Por trás de pastores queridos e admirados por suas congregações, sofrem esposas mal-amadas e filhos carentes
Por Monique Suriano
moniquesuriano@yahoo.com.br
É comum encontrarmos líderes e pastores evangélicos vivendo duas realidades bem distintas uma da outra.De um lado um ministério público bem sucedido e conhecido, por outro uma vida familiar e afetiva fragmentada e desestruturada. Por trás de pastores queridos e admirados por suas congregações, sofrem esposas mal-amadas e filhos carentes. A fé cristã, em especial para os pastores, tem se tornado institucional, pragmática, técnica, racional, ativista e profissional. Quando isto acontece, olhamos somente o desempenho e os resultados do ministério e nos distanciamos dos vínculos, da intimidade, dos afetos e da relacionalidade.
Famílias não são perfeitas. Sabemos que existe um ideal e uma busca por santidade que não podem ser menosprezados na caminhada de fé, no entanto, uma ênfase numa vida sem falhas, sem derrotas, sem sofrimento, contrasta com o relato bíblico dos homens que Deus usou. Ser uma família extraordinária, feliz o tempo todo e sem problemas é um fardo difícil de suportar e tem dois destinos previsíveis: a frustração e desilusão ocasionadas pelo abismo entre o discurso e a prática, ou então a hipocrisia e a espiritualização que escondem e disfarçam o erro. E como é difícil para os pastores exporem seus erros e suas fraquezas. Sem ter com quem compartilhar, suas crises e problemas tendem a ficar mais agudos e ao mesmo tempo mais escondidos e camuflados.
A família de um pastor é também humana, sujeita aos desencontros, às crises pessoais e relacionais. Pastores não vivem emocionalmente bem as vinte e quatro horas do dia, sete dias por semana. Esposas de pastores não possuem todos os dons e virtudes e seus filhos não se comportam de maneira perfeita o tempo todo. Basta ser uma família comum, humana, capaz de celebrar, afirmar e nutrir o que há de bom, aceitando, perdoando e sendo paciente com suas ambigüidades e ambivalências. A família que reflete a graça de Deus, substitui a exigência da perfeição, com seu legalismo acusador e cobrador, pelo amor paciente e benigno e ao perdão restaurador.
Em entrevista com o Pastor Jorge Rabello, aproveitando sua visita ao Rio de Janeiro, durante a Campanha de Avivamento promovida pela Catedral das Assembleias de Deus em Itaguaí, o Jornal Regional Evangélico (JRE) prevaleceu-se de sua experiência como pastor itinerante há 29 anos, mas com uma família unida resultante de um casamento sólido que completou 27 anos. Qual será a fórmula certa para seu um pastor de sucesso e ter uma família feliz? Leia na íntegra.
JRE: O que vem primeiro, ministério ou família?
Pr. Jorge Rabello: Os três principais fundamentos que eu defendo é primeiro a família, depois a igreja, e por último o ministério. Você só desenvolve um ministério, porque existe uma igreja na terra, conforme registrado em Mateus 16:18: “E sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Paulo foi muito claro em dizer que se você não cuida bem da sua casa, você não pode cuidar das coisas de Deus.
JRE: O que o senhor faz para ter êxito na vida familiar e no ministério?
Pr. Jorge Rabello: Mesmo sendo um pastor itinerante há 29 anos, sou muito presente na vida da minha família. Eu tenho duas filhas, a Daniele, de 22 anos, e a Natally, de 19. Eu viajo muito, mas procuro estar sempre presente na vida delas. É importante estarmos presente nas datas comemorativas, nos momentos das aflições, nos momentos de carência. E como esposo, a gente tem que saber que o casamento precisa ser cultivado. Tem muitos homens que estão dentro de casa sete dias por semana, mas estão longe, ausentes da esposa, ausentes da vida dos filhos.
JRE: Então não é exatamente o tempo que você passa com sua família, mas a atenção que você investe nela?
Pr. Jorge Rabello: Justamente. Eu batalho muito para ter qualidade no relacionamento familiar. Não pude estar com minha esposa no dia do aniversário dela, porque estava com a agenda comprometida, mas já estou com a data marcada para comemorar com ela. Os contratempos vão existir sempre, mas é preciso administrá-los com sabedoria e coerência. Minha família respeita a minha vocação, por isso elas se sacrificam comigo quando é necessário.
Que tipo de referência o pastor precisa ser em casa?
Se você perguntar as minhas filhas, qual é o melhor pregador do mundo, elas vão dizer que é o pai. Minhas filhas são servas de Deus, elas jejuam, oram, se consagram. E por que isso? Porque elas estão acostumadas a nos ver fazendo isso. A igreja de Cristo começa no lar.
Então quais devem ser as prioridades do pastor dentro de casa?
Amor, equilíbrio e autoridade. Demonstrar amor, a temperança, e exercer o poder no momento certo. Como está escrito em 2 coríntios 3.5: “Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus”. O Deus que deu as funções é o mesmo a dar capacidade para administrar a função de pai, esposo, líder, pastor. O segredo é ficar como Moisés, debaixo da nuvem de Deus, sendo fiel a Deus e a graça que Ele nos dá é que realmente nos fará realizar todas as funções com excelência.
E o culto doméstico?
Também é muito importante, mas nem sempre é possível, por conta dos horários diferentes. O importante é saber aproveitar os momentos. Fazer um momento de oração quando todos estiverem em casa, fazer campanhas de oração com metas e projetos específicos.
O que o senhor faz, quando precisa ficar muito tempo fora de casa?
Hoje temos a tecnologia, que ajuda muito. Seja através de e-mail ou torpedos, estou sempre me comunicando. Hoje em dia, não existe desculpa para ficar muito tempo ausente não.
Existe algum segredo para permanecer casado há 27 anos?
Amor. E o amor é como uma planta, se você não souber cultivar, ele vai morrer. Mas a fidelidade a Deus é o que realmente leva você a ser fiel a esposa, a ser fiel a família.