Pastora Sarah Mendes fala ainda sobre o aumento do divórcio na pandemia
Reconhecida por suas ministrações impactantes, Sarah Mendes vem se destacando por usar a Psicologia como base para suas pregações. Na entrevista que concedeu com exclusividade ao Jornal Regional Evangélico, ela fala sobre o aumento das doenças emocionais, inclusive em crianças, e do divórcio durante a pandemia. Com destaque para ansiedade e depressão, a psicóloga cristã discorre sobre a diferença entre a opressão maligna e a doença da alma e indica o caminho para o tratamento das enfermidades. Leia na íntegra.
JRE: Qual foi a doença emocional que mais se desenvolveu nesse período de pandemia?
Pastora Sarah Mendes: Eu acredito no potencializador. Nós já víamos numa espécie de surto coletivo. A sociedade já vinha muito surtada. Talvez nós sejamos a geração mais doente emocionalmente que já existiu, por uma variedade de fatores. Mas a pandemia e com tudo que ela trouxe – o incerto, o inseguro, o anseio, o não saber, os medos… – ela foi uma potencializadora disso. Então, a gente vê muito a Síndrome do Pânico, que tem o seu início na própria ansiedade. Nós temos uma geração altamente ansiosa. A ansiedade é um excesso de futuro e um desencadeador de doenças como a Síndrome do Pânico e Transtorno Obsessivo Compulsivo (Toc) que aumentaram muito nesse tempo.
JRE: A Psicologia pode ser vista como uma ferramenta para ser usada no reino de Deus?
Pastora Sarah Mendes: A Psicologia, se submetida às escrituras sagradas, ela é maravilhosa para servirmos ao reino, para ajudar pessoas que carregam traumas de anos e que, antigamente, morriam sem saber. Hoje, a gente consegue diagnosticar e tratar. A Psicologia é uma ciência muito nova. Ela existe há pouco mais de 100 anos. Se a gente levar em consideração o Movimento Pentecostal, com a chegada da Assembleia de Deus no Brasil em 1904 como principal representante, ela chega um pouco junto com aquilo que faz possível a identificação da doença, que são as ciências. Eu lembro que quando eu me formei, há quase 20 anos, essas coisas eram pra doido mesmo. Se você falasse que estava fazendo terapia, você era louco. Então não era só dentro da igreja. A sociedade tinha preconceito. Hoje, as Ciências Humanas trazem a ferramenta diagnóstica. Hoje, a gente dá nome para a doença. Antigamente, a gente falava que a criança hiperativa, por exemplo, era indisciplinada, entende?
JRE: E que consequências nós teremos no futuro?
Pastora Sarah Mendes: A Ciência Humana acredita que isso ainda vai perdurar por muito tempo por conta desse novo comportamento de usar a máscara e lavar as mãos o tempo todo. Mas a pior doença, sem sombra de dúvidas, foi a depressão. A depressão é uma preocupação que nós já temos há muito tempo. Hoje, para a Psiquiatria principalmente, a depressão não é uma questão de se eu vou ter, mas de quando eu vou ter. Segundo as Ciências Humanas, todo indivíduo, pelo menos uma vez na vida, vai passar por um processo depressivo. E a incerteza que a pandemia trouxe, os medos, as perdas, as dificuldades financeiras e tantas outras coisas que a gente está vivenciando enquanto humanidade, foram potencializadores para essas doenças que já eram muito preocupantes. E, consequentemente, o suicídio, que teve um aumento significativo nos números e é gerado pela depressão. É muito importante identificar e entender a doença.
Cristão tem mesmo depressão?
Crente gripa? Assim como o seu físico adoece, a alma adoece. No salmo 42, a gente vê o salmista conversando com a alma dele perguntando por que ela estava abatida, por que ela estava perturbada. A gente vê o profeta Eli num processo depressivo. Não tinha um nome, mas a gente consegue ver os sintomas da depressão ali. Jó, por exemplo, pediu para morrer. Então a Bíblia sempre falou das dificuldades da alma. Na verdade, sempre existiu muita gente doente.
Que diferença existe entre opressão maligna e doença da alma?
O diabo trabalha de duas formas: com a opressão e com a possessão. A opressão é quando ele está fora de nós: o ar pesado, essa angústia, um pecado corriqueiro. E a possessão demoníaca é quando ele está dentro da gente: quando ele toma posse do corpo do indivíduo. Eu acredito veementemente no que a Bíblia diz: o que é do Senhor, o maligno não toca. Quando a gente fala de depressão, a gente fala de doença que precisa ser tratada como doença. Então, a diferença é discrepante.
Como uma pessoa pode ser curada da depressão?
Eu acredito num tripé para a solução da depressão. Primeiro, a medicação. Porque, no cérebro de um depressivo, já foi comprovado que existe um comprometimento no sistema límbico, que é o lugar no cérebro onde ficam as emoções. A depressão exige tratamento e a primeira coisa é remédio que faz o sistema límbico voltar para o lugar. Depois disso, a pessoa precisa de psicoterapia, que é o aconselhamento. Na prática de aconselhamento, a gente vê muitas pessoas que não querem tomar remédio, mas querem fazer a terapia. Não funciona! Porque a fisiologia do organismo não está preparada para receber esse novo da psicoterapia. E o último tripé de sustento do tratamento depressivo é a fé. É preciso que esse indivíduo acredite, que ele queira, que ele tenha fé.
Deus pode curar uma pessoa de depressão sem tratamento?
Pode. Ele faz como quer, da forma que quer. Eu conheço uma pessoa que se livrou de uma depressão severíssima de quatro anos lendo Lamentações de Jeremias. Então, Deus pode fazer, mas eu estou falando daquilo que é corriqueiro, daquilo que, via de regra, é o que nós precisamos fazer. Ninguém fica deprimido porque quer. Depressão não é frescura, não é falta do que fazer. Depressão é doença.
Quais serão as consequências dessa fase de isolamento que nós estamos vivenciando?
Eu acredito em duas vertentes quando a gente fala de isolamento. A primeira é que Deus nos fez seres relacionais; nós precisamos uns dos outros. Então, viver sem se relacionar é um dificultador. Eu ainda vejo que a nossa geração é privilegiada por conta da internet que nos possibilita ver e falar com os outros através das telas, mas de qualquer forma estamos fisicamente distantes, não nos tocamos. E tem a questão de uma geração que já estava acostumada com o isolar-se. Porque o individualismo é uma das caraterísticas pós-modernas. Essa ideia de que eu me basto, eu posso, eu faço, eu consigo. Tem uma grande parte da população que prefere, por exemplo, o home office à empresa. Então, a maior dificuldade foi o afastamento dos próximos.
Quem são os maiores prejudicados?
Eu acredito que as crianças serão as mais prejudicadas. Eu tenho três filhos e eu percebo neles e nos filhos das minhas amigas muitas dificuldades. Para eles são várias coisas complexas: entender o que está acontecendo, lidar com a insegurança dos adultos, privá-los daquilo que eles mais gostam, que é brincar com os amigos, frequentar a escola, ir à igreja, ir ao parque, assistir um filme no cinema. E a gente já vinha notando uma geração de crianças ansiosas, com depressão, com uma taxa de suicídio altíssima. Elas estão sofrendo.
Na pandemia muitos casamentos foram desfeitos, como você avalia isso?
Com seis meses de pandemia, eu li uma notícia que informava um aumento de 247% do índice de divórcios no Brasil. Eu vejo isso como um resultado da fragilidade dos casamentos. Na verdade, o que deveria acontecer era o contrário. Com a vida corrida que a gente leva, ficar em casa com a família deveria ser um privilégio. Mas não foi isso que a gente viu. Isso porque os relacionamentos já estavam ruídos. Hoje, 50% dos casais se separam antes dos 10 primeiros anos de casados. E isso acontece na igreja também. Estar em casa com o outro exige o doar-se. A pandemia aflorou essa ideia de pessoas despreparadas para o casamento, percebendo que não são 1. Eu vi muito casal brigando por causa de dinheiro. E se alguém não consegue compartilhar dinheiro, como vai compartilhar o coração? E nesse caso de divórcio, eu também acredito que a pandemia foi um potencializador. O casamento já ia mal. A pandemia não foi o motivo. Já tinha ali uma sujeira que estava sendo varrida para debaixo do tapete, sem organização, sem o cuidado devido.
Quais foram as maiores lições você tirou dessa experiência de pandemia?
A gente precisa aprender que o nosso desafio, até a pandemia passar, é sobreviver. Eu acho que não é hora de pensar no que os meus filhos vão ser quando crescer ou em melhorar de vida. E quando eu falo de sobrevivência eu falo de preservação de saúde física, emocional e espiritual. Nós temos um governo espiritual que manda no nosso governo de alma, que por fim manda no nosso físico. Eu vejo muita gente lutando, mas muita gente perdendo a fé. Então, a gente tem esse desafio de sobrevivência em fé; lembrar quem Deus é, do que Ele faz, lembrar da sua grandeza, do seu controle. Preservar a saúde emocional para não adoecer das mais variadas formas. Eu me vejo desafiada a sobreviver e a criar filhos sobreviventes.
Por Monique Suriano