ONU pede que países permitam o aborto em caso de microcefalia. O que os cristãos dizem sobre isso?
Por Daniella Fernandes
danyyfernandys@hotmail.com
O surto de microcefalia tem assustado muita gente, principalmente as grávidas. Há muitas especulações sobre o vírus da zika e suas causas, mas pouco ainda se sabe sobre essa doença que se tornou um problema de saúde mundial. As pesquisas seguem em andamento para confirmar ou não as suposições que são levantadas pelos cientistas. Enquanto o JRE fechava esta matéria, dados do Ministério da Saúde revelavam que o Brasil já tinha 5.909 notificações de microcefalia, desde 22 de outubro de 2015 até 27 de fevereiro deste ano. Porém, do total de notificações, 641 casos foram confirmados, 1.046 foram descartados e 4.222 casos continuam sob investigação. Dos casos confirmados, 82 tiveram exame positivo para o vírus da zika. Uma declaração do alto-comissário de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Zeid Ra’ad Al Hussein, que defende que países com surto de microcefalia autorizem o direito ao aborto, tem causado polêmica e levantado debates sobre o tema. Abortar ou não abortar? Essa é uma discussão que tem envolvido crentes e não crentes em Jesus Cristo.
A enfermeira de terapia intensiva pediátrica, Lidia Meyre, explica que um bebê com microcefalia terá uma vida diferenciada, mas o grau de comprometimento varia muito de uma criança para outra, que o tratamento recebido também dependerá do grau de comprometimento apresentado. Ela diz que não há uma regra e se posiciona contra o aborto. “Não se trata de uma ciência exata. Nem todas as gestantes acometidas pelo zika apresentarão necessariamente problemas no feto. Não concordo com o aborto, a criança tem direito a vida. Além disso, não se podem prever com exatidão as limitações que a criança irá apresentar”, afirma. O pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus na Zona Oeste, pastor Luiz Santos, também não é a favor de que a mulher aborte quando o bebê tem microcefalia: “O cristão não deve ser a favor do aborto. Ainda que uma criança nasça com má-formação, ela tem direito à vida. Uma criança com microcefalia não é um mutante, ela é a própria imagem e semelhança de Deus”, ressalta o pastor, que também é psicólogo clínico e psicanalista.
A microcefalia é uma doença em que o bebê nasce com perímetro cefálico menor do que o considerado normal, que é habitualmente superior a 33 cm. Mesmo diante dessa anomalia, a pastora do Ministério Casas de Paz, Vanda Mendes de Melo, afirma que o aborto é contra a vontade de Deus. “Independente de que a criança venha com uma doença ou com plena saúde, é uma vida. É uma alma que merece e tem o direito de viver, porque se não fosse para viver já iria nascer morta, Deus não ia dar vida. Mas se nasceu viva, tendo microcefalia ou outra doença, foi permissão de Deus. Deus tem o controle de todas as coisas na Terra. É permissão de Deus e tem um propósito”, esclarece.
Não são somente os cristãos que se posicionam contra o aborto no caso de microcefalia. Grande parte da população brasileira considera que a mulher não tem o direito de abortar, mesmo com a confirmação da má-formação, foi o que apontou uma pesquisa do Datafolha. Dados revelam que 58% dos brasileiros avaliam que as grávidas que tiveram zika não podem ter a opção de interromper a gravidez, contra 32% que defendem esse direito. Os que não opinaram somam 10%. Ainda segundo a pesquisa, nos casos em que a microcefalia já foi comprovada durante a gestação, 51% das pessoas se posicionam contrários ao direito de abortar e 39% a favor.
Aborto é pecado?
O Ministério da Saúde dá amparo legal para o aborto em três situações: quando não há outro meio de salvar a vida da mulher, quando a gravidez é resultado de estupro e nos casos de anencefalia, isto é, quando o feto nasce sem cérebro. O procedimento então é feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No Brasil, muitas mulheres morrem em clínicas clandestinas de aborto, por isso, alguns movimentos são a favor da legalização do aborto, a fim de que a mulher possa optar em interromper a gravidez em um local legal e seguro para a saúde dela. “Não considero o aborto um método para evitar filhos, e sim uma interrupção da vida. Apoio os casos previstos em lei, desde que a mulher opte por isso, porque são situações muito delicadas”, salienta a enfermeira de terapia intensiva pediátrica, Lidia Meyre.
O pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus na Zona Oeste, Luiz Santos, afirma que o aborto é pecado. “A vida humana é intocável desde o primeiro instante em que é concebida. Baseamos nossa posição nos ensinamentos bíblicos, no Livro de Êxodo 20.13: ‘Não matarás’. Desde o momento em que o criador soprou vida no primeiro ser humano, as vidas humanas seguintes passaram a exalar a mesma essência. Quando ocorre a concepção, a vida humana é transmitida para uma nova forma individual e singular. Qualquer tentativa de interrompê-la constitui-se pecado perante o Criador”, declara. A pastora do Ministério Casas de Paz, Vanda Mendes de Melo, rememora Isaias 49.15: “Porventura pode uma mulher esquecer-se tanto de seu filho que cria, que não se compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse dele, contudo eu não me esquecerei de ti.” A pastora explica que é exatamente o que acontece atualmente, o afeto dos pais pelos filhos está diminuindo. “Só se ama se a criança for perfeita, se for bonita? Se a criança vier com uma deformidade ou doença, não tem amor? Mata, aborta, joga fora a criança? Estamos vivendo os últimos dias da igreja na Terra. Somos totalmente contra o aborto. É Deus que dá a vida, Ele é criador de todas as coisas. Só Ele tem o direito de tirar a vida de alguém. Em nome de Jesus não aborte. Um dos mandamentos é: não matarás. Não vá contra a vontade de Deus”, apela.
“Não erreis, Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”– Gálatas 6.7, versículo bíblico que o pastor Luiz Santos faz menção para explicar que a mulher que mata um feto indefeso em uma clínica de aborto clandestina receberá o castigo de Deus. O pastor ainda ressalta que a justiça deve fechar todas as clínicas clandestinas e não legalizar o aborto. “Sou totalmente contra uma lei covarde que incentiva e ratifica o morticínio de seres indefesos, para ocultar o pecado de mulheres devassas, adúlteras e irresponsáveis que se entregam ao sexo exacerbado e depois, com a cara mais lavada, se exibem no seio da sociedade como boa moça”, finaliza.