Com que objetivo as igrejas usam objetos e símbolos ungidos nos cultos?
Por Daniella Fernandes
Rosa ungida, lenço ungido, sabonete ungido, vassoura ungida, água ungida, o próprio óleo ungido, e por aí vai. É uma lista de infinitos objetos utilizados por algumas igrejas para despertarem a fé do povo cristão. Algumas denominações chamam de “ponto de contato”, outras de “ato profético”. Muitos evangélicos já levaram para casa algum “objeto ungido” que foi orado e consagrado a Deus durante um culto ou um ato profético na igreja. Existem correntes que se posicionam a favor e outras contra. O pastor da Igreja Evangélica Pentecostal o Brasil para Cristo, em Campo Grande-RJ, Elissandro Parreiras, afirma que não existe óleo ungido, mas sim óleo para ungir, como está em Tiago 5.14: “Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da igreja, para que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor”. Porém, o pastor é contra a distribuição de rosa, sal, tijolo e tantos outros objetos classificados como consagrados para geração de milagres e maravilhas. De acordo com Elissandro, há igrejas que se utilizam da ignorância e da generosidade do povo, fazem mercantilismo e prática de indulgências copiando o fim da Idade Média europeia.
O bispo interdenominacional da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Inaldo Silva, que prega o evangelho de Cristo em outras igrejas fora da IURD, explica que o principal foco dos “objetos ungidos” é evangelístico. “O povo brasileiro é muito místico. Quando falamos que vamos dar uma rosa, o sal, a multidão vem pegar e dentro da igreja é evangelizada e ouve falar que só Jesus cura e liberta. Usamos isso como um ponto de contato para que as pessoas possam vir e sejam impactadas pelo poder de Deus. É uma coisa mística para trazer as pessoas que são místicas. De alguma forma nós temos de evangelizar, de alguma forma temos de trazer as pessoas para dentro da igreja. Tem pessoas que não vêm para a igreja se você falar que Jesus é amor. O foco é evangelístico para pessoas não cristãs e de outras religiões. Pessoas que não conhecem Jesus”, diz.
Algumas lideranças cristãs acabam copiando atos proféticos ou formas de cultuar de outras igrejas em ocasiões em que pessoas foram curadas e abençoadas por conta da fé. “Creio que iniciativas direcionadas por Deus não são modismos, quando alguém está baseado em Deus e em experiências, seja de patriarcas, seja de profetas, mas não significa ter que reproduzi-las. Em cada um Deus age de forma inédita. Deus deve ser buscado pelo que é! Nenhum símbolo é maior que Deus e muito menos banaliza o significado da fé”, afirma o pastor Elissandro Parreiras. O bispo Inaldo também explica que existem várias denominações, todas com divergências na forma de cultuar, mas que Deus usa cada uma de acordo com que elas creem, de uma forma muito particular e peculiar.
Há um equívoco que pode ocorrer quando se faz uso de algum símbolo ou “objeto abençoado” para obter libertação, cura, bênção ou prosperidade, chama-se: idolatria. É preciso tomar cuidado para não fazer do objeto um amuleto da sorte, esquecendo-se de colocar a fé em Deus. Segundo o pastor Elissandro Parreiras, o ser humano não sabe lidar com o abstrato, só consegue lidar com o que julga ser concreto, mesmo que a fé seja o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem (Hebreus 11.1). “Idolatram tudo se deixar: salmo 91, lideranças, anjos etc.”, ressalta. O bispo da IURD conta que, na Igreja Universal as pessoas são orientadas a entender que aquele objeto é só um ponto de contato e que não dura para sempre, que é só uma maneira de gerar fé. “Jesus cuspiu no chão, fez lama e curou a vista do cego, já com o outro disse: ‘a sua fé te curou’. Tudo tem suas formas. Os apóstolos que não podiam estar em todos os lugares davam um pedaço de manto do seu avental e onde passava os doentes eram curados, e por aí vai. O principal objetivo não é trazer dúvidas, porque quem está de fora pensa: ‘esses caras ficam dando fita, rosa, ficam falando do sal ungido’. Quem está fora não entende a liturgia dentro da igreja como um ponto de contato para despertar a fé das pessoas. A fé, uma vez despertada, gera milagres”, salienta.
Algumas denominações são criticadas por fazerem coisas diferentes do uso habitual e da liturgia considerada como a correta. O pastor Elissandro diz que, quando se usa artifícios no culto, se deixou a Bíblia de lado, que todo texto sem contexto é um pretexto para a heresia. O bispo Inaldo Silva reforça que para cada tipo de “peixe tem uma isca” e que sempre haverá divergências de ideais nas diferentes denominações: “Tem ministérios, por exemplo, que vão para a escola de samba no carnaval para evangelizar. Eu vou achar ruim porque eles estão evangelizando? Mas quantos são os que divergem disso? Eles estão ali pagando o preço. A gente sempre vai encontrar respaldo para ser contra e respaldo para ser a favor. A rosa passa, não vai sustentar a pessoa; óleo ungido passa, tem hora que vai ser ungido e não vai ser curado, mas o que permanece para a toda vida é a Palavra. Essa é a sustentação. A orientação é dizer que Jesus é tudo. Os líderes que trabalham com atos proféticos precisam entender que o que vai sustentar as pessoas em Jesus é a Palavra”, finaliza.