“Até a criança mostra o que é por suas ações; o seu procedimento revelará se ela é pura e justa.” Provérbios 20.11
O versículo acima deixa bem claro que não só adultos, mas mesmo as crianças podem nos dar dicas sobre o que se passa no seu interior – sentimentos, vontades, emoções – através das suas ações, do seu comportamento. Mãe de cabelo em pé: isso é o que acontece quando uma mãe se depara com comportamentos nada satisfatórios de seus filhos menores. Citei a mãe por ser uma figura mais ligada à criança, mas poderia ser o pai, professores ou tutores. Todo mau comportamento de uma criança deverá ser questionado e analisado pelos seus cuidadores. Entender o motivo das más ações poderá reduzir o estresse de todos, inclusive da criança. Buscar ajuda de um profissional talvez seja o primeiro passo mais importante para se descartar possíveis patologias, as quais podem afetar o aspecto comportamental da criança.
É de conhecimento geral que, mesmo no útero da mãe, um bebê pode assustar-se; pode, ao reconhecer a voz do pai ou da mãe, interagir fazendo um movimento, por exemplo. Há até um relato bíblico nesse sentido: “Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê agitou-se em seu ventre […] Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, o bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria.” Lucas 1.41-44. Se, no útero, já respondem aos estímulos bons e maus, quanto mais mostrarão seus sentimentos cá fora, no mundo. Os professores da faixa etária 3-10 (e não só, mas esta faixa é o nosso foco), deparam-se, diariamente com situações de conflito em sala de aula, seja entre os próprios alunos, seja entre eles (professores) e alunos. Não são poucas as vezes em que os professores perdem, pois, ao levar o caso para os pais ou responsáveis, estes culpam a falta de preparo dos profissionais.
No contexto eclesiástico, o assunto pode ficar um pouco pior, pois os envolvidos são os irmãos na fé e não os profissionais. Uma criança pode ser rotulada de “bagunceira” porque corre entre os corredores da igreja; de “conversadeira” porque fala muito durante o culto infantil, ou de “má” porque não quis dividir o biscoito, ou ainda, em casos mais extremos, serem rotuladas de “rebeldes” por serem agressivas ao interagirem com outras crianças. Todos esses exemplos, certamente, poderão gerar tristeza, desapontamento ou mesmo ira nos pais desse menino ou menina.
Pensando agora na criança, esses “rótulos” só irão reforçar o seu mau comportamento. Inconscientemente ela irá assumir de vez o papel que lhe atribuíram, pois ainda não sabe quem é; a sua personalidade ainda está sendo formada. Portanto, se alguém diz a ela frequentemente: “você é mesmo teimosa! Papai do céu não gosta disso!” – a primeira frase fará com que ela acredite que nunca poderá ser contrariada; a segunda, certamente, fará com que leve tempo para entender e aceitar o amor de Deus por ela, pois sabe que é teimosa. Outro rótulo comum é: “Você é muito preguiçoso!” E ainda citam Provérbios 6.6 “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso.” Na maioria das vezes, os pais são os maiores responsáveis pela preguiça da criança. Isso acontece quando lhe dão tudo à mão ou ainda quando criticam por terem tido alguma iniciativa que não correu lá muito bem.
Deborah Moss, neuropsicóloga, especialista em comportamento infantil e mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela USP (Universidade de São Paulo), explica que um determinado comportamento da criança não define quem ela é. “Um comportamento é um estado, um momento, é algo pontual. Não é, de modo algum, a definição da própria criança”
Entretanto, os rótulos poderão ser até simpáticos, como por exemplo: “Você é muito aplicado; com certeza Jesus está feliz!” “Com essa inteligência, você vai longe!”. Não se enganem! Esses comentários, quando são muito frequentes, também não fazem um bom serviço. A criança tenderá a ficar fechada dentro das expectativas que os adultos têm em relação a ela. Vai sofrer por ter de provar que é aquilo que os outros pensam dela. Tudo deve ser feito com moderação. Em Eclesiastes 7.16-18 nos é aconselhado a não sermos demasiadamente nada. A isto damos o nome de equilíbrio.
A comunidade Evangélica gosta de usar o termo “profetizar sobre a vida dos filhos”. Será que isso funciona? Claro que sim! A palavra de Deus nos ensina a fazer isso. Podemos falar sem medo: “Filho, filha, você é um presente de Deus; uma verdadeira bênção!” (Em conformidade com Salmos 127.3); “Meus filhos, vocês serão discípulos do Senhor”, Isaías 54.13. Até a ciência comprova isso. Na psicologia, é chamada de profecia autorrealizadora. Deus, o doador de toda a sabedoria, fez com que o Seu ensinamento fosse comprovado cientificamente. Quando pais e mães se deparam com situações complicadas de comportamento de seus filhos, a primeira reação é corrigi-los. É correto; é normal; é bíblico: “Quem não corrige o filho não o ama. Quem ama o filho corrige-o enquanto é tempo.” (Provérbios 13.24). Entretanto, a frequência de um determinado comportamento da criança, mesmo que pareça normal, seja ele prejudicial aos outros ou não, sempre deverá ser observado e acompanhado. Quanto mais cedo ocorrer uma intervenção, seja ela feita pelos pais ou tutores, seja por profissionais da saúde, mais rápida será a resposta positiva.
Portanto, para a saúde e bem-estar da própria criança, da família e da comunidade em que ela, a criança, está inserida, há de se ter muita atenção, respeito, cuidado, mas, principalmente, amor. Essa criança poderá estar sofrendo; ela não sabe por que age desta ou daquela maneira. Os pais também sofrem, sabendo ou não se sua criança tem alguma patologia, portanto, também não devem ser julgados, mas sim ajudados pela sua família na fé. Dessa forma, a Igreja de Cristo estará agindo em cumprimento ao ensino deixado pelo Apóstolo João: “Meus filhinhos, o nosso amor não deve ser somente de palavras e de conversa. Deve ser um amor verdadeiro, que se mostra por meio de ações”, I João 3.18.
Por Priscila Brisolla Iaralha
Professora licenciada em Letras, teóloga, escritora, professora e diretora do CeM (Centro de Missões – Porto – Portugal)
Escritora do Blogue: avodaolivia.com
Parabéns, Priscila Iaralha. Que texto maravilhoso! Sua sensibilidade nos conduz a muitas reflexões. Obrigada ao Regional por esta iniciativa.
Muito obrigada, professora Edna! Sua opinião é muitíssimo importante.
Amei o texto, Priscila. Parabéns pelo conteúdo.
Muito Obrigada, Ester!
Lindo texto irmãzinha ! Parabéns
Muito obrigada, mana! Você faz parte de tudo isso!
Parabéns Priscila pela condução do tema, que sabemos inqualificável complexo é, onde no mundo atual todas crianças que apresentam tais comportamentos, dados como fora da “normalidade”, são taxadas de nomes como hiperativo, TDAH, umas tomam remédios ditos “calmantes” sem a necessária condução e apoio de todas as partes envolvidas, sem culpados mas sim agentes. E para fechar, nos trouxe o embasamento na Palavra, criança GOSTA e NECESSITA de limites, isso sim é amor! Muito bom o artigo.
É verdade, Cristiane! Seu comentário só enriqueceu o texto. Muito obrigada!
Parabéns Priscila. Texto extraordinário. Que pais e professores que venham a ter acesso a este artigo mui esclarecedor e que coloquem em prática. Muito bom!
Muito obrigada, Dayse! Esse é o meu desejo também: que seja bênção para muitos.