As manifestações artísticas não são usadas somente para adorar, elas se tornaram ferramentas estratégicas para falar do Evangelho de Jesus
Por Daniella Fernandes
Teatro, dança, produções musicais bem elaboradas e diversas manifestações artísticas fazem, atualmente, parte do culto de várias igrejas evangélicas. A liturgia formal de culto tem sido complementada por novas “ferramentas” de adoração, tendo com foco o despertamento espiritual do povo de Deus e a evangelização de quem ainda não conhece Jesus. Foi-se o tempo em que as reuniões nas igrejas limitavam-se apenas à oração e leitura da Palavra. Hoje, além disso, os cristãos adotam a dança como instrumento de adoração e o teatro para a pregação do Evangelho e, com isso, chamarem a atenção de quem ainda não é cristão.
Os evangélicos estão se profissionalizando no que diz respeito às artes. Algumas igrejas já produzem até musicais para atrair os ímpios e, desse modo, criarem a oportunidade de um cristão convidar um não crente para ir à igreja. É o exemplo da Igreja Batista Nova Filadélfia de Rocha Miranda que, recentemente, estreou o musical “História com Deus”, que reuniu, em um único projeto, teatro, músicas e danças. Por intermédio do musical, almas se renderam ao Senhor Jesus e cristãos foram avivados.
“No musical você consegue abordar temas que acontecem no cotidiano do ser humano, e isso mexe com todo mundo, faz com que as pessoas que estão sentadas assistindo se transportem para aquela situação e pensem: ‘estou vivendo isso’. A arte leva você a se confrontar e ver que precisa se reconciliar, voltar à origem do Evangelho. A arte consegue penetrar no coração, às vezes de uma forma mais fácil, porque é a mensagem pregada e visualizada, a assimilação é melhor. Os ímpios acham interessante quando chegam à igreja e se confrontam com o teatro. É de fácil assimilação para quem nunca ouviu falar do Evangelho, nem de uma forma mais formal, que é sentar no culto e ouvir a Palavra através da Bíblia, por exemplo”, explica o cantor, e um dos produtores do musical “História com Deus”, Eduardo Gomes.
O missionário e criador do grupo Missões Urbanas, Pierre Cazanga, que já liderou diversos projetos missionários nacionais e internacionais, diz que o evangelismo com artes é estratégico, por isso é preciso definir dentro de qual visão será trabalhado. Ele explica que, geralmente, os cristãos focam na estratégia do vinde e não na estratégia do ide, isto é, o ímpio precisa ir à igreja para ver uma apresentação e ouvir falar sobre Jesus. “São ministérios muito importantes, as artes chamam muito a atenção das pessoas. Já trabalhei com uma equipe de pantomima (peça teatral em que os atores se manifestam somente com gestos e expressões corporais) nas universidades. Eles faziam a peça sem falar uma palavra, explicando o plano da salvação, e as pessoas entendiam e se convertiam. A arte tem o poder de atrair e prender a atenção das pessoas. Quando você tem esse tipo de estratégia que trabalha para a igreja, mas fora da igreja, com o foco de alcançar as pessoas, é algo fantástico. Mas quando esses ministérios estão dentro das igrejas para pregar sobre Jesus para quem já é crente, é ineficaz”, ressalta o missionário.
O cantor Eduardo Gomes lamenta que hoje poucos pregadores se preocupem em preparar uma mensagem que fale de salvação para serem ministradas nos cultos. A maioria das pregações nas igrejas é para crentes, esquecendo-se das pessoas ímpias que, às vezes, visitam as igrejas. O cantor vê no teatro uma estratégia para a pregação das boas-novas: “Com o teatro você consegue falar para uma pessoa que está em uma vida de prostituição, drogas, e que está com a vida arrasada, que Jesus é o único caminho, a verdade e a vida, interpretando até com comédia e também emoção. O teatro é fundamental para a evangelização de não crentes, é a maior estratégia que temos”, compartilha Eduardo.
Pierre explica que a palavra ministério significa serviço. Ele conta que conheceu um mágico que usava a mágica para pregar o Evangelho nos cultos e ele começou a fazer isso fora da igreja. O mágico fazia o espetáculo e convidava pessoas não cristãs para assistirem ao show. Ao término, ele dizia que tudo o que as pessoas tinham visto e ficado impressionadas não passava de engano e puro ilusionismo. O missionário conta que o mágico dizia: “Eu enganei vocês, mas agora eu vou falar de algo que é verdadeiro. Você precisa decidir como será sua vida, se ela vai ser direcionada pelos enganos ou pela verdade. E a verdade é uma só, e se chama Jesus Cristo”. Pierre questiona se esse tipo de arte é mais eficaz dentro ou fora da igreja, porque ele considera que isso sim é um ministério, pois está prestando um serviço.
De acordo com o cantor, a arte é uma linguagem um pouco diferenciada do comum que acontece dentro dos cultos e é usada como ferramenta de despertamento espiritual. Eduardo diz que funciona muito bem dentro das igrejas para os cristãos, porém ele também considera que é preciso fazer mais, que essa estratégia precisa ser usada para a evangelização nas ruas. “O teatro e danças como flash mob, street dance chamam a atenção. Acredito que nas ruas chamam muito a atenção das pessoas, funcionam 100% no cunho evangelístico. A gente tem de ir para as ruas, as almas estão nas ruas. O fundamental de tudo é a gente ir para a rua e usar essas artes como estratégias evangelísticas para ganhar vidas”, afirma.
O ministério das artes é mais eficaz na evangelização urbana, é o que afirma o missionário Pierre, pois lá é onde estão quem precisa ouvir. “A arte foi criada por Deus, faz parte da cultura humana, e a arte pode e deve ser usada para alcançar pessoas para a glória de Deus. Essas estratégias funcionam melhor na evangelização urbana do que dentro das próprias igrejas. Se a pessoa não conhece Cristo e ela vai à igreja, subtende-se que ela já está aberta para ouvir o Evangelho, algumas barreiras espirituais já foram quebradas na vida dela. Ela já está predisposta a conhecer o Evangelho. Uma pessoa que não quer saber nada de Jesus não vai se dirigir até a igreja. A arte pode ser utilizada para ir até essas pessoas e comunicar a mensagem de Deus. Na minha concepção, isso é muito valioso, levar a igreja até as pessoas. A ordem bíblica é ide e pregai e não ide e convidai”, finaliza.
Foto: Rafael França