diante de tantas incertezas políticas e econômicas.
A economista e mestre em gestão e estratégia em negócios, Fernanda Miranda, explica que, em tempo de instabilidade econômica, incertezas ou crises, o fundamental é rever o planejamento financeiro familiar e adaptá-lo à nova realidade econômica. “A revisão do planejamento financeiro familiar deve ser feita de maneira tal que a família não tenha perdas bruscas no seu dia a dia. Ninguém gosta de perdas. Mas para que se façam mudanças, algumas perdas são necessárias. Temos de ter consciência de que a diminuição de uma despesa ou exclusão de uma despesa do orçamento familiar deve ser avaliada para que essa escolha não cause mais problemas e, futuramente, mais gastos. Em tempos de incertezas, a união e o diálogo da família devem ser vitais, para que impactos sejam minimizados”, aconselha.
Mas, afinal, o que é orçamento familiar? A economista esclarece que é o levantamento das receitas (o que se recebe) e as despesas (o que se gasta) da família que permite assim traçar estratégias para que os objetivos sejam alcançados e se tenha uma vida financeira saudável. Ela afirma que a maioria das pessoas não sabe exatamente quanto recebe e quanto gasta, o que é um problema. “Recomenda-se anotar tudo que se gasta diariamente para se ter a noção para onde está indo o dinheiro. É um exercício necessário à elaboração de um orçamento fidedigno. Quanto mais detalhamento das receitas e despesas, melhor se tornam o controle das finanças e o cumprimento dos objetivos. Só podemos administrar o que podemos medir. Logo, precisamos conhecer nossa realidade (receitas, despesas e objetivos de vida) para que tenhamos condições de saber fazer boas escolhas”, afirma.
De acordo com o pastor da Igreja Batista Nova Filadélfia em Bangu, Admilson Lemos, mais conhecido como pastor Lemos, um verdadeiro cristão deve exalar o bom perfume de Cristo, e não há nada que possa “cheirar tão mal” quando um servo de Deus é apontado por ser uma pessoa sem honra e sem compromisso. O pastor diz que é preciso planejar o orçamento dentro da realidade em que se vive, independentemente de período de crise ou de prosperidade do País. “Alguns irmãos pregam que, em Cristo, não há crise. Essa afirmação estaria plenamente correta se todos os preceitos bíblicos fossem rigorosamente seguidos, com a sabedoria e prudência que a Palavra nos ensina. A forma de administrar as contas pessoais não diverge entre crentes ou ímpios. Planejar o orçamento, cortando supérfluos, e aplicar corretamente os recursos em bens e serviços realmente necessários já podem proporcionar uma gestão adequada e um equilíbrio necessário no orçamento”, pondera.
Estou no “vermelho”, e agora?
Pensando em uma pessoa que já está com dívidas e no cheque especial, será que é mais vantagem recorrer a um empréstimo para quitar as contas? Segundo a economista Fernanda Miranda, o recomendado é, primeiro, tentar negociar com os credores um parcelamento da dívida, isto é, um acordo de pagamento das dívidas. Caso esse acordo não seja possível, deverá recorrer a um empréstimo, mas é muito importante avaliar a taxa de juros e o prazo do empréstimo. “Lembre-se de que, ao fazer o empréstimo, a dívida não acabou, foi apenas parcelada, e você terá mais uma despesa no seu orçamento. Logo, é vital que o planejamento financeiro familiar seja reavaliado”, recomenda.
Algumas pessoas, quando estão “afogadas” em dívidas, acabam por optar em usar o cartão de crédito para complementar a renda. A economista explica que o uso do cartão de crédito e compras parceladas são até válidos, desde que o pagamento da fatura do cartão de crédito seja feito de forma integral e as dívidas parceladas sejam honradas pontualmente. “O que percebemos é que, em alguns casos, o cartão de crédito e compras parceladas são usados como outra forma de renda. Isso não pode acontecer. É lamentável que muitas famílias tenham esse hábito. Esse hábito gera um desequilíbrio constante nos orçamentos familiares, é um hábito nocivo que deve ser eliminado”, diz.
O pastor Lemos ressalta que não é algo “diabólico” o cristão tomar crédito no mercado. Mas a pergunta que deve ser feita sempre é: “Meu orçamento comporta esse compromisso?” Alguns crentes acabam contraindo dívidas por fé, acreditam que poderão pagar, mas, na realidade, o orçamento não comporta as contas. O pastor cita Eclesiastes capítulos 1 e 2 que relata que tudo o que os olhos dos homens viram e desejaram era vaidade. Segundo o pastor, usar a fé para contrair dívidas é negar os ensinamentos da Palavra do Senhor. “Ter um automóvel hoje, por exemplo, é uma necessidade para a maioria das pessoas. Mas comprometer, 12, 24, 36, 48 e, algumas vezes, até 60 meses, comprimindo o orçamento para se obter um modelo de última geração, seria uma necessidade ou uma ostentação?”, questiona.
Segundo a economista Fernanda Miranda, o segredo para o equilíbrio das contas é fugir do consumo motivado por desejo e não por necessidade. “O planejamento e o controle são fundamentais. O ideal é gastar menos que recebemos e pensar sempre no longo prazo. O desejável é destinar 10% do salário bruto para uma poupança. Podemos tudo, mas tudo no seu tempo. Uma dica que dou é colocar um papel lembrete na carteira de dinheiro, contendo a seguinte frase: ‘tenho necessidade?’. Precisamos fazer escolhas conscientes. E um simples lembrete pode fazê-lo refletir sobre a real necessidade do gasto. O consumo deve ser sempre feito por necessidade, não por desejo e nem por impulso. O desequilíbrio financeiro é muito prejudicial à saúde física e mental”, afirma. O pastor Lemos também pontua que guardar dinheiro significa ser zeloso e prudente e quem desperdiça recursos de maneira insana não vai nunca ter uma vida equilibrada.