A visão que temos sobre Deus define duas coisas muito importantes: a visão que temos sobre nós mesmos e a forma que lidamos com o próximo.
Se Deus é alguém necessariamente vingativo e que tem por missão de vida vigiar e punir, certamente teremos essa pré-disposição para tratar os outros da mesma forma. Se Deus é alguém leniente com o erro ou o engano, se Ele é quase que um cúmplice da maldade e perversidade humana, certamente muitos de nós trataremos a graça da maneira mais “desgraçada” possível. Deus não pode ser à proporção de nossa personalidade e caráter. Não podemos estabelecer um Deus segundo a própria conveniência, pois, caso contrário, teremos apenas uma versão um pouco mais divinizada e subjetiva daquilo que constatamos no espelho. É infinitamente melhor (na verdade, é a única possibilidade) considerarmos o que a Escritura tem a dizer sobre este assunto, muito mais do que quaisquer especulações do universo cristão ou mesmo não cristão.
Uma das maiores citações aos atributos de Deus encontramos nos Salmos, e é possível perceber uma tônica: por muitas vezes, é dito que “Ele é bom” (Sl 107.1; 118.1,29; 136.1 etc.). O Deus da Escritura é todo-bondoso, digamos assim. Outra atribuição ao SENHOR é que Ele é todo-poderoso, e você pode encontrar ainda nos livros poéticos (Jó, Salmos e Provérbios, principalmente), a presença dessa expressão de maneira mais contínua e repetida. Então até aqui vemos que Deus é todo-bondoso e todo-poderoso. Um Deus que detém toda a bondade poderia agir de maneira perversa? Um Deus que detém todo o poder poderia atuar com injustiça? Como equalizar essas grandes características divinas com a relação que existe entre Ele e o homem que criou?
Creio que a melhor explicação se encontra na cruz de Jesus Cristo. Sobre ela, foi profetizado: “Certamente, Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”, Isaías 53.4,5.
E também: “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido. Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca. Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos”, Isaías 53.6-10.
Segundo o texto acima do profeta Isaías, Deus castiga sim, mas não necessariamente possui um propósito ímpio nisso. Ele o faz por um propósito santo. Ele o faz para remover a culpa do Seu povo e salvar Sua igreja. Deus é tão bom, que poupa quem merece e faz sofrer Seu único Filho. Deus é tão poderoso, que faz o próprio Messias enfermar, ao “moê-lo”. Será que é possível compreender a dimensão da profundidade de graça? Contudo, está escrito em outros textos da Escritura que a rejeição ao Filho de Deus, este que foi morto no lugar dos pecadores, implica num castigo eterno. Diz a Palavra: “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna”, Mateus 25.46. Leia o contexto e você verá uma parábola, onde pessoas representadas nas figuras de “ovelha e bode” serão separadas à esquerda e à direita pelo Senhor Jesus. Ele estabeleceu um critério para isso e, no fim, assim fará conforme descrito no versículo 46. O texto é claro sobre um castigo eterno, assim como é claro sobre a vida eterna.
Então, é bastante possível concluir que Deus não castiga, porque este verbo está no modo presente do indicativo e bem sabemos que, agora, Deus tem chamado pela pregação muitos ao Reino através da fé e do arrependimento. A melhor resposta, portanto, é que Deus, apesar de todo-bondoso e todo-poderoso, um dia castigará aqueles que rejeitarem a graça ofertada pela obra de Seu Filho, Jesus Cristo. Deus “castigará” os ímpios e separará os bodes, e este é o futuro do presente.
Excelente reflexão. O último parágrafo resume bem o que será feito àquele que não reconhece hoje a Jesus como seu único e suficiente Salvador: O Senhor não castiga hoje, não julga hoje, não decreta hoje, mas castigará, julgará e decretará um juízo final sobre todos aqueles que o rejeitam, porque o que fazemos hoje repercutirá na eternidade. Pense nisso!