Vivemos em uma sociedade consumista e marcada pelo pensamento de curto prazo. O consumismo tem afetado todas as dimensões da vida pós-moderna. Bauman afirma que “a síndrome consumista degradou a duração e promoveu a transitoriedade. Colocou o valor da novidade acima do valor da permanência. Encurtou drasticamente o lapso de tempo que separa o querer do obter” (Vida Líquida, p.109). Este processo acelera os meios de produção, visando atender uma demanda provocada pela propaganda e pela exploração do desejo.
Percebemos a síndrome consumista, no meio caracterizado como evangélico, com um sinal da assimilação dos valores do mundo pós-moderno na dinâmica da fé. Esta síndrome tem transformado o comportamento das pessoas que transitam no ambiente da fé. Quais seriam as características da síndrome consumista evangélica?
- A síndrome consumista evangélica é caracterizada pela exigência. Observamos que as pessoas estão cada vez mais seletivas quando se propõem a escolher um local “para desenvolverem” sua espiritualidade. Já que neste caso a questão não é servir e sim consumir, as perguntas são: O que eles me oferecem? Quais os pontos positivos e negativos neste lugar? O que eu ganho ao me associar ao grupo? Desta forma, uma comunidade de fé é escolhida como se escolhe um banco.
- A síndrome consumista evangélica é caracterizada pela transitoriedade. Como afirmou Estevam Fernandes em O Espetáculo do Sagrado, “Dentre as suas muitas características, a pós-modernidade possui um caráter migratório que, associado a outros indicadores como a velocidade, a transitoriedade, a descartabilidade e a instabilidade, conduz o indivíduo para a elaboração de uma religiosidade intimista, uma privatização do sagrado, por meio da qual o seu referencial religioso é constituído de elementos e experiências apropriados segundo o seu arbitrário e necessidade…” (p.51). No processo religioso e da fé, vemos com regularidade a transitoriedade, que é percebida pela ausência de compromisso, pela busca por experiências variadas e pela migração religiosa como consequência da constante insatisfação.
- A síndrome consumista evangélica é caracterizada pela transformação dos espaços religiosos em não lugares. Marc Augé classificou os não lugares como: “… instalações necessárias à circulação acelerada das pessoas e bens (vias expressas, trevos rodoviários, aeroportos) quanto os próprios meios de transporte ou os grandes centros comerciais…” (Não Lugares, p.36). O espaço onde transita o fiel é transformado por ele em um lugar de consumo sem identificação permanente. Como existem muitos consumidores e uma demanda acentuada, a competição é acirrada visando atender as expectativas dos clientes que transitam neste mercado religioso.
- A síndrome consumista evangélica é caracterizada pela busca da forma em detrimento do conteúdo. As pessoas são facilmente traídas pela sedução da forma em nossa sociedade. Em todas as esferas da vida, a desvalorização do conteúdo e a supervalorização da forma ocasionam consequências drásticas. No âmbito da fé, este comportamento produz pessoas superficiais, sem discernimento, egoístas, materialistas, sem relevância na sociedade e sem senso de missão. Talvez seja por este motivo que os cristãos aos “milhões” no Brasil ainda não estão fazendo a diferença.
- A síndrome consumista evangélica é caracterizada pelo desperdício. O estilo de vida consumista produz desperdício pela alta rotatividade dos bens de consumo que precisam ser substituídos pelos novos e mais interessantes. Em termos espirituais, o desperdício é evidenciado na ausência de continuidade, pelo apego ao que é fútil, pela negligência na utilização dos dons e talentos e pela falta de discernimento das oportunidades dadas por Deus. Como consequência, este desperdício prejudica o avanço da missão da igreja na Terra. No exercício de uma espiritualidade saudável, desperdiçar significa ser negligente com aquilo que deveria ser bem administrado. Desperdiçar é caminhar na contramão da instrução Divina e do evangelho de Cristo.
A síndrome consumista evangélica, pelas razões elencadas, deve ser questionada e rechaçada, pois manifesta valores que não deveriam coabitar com aqueles que se dizem comprometidos com o Reino Celestial. Este é, antes de tudo, classificado como doador, amoroso, comprometido com o bem estar alheio e que valoriza o equilíbrio em todas as dimensões da vida humana.