Pr. Josias Pereira Lima alerta sobre os males do ensino que mais tem sido pregado nos púlpitos de hoje.

Por Monique Suriano
moniquesuriano@yahoo.com.br

A pregação e o ensino generalizado do “evangelho da prosperidade” em todo o mundo levanta sérias preocupações. Ele é definido como o ensino onde a riqueza é sempre um sinal da benção de Deus e que a pobreza, a doença, ou a morte física, são sempre sinais da maldição de Deus, ou evidência de falta de fé. Ensinamentos de muitos que promovem energicamente o “evangelho da prosperidade” distorcem seriamente a Bíblia e suas práticas e estilo de vida geralmente são antiéticos e não semelhantes a Cristo. Para esclarecer o assunto, o JRE entrevistou o pastor Josias Pereira Lima, fundador do Ministério Chama Viva em Itaguaí. Formado em Teologia pelo Instituto Bíblico Betel Brasileiro e Mestre em Teologia pela FAECAD, o pastor explica como surgiu o “evangelho da prosperidade” e suas consequências para a igreja.

JRE: Qual é o tipo de mensagem que mais tem sido pregada nas igrejas ultimamente?
Pr. Josias Pereira: Eu tenho uma grande preocupação quando analiso friamente o conteúdo das mensagens que se tem ministrado nos púlpitos das igrejas. Durante muito tempo eu me dediquei a itinerância, e por isso sei bem que o evangelho que se tem pregado nos dias de hoje está vazio de sua essência primordial. A principal mensagem pregada nos púlpitos brasileiros independente de denominação é a prosperidade, as coisas palpáveis, visíveis. Cerca de 80% das pessoas que creem nesse evangelho vivem frustradas, porque da forma como esse evangelho da prosperidade é disseminado e vazio da verdadeira essência e pela inversão de valores que ele provoca: busca-se a benção ao invés de buscarem o Deus da benção, fazem com que as pessoas vão à igreja com fome e sede das bênçãos e não do criador, do dono da benção.

JRE: Mas é possível ser abençoado sem desejar o dono da bênção?
Pr. Josias Pereira: O escritor aos Hebreus 11, versículo 6, diz que sem fé é impossível agradar a Deus, porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus, creia que Ele existe e é galardoador dos que o buscam. Então para você receber aquilo a qual Deus tem para dar é necessário primeiro se aproximar dele pelo o que Ele é, com isso as bênçãos com certeza te perseguirão. Quando a pessoa se relaciona com Deus por interesse naquilo em que Ele pode dar, Deus na realidade não concede, porque Deus colocou a sua Palavra acima dele. A única coisa que está acima de Deus é a Palavra dele. Ele não transgride a sua própria Palavra, para você receber algo de Deus é necessário primeiro buscá-lo.

JRE: E qual é o resultado do “evangelho da prosperidade” na vida do cristão?
Pr. Josias Pereira: As pessoas que não buscam a Deus, mas buscam aquilo que Deus tem para dar acabam se frustrando, e logo após a frustração vem o esfriamento, o desânimo, a apostasia, a depressão. Em suma, o resultado principal é a amortização da ação do Espírito Santo na vida da igreja como um todo. Então quando extinguimos a ação do Espírito Santo, ignorando o conselho de Paulo em 1º Tessalonicenses 5.19, que diz: “Não extingais o Espírito”, com esse evangelho chulo, ralinho, as igrejas vão continuar cheias de pessoas vazias, mortas espiritualmente. Precisamos hoje urgentemente de um avivamento que só viria a partir do momento que a pregação volte aos eixos da Palavra.

O que precisa mudar?
Precisamos nos despir um pouco de nossa vaidade e reconhecer que necessitamos de Jesus. O evangelho da forma como Jesus ensinou e da forma como a igreja primitiva pregava e falava é simples, porém muito objetiva. De tão simples e tão objetivo ele se torna chocante, impactante, e esse choque hoje os principais líderes evangélicos não querem dar, porque não lhes convém. Então nós precisamos deixar aquilo que aparentemente nos é conveniente, para voltarmos a buscar a verdadeira essência do evangelho, ensinada, vivida e pregada da mesma forma como a igreja primitiva.

Quando foi que esse “evangelho da prosperidade” surgiu?
Iniciou na década de 90 quando as editoras evangélicas do Brasil começaram a abrir as portas para literaturas, principalmente dos Estados Unidos da América e Canadá onde ele já estava sendo difundido. A chegada desses materiais no Brasil começou a tirar a essência do evangelho que vivíamos aqui, que era conhecido como aquela teologia pesada, puritana, porém sobrecarregada das essências dos ensinos de Jesus Cristo.

Como fazer para voltarmos à boa prática da genuína pregação?
É necessário desaprender para que possamos reaprender a trilhar por um caminho seguro. Precisamos nos esvaziar, para que possamos ser cheios do Espírito Santo de Deus. Precisamos deixar mais os livros que falam sobre a Bíblia, e lermos mais a Bíblia. Precisamos ouvir menos os filósofos, idealistas, sonhadores e ouvirmos mais o Espírito Santo. Precisamos deixar as nossas vontades loucas e buscarmos mais a Deus em oração e meditação da sua Palavra. Pois a profundeza do evangelho é isso, de onde jamais deveríamos ter saído.

Qual a sua opinião sobre os novos costumes adotados pelas igrejas, como por exemplo na forma de vestir?
Ter uma vida de santidade, ter uma vida de submissão a Deus, ter uma vida inteiramente entregue aos serviços de Deus automaticamente nos faz diferentes. E nós de fato nos tornaram aquilo que Jesus Cristo disse que devemos ser: sal da terra e luz do mundo. Os costumes, até determinado ponto, são saudáveis, por isso o apóstolo Paulo disse que deveríamos ter muito cuidado porque as más conversações corrompem os bons costumes. Agora, a igreja de hoje no Brasil se encontra com escassez da Bíblia ensinada e é por isso que o membro vai à igreja com os mesmo trajes de quem vai ao baile funk.

Mas será que as pessoas estão interessadas no estudo da Palavra?
Infelizmente não. Os cultos que inflamam são os cultos da benção, da vitória, da conquista, da promessa etc… O culto voltado para o ensinamento da Palavra e a tradicional Escola Bíblica Dominical se encontra em inópia.

E o que falar dos pregadores itinerantes?
Na realidade ser pregador itinerante ou pastor itinerante exige do indivíduo a consciência de que ele está entrando num mercado e isso infelizmente é uma realidade nos dias de hoje. Esses indivíduos estão visando a itinerância como um meio vida, uma profissão. O profissional do mercado itinerante tem um produto a oferecer, que é a pregação, por isso ele só vai pregar o que convém. Com esse tipo de pregador você raramente ouvirá uma ministração relacionada a genuína doutrina bíblica. O itinerante necessita manter-se em evidência, ele precisa ser bem aceito nas igrejas e como eu disse no início, o verdadeiro evangelho choca! Se a palavra de Deus não te confrontar, ela não te fará efeito nenhum. Evidente que para toda a regra existe a sua exceção. O verdadeiro itinerante, um verdadeiro João Batista deve ser um profeta nas mãos de Deus, e não um comerciante da Palavra de Deus. Quem escolhe ser profeta e submeter-se a Deus para ministrar aquilo que Deus quer não terá uma agenda concorrida, e isso a maioria deles não quer.