Aos 77 anos, o cantor Victorino Silva é um dos mais antigos cantores de música gospel e até hoje mantém agenda cheia
Por Monique Suriano
moniquesuriano@yahoo.com.br
O cantor cristão que fez muito sucesso nas décadas de 70 e 80, Victorino Silva, concedeu uma entrevista exclusiva ao Jornal Regional. Músicas como “Meu Tributo”, “Não Chores Mais” e “A Deus Seja a Glória” interpretadas por ele impactaram gerações, e até hoje são cantadas nas igrejas. Victorino Silva é um dos mais antigos cantores de música gospel brasileira, com mais de 50 anos de carreira, e que até hoje mantém sua agenda cheia.
O cantor nasceu numa família pobre da Baixada Fluminense, e acabou perdendo a mãe e o pai ainda criança. As perdas, somadas à discriminação social por ter um braço deficiente, acabaram impactando a vida dele e o conduzindo ao mundo do crime e dos vícios. Experimentou drogas e chegou até a tomar conta de prostíbulo. Confira a entrevista que a equipe de Jornalismo do Jornal Regional fez para conhecer mais sobre a sua história de vida e ministério.
JRE: Como era sua vida antes de conhecer a Cristo?
Victorino Silva: Eu vivi uma vida totalmente separada de Deus; nas macumbas, nos candomblés. Eu tocava tambor. Cheguei a ser convidado por um amigo, dono de bica de fumo, para ser vigia de um prostíbulo. Eu trabalhei lá durante muitos anos. Eu vi a morte como estou olhando para você agora. E Deus sempre me livrando. Mas eu não estava bem ali, sentia uma necessidade muito grande de viver alguma coisa maior, estava muito descreditado da vida. Passado algum tempo eu formei um grupo de Mambo Jambo na época do Chá-Chá-Chá (dança latino-americana originária de Cuba), que se chamava Mambojeiros e comecei a fazer shows. Mas depois de algum tempo eu estava ainda mais perdido. Quando Deus me salvou, foi uma mudança radical, na raiz, de dentro mesmo. Não foi superficial.
JRE: E como foi que o senhor se converteu?
Victorino Silva: Com cerca de 25 anos, eu comecei a ficar doente; sentia muita falta de ar, depressão, e então fui bater uma chapa do pulmão no núcleo de tuberculosos de Nilópolis. Quando o médico olhou a minha chapa, ele disse: ‘Você vai morrer. Essa sua Tuberculose já comeu o seu pulmão esquerdo e está passando para o direito’. E naquela época, a Medicina não dispunha de tantos recursos como hoje. Então eu comecei um tratamento muito doloroso. Um certo dia, eu estava indo tomar conta da boca, e passei em frente a uma casa onde um casal estava fazendo uma oração matutina. Da varanda deles dava para ver a boca. O irmão Pedro Rodrigues era tenente da Marinha e a irmã Iracema era espanhola. Eu estava ouvindo aquele barulho de glória Deus e aleluia, quando de repente aquela mulher saiu da porta, me olhou, e perguntou: ‘Você quer entrar meu filho?’ Quando eu entrei, o irmão Pedro se assustou e disse: ‘Iracema como você traz um homem desse para dentro da nossa casa?’. Mesmo assim ele pregou para mim, disse que Jesus me amava e perguntou se eu queria aceitar a Jesus. Então eu dobrei os meus joelhos e aceitei a Jesus naquele dia. Quando eles terminaram de orar, eu respirei fundo e não senti mais a dor terrível que sentia antes quando respirava fundo, porque a Tuberculose estava acabando com os meus ossos. Na semana seguinte eu fui bater a chapa dos pulmões. O médico olhou a chapa e me perguntou: ‘Existem vários buracos costurados no seu pulmão esquerdo, você operou o pulmão?’ Eu disse que não e ele respondeu dizendo que eu estava completamente curado.
JRE: E quando foi que o senhor começou a cantar nas igrejas?
Victorino Silva: Depois desse milagre que Deus operou na minha vida, eu comecei a visitar as igrejas com o irmão Pedro Rodrigues para contar o meu testemunho. E logo depois comecei a cantar também. No início do ministério foi muito difícil. Ninguém dava nada para você cantar não, nem a passagem. Eu passei muita dificuldade, mas mesmo com muita fome eu nunca pedi um prato de comida a ninguém. Mas um dia eu recebi uma profecia que nunca mais esqueci. Deus disse para mim: ‘Meu jovem, eu vou te abençoar tanto, tanto, que tu ficarás abismado. Te enviarei a terras de línguas diferentes. E ali serás uma grande bênção’. E tudo se cumpriu na minha vida. Eu fui o único cantor evangélico que encheu o Maracanãzinho duas vezes. O único que deu concerto musical na Sala Cecília Meireles e no Scala. Viajei muitos países. Há pouco tempo, eu ganhei um convite para morar na Irlanda. Isso tudo é para honra e glória de Deus.
Existe diferença entre o ministério da música daquela época e dos dias atuais?
Depois de muitos anos sendo explorado, eu me posicionei. E se você não se posiciona você vai ser explorado. O povo crente gosta muito das coisas de graça. Eu levei muito tempo cantando nas igrejas e nem passagem eu ganhei. Mas eu não concordo com cobranças absurdas. Existe diferença entre cantar e louvar. O louvor é uma expressão da sua alma. Louvor é você tributar glória a Deus. Eu louvo a Deus com a minha vida, com meu dízimo, com minha oferta, com meu amor. Sempre que eu louvo eu canto, mas nem sempre que eu canto eu louvo.