O presidente Alberto Fernández aprovou a lei pró-aborto no país, porém com este feito a Argentina perde um aliado de peso: o Papa Francisco
Após a votação na madrugada desta quarta-feira (30), aprovar o projeto de lei para legalizar o aborto até a 14ª semana de gestação na Argentina, o presidente Alberto Fernández comemorou nas redes sociais: “Hoje somos uma sociedade melhor, que amplia os direitos das mulheres e garante a Saúde Pública”. Entretanto, essa aprovação abala a relação com o Papa Francisco, que também é argentino e rejeita o interrompimento da gestação.
Antes do começo da votação no Senado argentino, o Papa havia postado uma mensagem através das redes sociais: “Toda pessoa descartada é um filho de Deus”. Em sua última audiência geral do ano no Vaticano, o Papa Francisco que, ao longo deste primeiro ano do mandato de Alberto Fernández, foi o maior aliado internacional do governo argentino, disse: “Viver é, sobretudo, ter recebido a vida. Todos nascemos porque alguém nos desejou a vida”, disse ele logo após a aprovação.
Esta Lei abala a relação política e vínculo com a Igreja pois o Papa foi um aliado que ajudou de forma decisiva para a Argentina obter um acordo de reestruturação da sua dívida externa com credores privados.”O Papa estava ajudando num acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e cumpria um papel fundamental, através da Igreja, na rede de contenção social num país com forte agravamento da crise econômica”, disse o jornalista e biógrafo autorizado do Papa, Sergio Rubin. “Alberto Fernández não terá mais o pontífice ao seu lado. A nova lei abala o vínculo do governo com a Igreja”, concluiu.
“Essa relação agora está ferida. Não haverá um conflito aberto, mas há um rompimento. Alberto Fernández priorizou uma conquista política num ano de derrotas, mas os danos colaterais significam perdas que ainda não podem ser mensuradas na sua dimensão política e social”, adverte o analista político Rosendo Fraga.
A implementação da lei ainda passará por diversos setores e o governo tem até dez dias úteis para promulgar a nova lei. “A Igreja também vai incentivar as ONGs pró-vida e particulares a apelarem à Justica com base na Convenção dos Direitos da Criança e no Código Civil. A nova lei deve ser questionada na Justiça como inconstitucional”, indica Sergio Rubin.
Por Milena Scheid
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