Pastor Abner Ferreira fala sobre a importância em despertar o senso global das responsabilidades políticas

Por Monique Suriano
moniquesuriano@yahoo.com.br

A principal arma dos cidadãos no regime democrático é o voto. É através dele que cada cidadão participa dos destinos de sua cidade, estado e nação. Conforme registrado na Constituição Brasileira, “todo poder emana do povo e que em seu nome é exercido”. Portanto, como dizem os sociólogos, “todo povo tem o governo que merece”. Valendo-se do período eleitoral e tendo em vista que o cristão precisa exercer sua cidadania na construção de uma sociedade justa e solidária, foi que o JRE entrevistou um dos maiores ícones da Igreja Assembleia de Deus no Brasil, pastor Abner de Cássio Ferreira, para falar sobre o papel do cristão na política. Ele falou sobre a importância em despertar o senso global das responsabilidades políticas, o caminho para escolher os candidatos, além de sua trajetória ministerial. Abner Ferreira tem 48 anos, é advogado, e pastor preside da Igreja Assembleia de Deus em Madureira. Leia na íntegra.

JRE: Como é pastorear a Igreja Assembleia de Deus no estado do Rio de Janeiro?
Pr. Abner Ferreira: Sou um pastor que procura todos os dias acertar mais e errar menos. Sou humano e tenho todas as limitações, porém Deus tem colocado ao meu redor um seleto grupo de amigos fieis e sinceros como o Pastor Roberto Ribeiro, presidente da Catedral das Assembleias de Deus em Itaguaí, que inclusive foi meu padrinho de casamento. Agradeço a Deus pois encontrei aqui no Rio amigos dispostos a fazer a diferença para o reino de Deus. O Ministério de Madureira aqui no Rio de Janeiro ainda traz muito dos excelentes ensinamentos do nosso patriarca Pastor Paulo Leivas Macalão, que nos diferencia em relação aos outros movimentos, pois há um respeito muito grande quanto à hierarquia e disciplina. E nós do Ministério de Madureira nunca vamos abrir mão dessas duas ferramentas. Então isso faz com que vivamos de uma maneira agradável e harmoniosa até porque ninguém faz nada sozinho. No meu ponto de vista, o grande crescimento da Assembleia de Deus no Brasil, e principalmente no Rio de Janeiro, é nada mais do que a unidade, companheirismo, sinceridade, e fidelidade a Deus e aos compromissos que assumimos. Temos por base sempre colocarmos os nossos pensamentos e conceitos em segundo plano, pois temos a convicção de que os pensamentos de Deus são muito mais altos e sublimes que os nossos. Esse é o nosso maior segredo!

JRE: Qual foi a idade da sua primeira consagração?
Pr. Abner Ferreira: Eu tinha 14 anos e fiz toda a escala da Assembleia de Deus. Fui cooperador, trabalhador, diácono, presbítero, evangelista e Pastor. Fui consagrado Pastor em maio de 1989. Mas eu já exerço a função pastoral deve ter pelo menos uns 30 anos. Dirigi congregações, depois fui vice-presidente do Bispo Manoel Ferreira em Campinas durante cinco anos e depois eu assumi a presidência de igreja no Rio.

JRE: Há quanto tempo o senhor está liderando no Rio de Janeiro?
Pr. Abner Ferreira:
Eu cheguei aqui em agosto de 1991. Em 94 assumi a convenção, e em 95 assumi a presidência da catedral histórica em Madureira. Então são 17 anos como Pastor aqui em Madureira, sucedendo meu pai, o Bispo Manoel Ferreira que foi o pastor desta igreja e ficou 18 anos como presidente da convenção no Rio de Janeiro.

Qual foi sua maior vitória em todos os anos de ministério?
Sem dúvida ter o privilégio de fazer parte da geração do Centenário das Assembleias de Deus no Brasil. Essa tem sido a maior felicidade, pois é possível que não estejamos aqui para festejar os 150 anos. O Centenário foi um momento de grande emoção. Ir a Belém, onde a Assembleia de Deus iniciou no Brasil, e participar das comemorações foi maravilhoso. Depois teve a nossa confraternização no Rio de Janeiro com a presença de todos os pastores, realmente ­­­Deus nos proporcionou um momento de grande alegria.

Se o senhor pudesse descrever a Assembleia de Deus no Brasil em apenas uma palavra, qual seria e por quê?
Paixão pela evangelização. Infelizmente não deu para descrever em uma só palavra. A  Assembleia de Deus nunca esteve preocupada em estar nos principais centros, nós nunca fomos muito preocupados em construir templos opulentos, chamando muita atenção ou procurando um destaque na cidade. A Assembleia de Deus vai estar sempre onde o povo está, não importa onde seja: favelas, comunidades, ajuntamentos, ali é onde queremos estar falando de Jesus e ensinando os preceitos bíblicos para que os olhos das pessoas não permanecçam fechados, mas sejam abertos pela luz do evangelho da glória de Deus. A Assembleia de Deus não quer saber de mega templos e sim de continuar a boa e fiel “Paixão pela Evangelização”. Então esse é o segredo pelo grande crescimento da Assembleia de Deus como mostra o IBGE. Estamos onde o povo está, estamos onde o povo precisa e necessita. Em qualquer lugar a qualquer hora, estaremos lá, tudo pela obra de Deus. Gostaria que as demais denominações, não me refiro a todas, também pensassem assim. Com certeza estaríamos bem melhor do que estamos hoje. Essa semana estive numa cidade chamada Águas Boas, que tem aproximadamente 27 mil habitantes. Nós construímos um templo de 1.200 pessoas sentadas, o que significa isso? Estamos onde o povo está,  e nessa cidade não há mais ninguém, apenas a Assembleia de Deus levando o bom e verdadeiro evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo. Então a “Paixão pela Evangelização” é o diferencial da Assembleia de Deus.

Estamos em período eleitoral, como o cristão deve se posicionar?
Primeiro, não devemos continuar indiferentes quanto à eleição. A Assembleia de Deus aprendeu muito sobre isso.  Lógico que temos muito ainda que aprender, Benton Bradley disse certa vez que: “O pior analfabeto é o analfabeto político”. Muitos se utilizam da falta por esse conhecimento em política, para dar crescimento à corrupção, criminalidade e, óbvio, os políticos corruptos. Então a igreja de Cristo não pode ser apolítica, mas precisa lutar para colocar homens compromissados com os valores bíblicos e morais dando assim uma nova formação a sociedade em que vivemos. Até porque, a política começa em casa.  O casamento, por exemplo, se torna duradouro porque também existe uma boa política entre marido e mulher, em que eles estabelecem algumas regras mínimas de relacionamento. Entre pais e filhos, para uma perfeita harmonia do lar deve haver uma boa política entre eles. Então a política começa dentro da nossa casa e vai por todos os setores da nossa vida e chega também no espaço de governo.

Então como escolher os candidatos?
Para o cargo de executivo você tem que escolher o melhor, ele não necessariamente tem que ser evangélico. Mas você precisa investigar o passado dele para ver se ele tem bons antecedentes e experiência como administrador. Também é importante que ele tenha perspectiva de ter ao seu lado uma bancada de vereadores que o ajudem a governar. Agora, para o legislativo você precisa analisar muito bem e se possível for sempre escolher o evangélico, alguém comprometido com a fé evangélica e baseado nos ensinamentos de Jesus Cristo. Não estou me referindo a esses evangélicos papagaios de pirata, que no ano eleitoral tira a veste de lobo e coloca de cordeiro. Essa questão é muito séria, porque o legislativo é exatamente o que propõem o que promulga leis. Precisamos de representantes voltados para o povo e reino de Deus, para barrar aquelas leis que vão de encontro a nossa fé e crença. Nós nunca precisamos tanto de parlamentares evangélicos como precisamos hoje, pois o ataque contra a igreja está cada dia pior e querem fazer como tentaram fazer na época de Daniel querendo criar leis que nos impeçam de professar nossa fé. Então agora é hora de colocarmos pessoas compromissadas com a Palavra de Deus. Os evangélicos não podem fazer do seu voto um instrumento de barganha, pois a igreja e a nossa crença dependem desses votos.

O senhor concorda que ultimamente estão surgindo diversos empecilhos para a prática da fé cristã?
Nossa fé está profundamente sendo atacada por homens malignos que querem destruir tudo que é certo aos olhos de Deus. As leis começam pelo município e a tática do diabo não é somente criar leis federais, mas também criar leis municipais que criem cada vez mais dificuldades para o povo de Deus. Exemplo: se um vereador que resolver criar obstáculos para a construção de igrejas em determinado município e os outros vereadores aprovarem a bagunça estará feita e depois será difícil reverter o caso. Tirando assim a liberdade de construir templos, entre outras leis que estão sendo formadas para parar a igreja custe o que custar. Tudo isso começa no município. Então se você não tiver pessoas, parlamentares prontos para obstruir isso, vão sofrer as duras consequências impostas pelos malignos. Por isso é preciso estarmos vigilantes. Nós não somos desse mundo, porém vivemos nesse mundo e por isso temos participações importantes nele. Então faça a diferença, afinal foi para isso que você nasceu.

O senhor acha que os pastores mais antigos mudaram o pensamento de que a política era do mau?
A Constituição de 1988 foi um grande divisor de águas. Antes dela, vivíamos a ditadura então para os pastores evangélicos era muito cômodo dizer que política era pecado, pois não tinha eleição, não tinha democracia, o povo não votava em ninguém. Na época era cômodo falar que a política era do demônio mesmo! Até porque tudo era indicação. A democracia no Brasil é uma coisa muito recente, agora é que nós estamos nos acostumando com a política. Agora temos a chance de colocar pessoas que façam a diferença em prol da sociedade e dos evangélicos. Hoje eu vejo sim esse amadurecimento nas igrejas e com isso a mudança na democracia. Até porque o problema não está na política, e sim nos que fazem a política se tornar uma coisa ruim. Ou a igreja acorda e faz a diferença, ou vamos continuar sendo governados por malignos e com certeza perderemos o direito de culto livre. Na Assembleia de Deus eu sinto um avanço e amadurecimento muito grande quanto à política.