Como identificar talentos e usá-los para obra do Senhor.
Por Daniella Fernandes
Chamado. Todo cristão, de maneira muito particular, tem um chamado ministerial no Reino de Deus. Mas a Palavra do Senhor, em 2 Coríntios 5.18, é clara em dizer que todos os filhos de Deus, salvos pelo sangue de Jesus, possuem um ministério em comum: o ministério da reconciliação. Isso quer dizer que todos os que foram reconciliados através de Jesus têm a missão de trazer outros à reconciliação com Deus. O ser humano foi dotado de múltiplos talentos e, além do ministério da reconciliação, o Senhor tem para cada cristão um chamado ministerial específico. Mas como o crente em Jesus pode identificar qual o seu ministério no Reino de Deus?
“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores. Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo.” Efésios 4.11-12. A pastora-presidente da Convenção do Ministério Apostólico e Profético Shalom LA-Rhema e Coach de Carreira & Ministerial, Valdilene Gabriela, diz que nessa passagem a Bíblia fala de cinco dons ministeriais, funções específicas para edificação do corpo de Cristo que precisam estar totalmente ligadas com o Senhor. Ela conta resumidamente o papel de cada um: “O apóstolo é o implantador de igrejas e dá cobertura espiritual para outros pastores. O profeta é muito mais do que entregar uma profecia, porque nem todo mundo que tem o dom de profecia é um profeta, mas todo profeta tem o dom de profecia. Muita gente bate no peito dizendo que é profeta, mas só está entregando profecia de casa e de carro. Na verdade, quando vamos olhar para o ministério profético há duas coisas: profeta sempre profetizava para figuras de autoridade e liderança, ele vai sempre chamar as pessoas para o cumprimento da Palavra, para voltar a viver o evangelho, ele vai exortar. O evangelista não sabe falar de outra coisa a não ser de salvação e, automaticamente, quando ele abre a boca, ele ganha e arrebanha vidas. O pastor cuida de um rebanho e o mestre é aquele que ensina a Palavra”, explica.
Como um cristão pode identificar qual o chamado no Reino de Deus? De acordo com o pastor auxiliar da Igreja Batista Peniel, Josué Vargas, essa descoberta vem através do relacionamento que cada um tem com Deus. O pastor diz que ministério é serviço, e conforme o cristão vai ficando mais próximo de Deus, ele vê a necessidade do reino e se dispõe para ele. Josué ainda afirma que quem diz não ter um chamado, na verdade, não tem visão, que é preciso fazer o que for necessário para o Reino, porque Jesus era assim. O pastor declara que a personalidade de uma pessoa não tem influência nenhuma sobre o chamado ministerial dela, mas que é tudo através do relacionamento com o Espírito Santo.
A pastora e coach Valdilene Gabriela relembra a parábola dos talentos em Mateus 25, que mostra que o Senhor dotou cada ser humano de talentos. Ela afirma que talento é, na verdade, um dom natural, o que se faz sem maior esforço, com naturalidade, e que essa é uma forma de saber qual o ministério que Deus tem na vida de cada pessoa. “A forma de identificar o meu mistério é identificando quais foram os talentos que o Senhor me deu. Uma maneira de saber qual é o meu ministério é entendendo quais são os meus talentos e, automaticamente, quando eu os identifico, vou observar quais são os dons espirituais que vão corroborar para que aquele meu talento tenha uma maior evidência”, pontua. A pastora ainda esclarece que um talento natural pode se tornar um dom na obra de Deus: “O talento, eu vou usar para as questões naturais e isso se converte em dom quando eu remeto para o Reino de Deus. Na maioria das vezes só falamos de duas classificações de dons: os espirituais, como o de profetizar, de ter a palavra de sabedoria e ciência; já outros vão dizer entregar visão e revelação; quando falamos sobre os dons ministeriais, as pessoas vão logo falar pastor e evangelista. Mas existe uma terceira classificação de dons que são os dons assistenciais ou os de serviços, que são os talentos que o Senhor dotou cada ser humano para poder desenvolver no Reino”, ressalta. Ela enfatiza que os talentos naturais não só podem como devem ser transferidos para o Reino de Deus.
Ministério é transferível de pai para filho?
É comum vermos em algumas igrejas os filhos de pastores se tornarem pastores e assim assumirem o “trono pastoral” da igreja local. Essa questão divide opiniões de alguns cristãos, que acreditam que, às vezes, a pessoa realmente possa ter esse chamado, ou talvez ter caído de paraquedas por conta da “herança paterna ministerial”. O pastor da Igreja Batista Peniel, Josué Vargas, diz que não podemos generalizar, que é uma questão muito relativa, que existem exceções e é preciso ouvir muito a voz de Deus nesse momento. Josué ainda reforça que a Igreja não é uma empresa, não tem dono, nem é uma propriedade de família, mas ela é de Deus.
A pastora e coach Valdilene Gabriela lembra de Salomão que sucedeu a Davi, que era o seu pai, e explica que há uma tradução interessante do texto bíblico de Provérbios 22.6 que diz: “instrui a criança para o destino que você quer dar para ela”, para mostrar que existe respaldo para a sucessão, mas que é preciso ter cautela. “A sucessão é normal e comum. Você vê filho de ator virando ator, de jogador de futebol, sendo jogador. Mas isso se torna um problema quando o filho não tem um chamado. É muito normal que os pais queiram que os filhos deem sequência para aquilo que eles estão fazendo, ao seu legado, mas seja em qual área for, os pais precisam ter maturidade para entender se é isso que Deus quer para os filhos. Pode acontecer de existirem pessoas muito mais preparadas para assumir aquela posição; o pai precisa estar sarado em Deus para entender que a Igreja não é uma empresa familiar”, aconselha.
Outra questão importante a ser abordada, além da “sucessão ministerial”, segundo o pastor Josué Vargas, é o perigo de confundir talento com ministério. O pastor fala que, por conta disso, muitos se tornaram artistas de púlpito e animadores de plateia, que ministério é carregado de unção. É também muito comum ouvirmos alguns cristãos falarem nas igrejas: “Jesus recebe”, quando uma pessoa não tem talento para algo e se propõe a fazê-lo. A pastora Valdilene Gabriela ensina que o fato de alguém não ter um talento, um chamado e querer fazer algo que o Senhor não o chamou para fazer, só vai gerar frustração por a pessoa estar no lugar errado. “Jesus recebe”. Essa questão não cabe no nosso meio, por que Jesus vai receber aquilo que Ele me chamou para fazer. Jesus trabalha em cima de princípios e são irrevogáveis. Eu adoro música, mas sou desafinada, o que vai gerar nas pessoas? As pessoas não vão receber porque naturalmente vão ter uma certa resistência. Jesus trabalha em cima de princípios e não do que é bom para meu ego. É perda de tempo a pessoa investir em algo que ela e outras pessoas já sabem que ela não tem talento. É frustrante e a pessoa não irá se sentir realizada e não terá reconhecimento. O reconhecimento é uma das evidências de que estou fazendo a coisa certa, porque foi o que Deus me chamou para fazer”, aconselha.