Responsável por expressivo trabalho de evangelização e ação social aos moradores de rua no bairro de Campo Grande, o pastor Brian Kibuuka é inteiramente contra as “Igrejas-Negócio”. Para ele, os maiores investimentos da instituição devem ser destinados ao resgate dos perdidos e à inclusão social dos necessitados. Conheça a trajetória ministerial e os conceitos desse homem de Deus.

Por Monique Suriano

Nesta edição, o REGIONAL conta a história do pastor Brian Gordon Lutalo Kibuuka, de 36 anos, presidente da Igreja Batista do Jardim Joari, em Campo Grande (RJ). Ele é graduado em Letras -Português-Grego- pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano do Rio de Janeiro; Bacharel em Teologia – Integralização de Créditos pela Universidade Metodista de São Paulo; Mestre em  Estudos Clássicos pela Universidade de Coimbra, Portugal; Mestre em História Antiga pela Universidade Federal Fluminense e Mestre em Letras Clássicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é membro do grupo de pesquisa NEREIDA- Núcleo de Estudos e Representações de Imagens Da Antiguidade. O pastor Brian Kibuuka é casado com a pastora Edeny Silva de Assis Kibuuka, com quem tem uma filha de seis meses, Aimeé Assis-Kibuuka.

Neto de pastor da Igreja Evangélica Anglicana em Uganda, na África, Brian Kibuuka foi o homem que restaurou o legado cristão da família. O pai dele abandonou a fé, quando veio para o Brasil na década de 70, fugido da ditadura de Idi Amin Dada. “Naquela época a situação do país era muito difícil, meu pai já tinha terminado os estudos de Agronomia na Universidade Makerere, e veio para o Brasil fazer mestrado e doutorado na Unicamp. Lá ele conheceu minha mãe e eles se casaram. Eu fui criado num ambiente totalmente arreligioso”, conta o paulista Kibuuka.

Foi diante de uma adolescência conturbada, que incluía a separação dos pais, que Brian conheceu a Jesus Cristo. “Por volta dos 17 anos, quando estávamos em Juiz de Fora (MG), minha mãe voltou para Campinas (SP). Eu estava fazendo o colégio técnico e fiquei sozinho na cidade para concluir o curso. Entre os meus amigos loucos, tinha um que era crente, o Jederson. Uma vez ele me convidou para ir à Igreja e eu fui. Era uma quarta-feira, quem estava pregando na primeira Igreja Presbiteriana de Juíz de Fora foi o pastor Geazi Tavares. Muito cético, eu questionava tudo o que ele dizia. Mas à medida que eu questionava o que ele estava dizendo, imediatamente ele mesmo respondia os meus questionamentos. Parecia que ele estava pregando só para mim naquele dia. A partir daquele momento eu tive certeza de que Deus existia, porque aquele homem não podia ler a minha mente. Eu questionava na mente: “Mas para você é fácil falar de Deus!”. No mesmo instante ele dizia: “E se você está achando que para mim é fácil, eu quero te dizer que….”. Naquele dia mesmo eu entreguei a minha vida para Jesus”, revela ele.

E não demorou muito tempo para que o jovem rapaz entendesse e atendesse ao chamado de Deus para sua vida. Ao se apresentar à liderança da igreja em que servia, ele foi enviado ao Rio de Janeiro para fazer o seminário integral Presbiteriano. “Logo que terminei o seminário, eu fui ordenado e passei servir na Igreja Presbiteriana de Realengo em uma congregação localizada em Marechal Hermes. Era uma congregação pequenininha, com um boteco bem ao lado onde as pessoas bebiam o dia inteiro e ficavam caídas ali na frente da igreja. Eu recebi muitos convites quando me formei, porque tinha ficado em 1º lugar na avaliação final do seminário, mas preferi servir a Deus no local mais marginal possível para não tirar o pé do chão, e não ser muito acadêmico e pouco pastor”, explica.

Após quatro anos exercendo o ministério pastoral, e diante de muitos conflitos pessoais, Kibuuka pediu exoneração da igreja para preparar-se mais nas áreas emocional, espiritual e acadêmica. “Eu entendi que deveria me preparar melhor para o meu ministério. Estudei grego, a história e os seus fundamentos, filosofia antiga, tudo isso para compreender bem o mundo do novo testamento. Estudei sobre experiência pastoral, para saber onde as pessoas sentem as dores e angústias, aprimorando minha capacidade de entendimento. Aprendi línguas como o latim, copta, grego, e comecei a ler as fontes bíblicas primárias. Li o novo testamento em grego e também todos os livros apócrifos e com isso poder agregar valores para o retorno ao meu ministério”, esclarece o pastor.

Retornando ao Brasil, depois de concluir os cursos de mestrado, Brian Kibukka foi ordenado pela Igreja Batista do Jardim Guanabara e começou a coordenar o departamento de Ação Social da igreja. No ano de 2011, ele teve que escolher entre pastorear a Igreja Batista de Jardim Joari e fazer doutorado na Universidade Federal de Paris. “Eu decide abrir mão de uma vida fácil e segura como professor universitário, para pastorear vidas. Sofri muitas barreiras por ser negro, acadêmico e de origem presbiteriana, mas nada me intimidou porque eu sabia que estava vivendo a vontade de Deus”, desabafou.

Após o diagnóstico da igreja e do bairro de Campo Grande, o pastor Kibuuka arregaçou as mangas e começou a transformar conhecimento em ação.  “Nós desenvolvemos quatro principais fundamentos para a Igreja: O primeiro é a pregação do evangelho em tempo integral:  uma pregação que alcance qualquer tipo de homem. Esse é o nosso forte. A segunda é instrução: todas as atividades da igreja são voltadas para a educação. Nós temos um seminário, mas o objetivo não é tirar irmãos de outras igrejas, e sim formar ministros que sirvam aqui mesmo. Pelo menos 12% dos membros são alunos assíduos do seminário. Aqui nós abrimos cursos para concursos com preços acessíveis a todos. Digo cursos de R$ 10, 20 ou 30 reais, com todo material didático incluso. A terceira é o trabalho de ação social: não me refiro apenas ao assistencialismo e sim a um trabalho de resgate de vidas. Nós transformamos isso na razão de ser da nossa igreja, nós levamos o pão e também oportunidade para a mudança de vida. Fazemos da distribuição de sopas, agasalhos e outros utensílios, o caminho para nos envolvermos com a vida. Nisso nós encontramos ex-presidiários, que querem uma oportunidade de trabalho e arrumamos trabalho para o presidiário. Hoje nossa igreja é frequentada por ex-presidiários, ex-prostitutas, ex-moradores de rua. O quarto fundamento é uma vivência de igreja que não se baseia tanto no grande culto de domingo: mas na vivência do evangelho em seu cotidiano. Nossos membros fazem culto doméstico todos os dias, e recebem material para isso. Aqui é normal termos mais de 60% dos membros nos cultos semanais da Igreja, pois eles entenderam a necessidade de uma profunda renovação da mente. O membro não é membro porque tem o seu nome no rol, aqui ele é diretamente envolvido nos trabalhos da igreja”, descreve o pastor Kibuuka.

Inteiramente contra as “Igrejas-Negócio”, Briam Kibuuka ressalta que o objetivo da igreja precisa ser a salvação das vidas. “Para mim as ovelhas não são cédulas, não são números, não são oportunidades, não são portas. Nós não fazemos questão que as pessoas sejam empresários, aqui todos somos irmãos. Nós não estamos interessados em pescar no aquário de ninguém, pois Deus me deu um oceano de oportunidades para resgatar os perdidos. Aqui nós queremos apenas as pessoas que não conhecem a Jesus, sejam elas ricas, pobres, pretas, brancas, amarelas, índios. Pessoas que tenham boa formação ou formação nenhuma. Nós queremos pregar um evangelho genuíno, em uma linguagem de fácil compreensão, para que possam conhecer Jesus e caminhar com integridade”, conclui o pastor Brian Kibuuka.