Quando comprar se torna um desequilíbrio
Por Nilbe Figueiredo
Psicólogos e profissionais que estudam o comportamento humano; afirmam que, quando alguém sente uma vontade incontrolável de comprar e gastar dinheiro, sem que haja domínio algum sobre esse desejo, isso pode ser oniomania. Algumas pesquisas na área já constatam que existem casos de pessoas que compram várias camisas da mesma cor e modelo, ou gastam todo o dinheiro em bolsas ou sapatos idênticos aos que já tem. Não há um objetivo, a vítima de oniomania adquiri objetos que não têm a menor utilidade, ou seja, compra por comprar. Quando a compra não é realizada, há uma sensação de angústia e mal-estar.
Segundo a Dra. Vera Lúcia Trindade Gomes do Instituto de Psicologia da UERJ e também professora adjunta com pós-graduação em avaliação neuropsicológica, a oniomania não pode ser catalogada como patologia embora existam recursos terapêuticos. De acordo com a especialista, a oniomania está ligada a uma compulsão e a pessoa vai descarregar onde sente mais satisfação. “Tem gente que quando fica ansiosa vai comer, daí a história de muitos obesos. Outras tem compulsão por beber, outras por ganhar dinheiro e outras por gastar”, comenta.
Segundo a Vera, a questão principal é a razão da escolha. O que uma pessoa vai fazer quando está ansiosa ou frustrada? “É uma resposta do emocional da pessoa, certamente ela não está bem. Quando alguém está em harmonia com sua vida, funções vitais, afetividade e com tudo que compõe sua volta, certamente não vai ter comportamentos compulsivos” explica. A especialista esclarece que se uma pessoa desencadeia um comportamento desse tipo, vai jogar na compulsão, toda frustração, ansiedade e desgosto. Por isso transfere o escape para a “realização” de compra. “É um caso de disfunção e de desequilíbrio que precisa ser tratado”, afirma.
De acordo com a psicóloga, é perfeitamente normal o fato de uma pessoa se aborrecer ou se estressar por algum motivo e com o objetivo de desparecer procurar se distrair em um shopping. De repente sente vontade de comer alguma coisa, ou tomar um chá, ou ir a um cinema, isso é uma compensação, o que é perfeitamente normal. “A pessoa vai sair dali melhor e tem consciência de que o outro dia é outro dia e seguirá em frente. Outra bem diferente é quando o escapulir, ao invés de válvula de escape se torna um vício”, explicou.
TRATAMENTO
De acordo com a especialista a psicoterapia é a solução. “Quando a família acompanha a vítima, o tratamento é muito mais efetivo, isso porque existe todo um apoio familiar”, observa. A Dra. Vera deixa claro que não é médica, mas sim uma psicóloga e que reconhece que não tem nenhuma restrição a tratamento e a medicamentosos, pois quando o paciente precisa ele tem que ser ajudado por um psiquiatra. “Nesse caso, porém, eu rejeito o medicamento. No máximo, se o médico achar que o nível de ansiedade é muito grande e quiser entrar com medicação não tenho nada contra, mas o grande trabalho nesses casos é mesmo o da psicoterapia”, alerta. Segundo ela o paciente precisa entender e reformular. “Trata-se de uma reformulação interna, onde a pessoa vai ter que procurar o seu prazer em outra coisa que seja objetiva, eficiente e que não cause dano”, explica.
A CURA
“Claro que tem cura”, disse a psicóloga. Segundo Vera a pergunta inicial seria: você vai fazer o que no Shopping? “Se a pessoa está sentindo vontade de tomar um sorvete, então tome. Se sente vontade de comer alguma coisa gostosa, também pode comer, mas se não está precisando de nada, porque comprar? ”, orienta. Ela comenta que nem sempre os psicoterapeutas orientariam da mesma forma o tratamento a ser desenvolvido. “No meu caso, faço toda orientação ligada a linha cognitiva comportamental, onde tenho os passos e estratégias de uma abordagem que trabalha com a realidade e reflexão em cima do que incomoda aquele paciente”, esclarece.
De acordo com Vera, deve ser levado em consideração que essas disfunções vão depender muito do tipo de vida que a pessoa leva a sociedade que está inserida e do ambiente familiar que ela tem. “Uma pessoa muito pobre em ambiente rural reagiria de outra forma. A pessoa vai reagir com as armas sociais e culturais que ela tem. O comportamento compulsivo tem uma raiz”, finaliza.
Vera Lúcia Trindade Gomes do Instituto de Psicologia da UERJ é professora adjunta, Avaliação neuropsicológica.