Como identificar quando o medo é espiritual ou doença?
Por Daniella Fernandes
Medo. Quem nunca teve medo de algo ou de alguma circunstância durante a trajetória de vida? Dados do Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA revelam que 20,8% das pessoas possuem transtorno de ansiedade, isto é, passam o tempo todo com medo de alguma coisa. A psiquiatra Cristiane Lopes diz que o medo é um sentimento que transita em duas categorias: ele pode ser protetor ou paralisador. “O medo que nos protege é aquele sentimento que vem antes de um comportamento de risco, de uma escolha errada, de uma decisão irresponsável. Este é saudável e, por vezes, necessário. Por outro lado, o medo que nos paralisa é aquele sentimento intenso que nos impede de dar o próximo passo rumo aos nossos objetivos, sonhos. Ou pelo receio de arriscar e dar tudo errado, ou por achar que não somos merecedores de tamanho desafio. É o medo que paralisa e não nos deixa produzir. Este não é saudável”, explica.
O cristão enfrenta vários desafios durante a caminhada da vida secular e cristã. Segundo o pastor auxiliar do Projeto Geração Livre, Charles de Azevedo, o medo é uma característica peculiar do ser humano, independente de ser ou não cristão. O pastor afirma que a Palavra de Deus repete diversas vezes a frase “não temas” para os cristãos, e que isso mostra que o cristão pode ter medo. “A Bíblia fala muito sobre medo e nos mostra pessoas que já manifestavam este sentimento ou sensação que, em alguns casos, proporciona um estado de alerta e, em outros, proporciona a fuga”, conta. O pastor Charles cita exemplos de homens de Deus que sentiram medo: Eliseu que, quando ouviu a ameaça de morte de Jezabel, fugiu para salvar a própria vida (1 Reis 19.1-3); Josafá que, quando temeu, não fugiu, mas ficou em alerta e buscou o Senhor (2 Crônicas 20.1-3). “Destes exemplos, o de Josafá me chama mais a atenção, porque, quando o medo chega, ele corre para o Senhor. Entendo que esta é a atitude mais correta”, ressalta Charles.
Existe diferença entre medo, fobia e pânico? A psiquiatra Cristiane Lopes esclarece que o medo é apenas um sentimento que, por vezes e dependendo da situação e da influência que exerce, pode ser saudável. Já a fobia é um medo exagerado e específico, como, por exemplo, fobia de avião, de cachorro, de falar em público, e que ela acontece sempre associada a sintomas de ansiedade: taquicardia, sudorese, tremor grosseiro dos membros, dificuldade para respirar, entre outros. A psiquiatra ainda explica que o pânico é um sentimento que expressa um medo intenso. “O transtorno de pânico é caracterizado por crises de ansiedade espontâneas, ou seja, sem nenhum motivo aparente, em que o paciente tem a nítida sensação de que algo muito ruim está acontecendo com ele. Esse transtorno é caracterizado por idas constantes a diversos especialistas, a fim de descobrir a causa de tamanho desconforto. A grande surpresa surge quando os exames estão normais e o paciente descobre que tudo isso que está sentindo é fruto de uma crise de ansiedade muito forte”, diz.
Medo. Prisão espiritual ou doença?
O pastor auxiliar do Projeto Geração Livre, Charles de Azevedo, afirma que o medo pode se tornar uma prisão espiritual quando ele é constantemente enfatizado pela pessoa que sofre, paralisando-a e se tornando escrava dele. Ainda de acordo com o pastor, se um cristão que tem medo excessivo de algo precisa de libertação, essa libertação só acontece através do relacionamento com Deus. O pastor lembra que, em 2 Timóteo 1.7, Deus deixou claro que não nos deu um espírito de medo, no entanto esse espírito de medo vem contra nós, e para ter a vitória sobre ele é preciso confiar e se relacionar com Deus. Charles ainda cita outros versículos a respeito do tema medo e a superação dele: “Em Deus ponho a minha confiança, não terei medo” (Salmos 56.11); “No amor não há medo. Deus é amor e n’Ele não há medo” (1 João 4.18). O pastor ainda ressalta que para vencer o medo não é necessário fazer correntes ou campanhas nas igrejas, mas simplesmente se relacionar com Deus, através de uma vida de constante oração e meditação na Palavra.
O medo também pode não ser um problema de cunho espiritual, por isso é preciso estudar cada caso de forma particular, com cautela e ajuda de um profissional, caso necessário, para identificar se a pessoa está doente. “O medo pode ser classificado como doença quando ele causa prejuízo social, profissional ou acadêmico. Em outras palavras, quando este sentimento interfere de forma consistente nas diferentes áreas, significa que a pessoa precisa de ajuda de um especialista, neste caso, precisa de um profissional da área de saúde mental”, enfatiza a psiquiatra Cristiane Lopes. Ela ainda diz que, quando o medo não for justificado por nenhum transtorno mental prévio, a melhor forma de superá-lo é enfrentando-o. Já quando ele se revela como um sentimento que paralisa ou compromete as diversas áreas da vida do paciente, a psiquiatra aconselha que ele deva ser tratado através de tratamento psiquiátrico e psicológico.