Alguns cristãos dedicam mais tempo nas redes sociais do que com Deus
Por Daniella Fernandes
Elas estão cada vez mais acessíveis. Podemos dizer que, na grande maioria das vezes, na palma da mão. As redes sociais, como Facebook, Twitter, Instagram, Whatsapp, dentre outras, estão ocupando uma boa parte do tempo dos brasileiros. Hoje, com o avanço da tecnologia, é possível ficar online 24 horas por dia, em diversos lugares, através dos celulares e tablets. Dados comprovam que as pessoas estão cada vez mais conectadas. Segundo a Anatel, existem mais aparelhos celulares do que moradores no Brasil. A Anatel calcula 138 equipamentos para cada grupo de 100 habitantes.
A vontade de ficar online o tempo inteiro faz com que a maioria das pessoas, ao redor do mundo, usem a internet no celular para acessar as redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas – é o que revela também a pesquisa de uma empresa de análise de aplicativos da Yahoo, a Flurry. Ainda de acordo com o levantamento, há mais de 280 milhões de compulsivos por smartphone no mundo. Já existem vários centros de tratamento para viciados em internet e celulares.
Não é mais novidade que o uso de tanta tecnologia acaba interferindo nas relações pessoais e também no modo de se relacionar. Quem nunca presenciou pessoas mexendo em seus aparelhos em uma reunião de amigos, por exemplo? Vemos o tempo todo pessoas conectadas, fazendo selfie, conversando online, enquanto poderiam desfrutar da presença dos amigos e da família no mundo real. Mas isso não para por aí: o uso obsessivo da internet e redes sociais também está interferindo no relacionamento dos cristãos com Deus.
O JRE fez uma enquete com pessoas evangélicas e 90% delas responderam que o uso das redes sociais consome boa parte do tempo que elas deveriam dedicar para Deus, mesmo às vezes sem perceberem. Algumas delas explicam que fazem propósitos para ficarem menos tempo conectadas e assim poderem ler a Bíblia, orarem e fazerem o devocional diário com Deus. Muitos que participaram da enquete também ressaltaram que o tempo de qualidade em família fica comprometido por conta do período em que passam na internet.
O pastor da Igreja Batista Nova Filadélfia, em Sulacap, Danilo Vilas Bôas, diz que o uso descontrolado das redes sociais rouba o tempo dos cristãos com Deus e que isso é um problema gravíssimo. “Em Eclesiastes, capítulo 3, encontramos base Bíblica de que Deus nos dá um tempo determinado para todas as coisas. Nós é que temos de saber como administrar o nosso tempo. Um dos problemas mais comentados hoje, acerca das redes sociais, é que muitas das vezes nós, cristãos, quando acordamos não oramos mais, nem para pedir a bênção d’Ele para o dia que se inicia. Já acordamos conectados ao nosso aparelho celular ou qualquer aparelho que nos conecte à internet e às pessoas”, lamenta o pastor.
Algumas pessoas vão à igreja e assistem ao culto conectadas, aproveitam para postar o que acontece em tempo real e até chegam a trocar mensagens durante o período do culto. O pastor Danilo conta que orienta os membros a não fazerem isso, porque explica que, quando eles estão mais preocupados em registrar ou gravar um período do culto, para colocarem nas redes sociais em tempo real, eles ficam com a capacidade de adorar e louvar a Deus reduzida ou prejudicada. Agindo desse modo, o pastor diz que ficamos desconectados do culto e apenas conectados às redes sociais. Ele ainda ri ao lembrar que fez uma “pegadinha” com os membros. Danilo pediu para que todos desligassem o celular ao chegarem ao culto. Em um dia de Escola Bíblica Dominical, ele quis testar e ver quem estava usando a internet. Do gabinete, ele publicou: “A EBD está maravilhosa!” No final do culto, uma irmã foi procurar o pastor e falou que estava conectada na internet, que viu a mensagem, que na hora ia comentar a publicação, mas lembrou que poderia ser um teste e rapidamente desligou o celular e voltou a prestar atenção na ministração da Palavra.
O pastor Danilo lembra que desde o Jardim do Éden Deus busca e prioriza se relacionar com o homem, e que nós precisamos dedicar nossa vida a Ele. “O próprio Jesus nos ensina em Mateus 6:33: ‘buscai primeiro o reino de Deus’. Nós priorizamos tudo, um encontro, o trabalho, um relacionamento, vida pessoal e deixamos sempre Deus de lado, sempre achamos que Deus deve entender, pois Ele é misericordioso e está vendo tudo. Mas quando somos colocados de frente à condição que Deus nos deu, baseando-nos em sua palavra e vontade, vemos que Ele não quer apenas um tempo, Ele quer ser prioridade em nossa vida”, finaliza.
Riscos à saúde
A compulsão de estar sempre conectado não interfere só no relacionamento com as pessoas e com Deus, prejudica também a saúde. O uso contínuo do aparelho celular, por exemplo, pode gerar problemas de tendinite nas mãos e dores na coluna cervical (já que o pescoço fica abaixado por longo tempo). “O maior problema do uso excessivo de celular e computador é que o usuário mantém movimentos repetidos por um longo período, o que é ainda pior se for com muita frequência. A postura vai sendo modificada de forma prejudicial, pois quanto maior o tempo gasto diante deles, mais a pessoa se distrai ou se concentra muito no que está fazendo e, ao se cansar, vai adotando posturas prejudiciais”, alerta a fisioterapeuta Lana de Oliveira.
De acordo com a fisioterapeuta, os movimentos repetidos em exagero podem causar doenças conhecidas como LER (lesões por esforços repetitivos) ou DORT (doenças osteoarticulares relacionadas ao trabalho), ou ainda as mais conhecidas: tendinite, síndrome do túnel do carpo, epicondilites, entre outras. Ela ainda orienta a não manter a mesma postura por um longo período, policiar-se para que a cervical não seja mantida muito tempo curvada e sempre manter os cotovelos e antebraços apoiados. “Seria adequado uma pausa de pelo menos cinco a dez minutos a cada uma hora, uma hora e meia no máximo, para parar de digitar, relaxar a musculatura e andar um pouco”, explica.
O Instituto Delete, empresa dedicada a orientar e informar a sociedade sobre o uso consciente das tecnologias, também dá algumas dicas importantes para a pessoa não prejudicar a saúde: desligar o celular ou deixá-lo no modo “silencioso” na hora de dormir, não mexer no aparelho quando estiver dirigindo e nem durante as refeições e criar horários específicos para navegar pelas redes sociais.
Foto Danilo Vilas Bôas