O que dizer dos “convertidos” que carregam os mais variados vícios encobertos enquanto cantam, pregam, dirigem cultos e até pastoreiam?

Por Monique Suriano
moniquesuriano@yahoo.com.br

Que o pecado faz separação entre Deus e o homem (Is 59.2), que todo aquele que comete pecado é servo do pecado (Jo 8.34), que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23), todo crente já sabe. Quando se pensa em um cristão, o que nos vem à mente é uma pessoa liberta da prática de pecados e vícios. Mas o que dizer dos “convertidos” que carregam os mais variados vícios encobertos enquanto cantam, pregam, dirigem cultos e até pastoreiam? Para esclarecer o polêmico tema, o REGIONAL entrevistou o pastor Gilberto Alonso Maia, dirigente da Equipe de Libertação da Igreja Assembleia de Deus, em Campo Grande (ELAD). Envolvido no ministério de libertação espiritual há mais de 40 anos, Maia se reconhece como polêmico, colecionando uma legião de fãs, e também de críticos, e fala abertamente de sua visão da igreja moderna e de como homens e mulheres cristãos se relacionam com a igreja, com Deus e os vícios.

JRE: Qual é o seu ponto de vista quanto aos cristãos que se encontram no vício? Há um percentual?
Pr. Gilberto Maia: Esse é de fato um tema que precisa ser abordado, dado sua relevância. É o que mais existe, diria que a maioria. Eu digo para você, baseado na minha experiência e no meu ministério, que há sim muitos membros que buscam a Deus e, ainda assim, não se encontram totalmente libertos de seus vícios. E mais, inclusive entre aqueles que controlam grandes ministérios. Eu lhe digo, com certa segurança, que é um índice bem acima de cinquenta por cento.

JRE: E quais são os vícios mais comuns identificados pelo senhor, nesses longos anos a frente de um ministério de libertação?
Pr. Gilberto Maia: Minha experiência diz que é a pornografia, principalmente na internet. Eu chamo a internet de “maldita”, para mim é uma coisa muito maligna. Esse instrumento traz sim muitos benefícios ?até para nós que somos pastores-, mas, infelizmente, tem muita gente se perdendo… Agora mesmo, faz bem pouco tempo, recebi em meu gabinete ministerial alguns jovens (inclusive homens de liderança no departamento das igrejas que eles frequentam) que confessaram esse tipo de prática. E vários casos semelhantes, onde a esposa acaba flagrando o marido entretido em um canal de pornografia.

JRE: Podemos dizer que as pessoas comumente encobrem seus vícios. No caso do cristão, que tenta se libertar, e ainda assim continua na prática do pecado, com seria lidar com esse dilema que, naturalmente, causa-lhe sofrimento e dor?
Pr. Gilberto Maia: Para responder a sua pergunta vou usar uma referência que é ilibada, que não há como questionar. Eu quero falar sobre o grande apóstolo Paulo. O nosso apóstolo escreve, a partir do capítulo VII, na carta aos Romanos, uma confissão muito forte. Ele enfatiza sua carnalidade quando diz: “eu sou carnal, e a lei é espiritual”. Ele quis dizer que há pecado habitando nele, que o pecado habita em seus membros. Então ele reflete: “Que miserável homem que sou eu, quem há de me livrar do corpo desta morte?” E ele sabia as consequências da carne, por isso diz que: “o bem que eu quero fazer eu não o faço.” Preste bem atenção! Quando Paulo diz que é pecador e que sua carne o lança em pecado a todo o momento?e quem disse isso não é Saulo, o perseguidor dos cristãos, é Paulo, aquele que recebia as excelentes revelações do Espírito?ele deixa claro o seu caráter de pecador, pois sua carne o faz pecar e ele, a todo instante, luta contra essa carne. Paulo continua e diz que recebe tremendas revelações dos céus e, ainda assim, porque é fraca, não deixa de lutar contra a sua carne. Então se Paulo passou por isso, eu passo, você passa, enfim, acredito que todos passam, uns mais e outros menos. Paulo tinha um espinho na carne e nós não sabemos do que se trata. Mas sabemos que a resposta do Senhor, com relação a isso, foi: “Paulo, Paulo, a minha graça te basta!”

Então podemos dizer que o espinho de Paulo era uma fraqueza?
Não posso afirmar, mas acredito que sim. Paulo era um cristão cheio da unção, cheio da visão e cheio de conhecimento, e muitos não depositavam fé nele. Mas o que importa é que sabemos que de todos os apóstolos Paulo foi, sem dúvida, o maior. E ele fala sobre sua natureza espiritual que é boa e sobre sua natureza carnal, com quem luta constantemente. Há um versículo que diz que aquele que se inclina para o Espírito tem vida e tem paz. E quem se inclina para carne? Esse tem corrupção e morte. Paulo disse que a carne não pode sobrepor-se ao Espírito. Paulo nos aconselha que sejamos sempre firmes, constantes e abundantes na presença de Deus, ou seja, no Espírito. Paulo, a exemplo de um ministério, diz que combatera um bom combate e que agora, encerrada a carreira, guardou a fé. Nosso apóstolo leva esse espinho na carne até seus últimos dias, Deus não quis arrancá-lo, uma vez que seria necessário para o crescimento de Paulo. E esse pecado é por causa da natureza carnal dele.

Como é na prática essa luta contra a carnalidade humana?
Dentro de cada pessoa existem as tentações, os desejos, as vontades pecaminosas. Coisas que eu preciso manter vedadas. Sabemos que somos a todos os instantes tentados. Jesus não foi tentado? Não foi Ele, no deserto, tentado quarenta dias e quarenta noites?  Isso nos diz que nem o filho de Deus foi poupado da tentação; agora, será que eu sou melhor que Paulo? Você é?  Alguém em alguma igreja é melhor que Paulo? O próprio apóstolo Paulo nos diz que o pecado habita dentro dele. O pecado habita nos seus membros. Ao dizer isso, Paulo se despiu e, nu diante da igreja de cristo, diz que ele é o que é… cheio de problemas, cheio de lutas interiores, mas que combateu um bom combate. E assim, como Paulo, devemos lutar até o final.

E como fica a questão do “Novo Nascimento” no caso do cristão que vive na prática do pecado?
Na prática, ninguém nasce de novo com o batismo. Todos nós nascemos a cada dia. Paulo foi nascendo… O que nos diz a Bíblia? Que aquele que é sujo, suja-se ainda mais; aquele que é imundo, que fique na imundície! Aquele que é justo, que busque a justiça!  Santificar-se-á, ainda mais, aquele que é santo. Há um provérbio (4:18), que gosto muito e levo em minha vida, que diz que “a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” Não é porque alguém aceita Jesus em sua vida que, automaticamente, ele estará limpo de todos os pecados. A santidade necessária, para que se alcance o céu, virá ao longo de uma dura caminhada. A igreja erra e erra muito, uma vez que ela não trabalha na libertação do novo convertido. Hoje em dia, nós nos deparamos com crentes que têm 10 anos dentro da igreja e ainda agem com novos convertidos. Parece que seus membros partem do pressuposto daquela aceitação, esquecendo-se que aquele que disse aceitar Jesus vem com muitos vícios. Ele vem como todo o tipo de emaranhado de sujeira para dentro da igreja. Esse irmão passa pelas aulas de novos convertidos, alegra-se com as novidades e tudo fica muito bonito! Entretanto, por dentro, esse irmão continua carregando em si aquele lixo, pois ninguém trabalhou as mazelas que o habitam! Chegará o momento em que o pecado, como a larva do vulcão, será expelido com toda força. Essas mazelas vão começar a mexer com o sentimento, porque as crises chegam, os problemas chegam, e aí, no meio da crise, ele está lá sofrendo e ninguém percebeu isso. O irmão fraco, uma vez que a igreja negligenciou seu auxílio, encontra-se susceptível às tentações. Ninguém o tratou. O nascer outra vez, é diário. Ninguém nasce de um dia para o outro. O nascer novamente de Nicodemos é o nascer todo dia.

E por que essas pessoas não conseguem se libertar dos vícios durante a caminhada?
Por que não têm ninguém que cuide delas? As igrejas não estão nem aí para isso! As igrejas estão interessadas no “volume”.

E quanto aos irmãos que estão no ministério e continuam na prática de vícios?
A Bíblia fala que quanto mais é dado, mais será cobrado. Então, através disso, entendo que o grande problema não está no pecado em si, mas na pessoa que perdeu a vergonha do pecado. Quando o pecado é confessado, quando há arrependimento diante de Deus, reconhecendo o valor de Cristo e de Sua obra, o irmão vai encontrar em Deus a misericórdia e abandonar o pecado. Aquele que luta contra o pecado está sob o olhar esperançoso de Deus. 

O senhor gostaria de citar o exemplo de alguém que esteve nessa situação?
Há alguns anos, conheci um pastor que tinha uma reputação ilibada. Sua glória não era apenas uma consequência de seu trabalho ministerial, mas também o resultado do que construíra ao longo de anos, no meio evangélico, de um trabalho marcado por uma vida profissional responsável e ética. Próximo de sua morte, ele, de quem não posso falar o nome, é claro, pois era uma pessoa muito conhecida, procurou-me e me confessou seus pecados. Ouvi-o horas a fio, pacientemente! E qual poderia ser o pecado de um pastor eminente, que viveu toda vida servindo à igreja e a Cristo? Ele dirigiu igrejas, salvou almas, orou, jejuou e serviu a Deus. O problema é que ele não podia ver mulher! Ele disse ser viciado em masturbação… Imagina o que é ouvir isso de um pastor? Para ele, já não era mais suportável viver com aquela fraqueza… Meia hora depois de confessar, ele veio a falecer.

O que dizer do cristão que tem vício, mas não tem sua consciência condenada, ou seja, sua consciência está limpa com relação ao pecado?
Esse é soberbo! Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. O que a Palavra diz: “Sujeita-vos pois a Deus, resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós!” Para que o diabo fuja da minha vida, eu preciso me humilhar diante de Deus e confessar o meu pecado. Então, aquele que a consciência não o condena, diz, de outra forma, que não precisa de Deus. E Deus diz, então, fique com a sua soberba!

E existe salvação para esses irmãos, os que são soberbos?
A Bíblia diz que a misericórdia do Senhor se renova a cada manhã, sempre, sempre e sempre.  O problema é a morte! A morte faz a separação. Ao homem é dado o direito de morrer só uma única vez. Segundo a Bíblia, todos nós pecamos e como resultado do pecado, todos nós já merecemos a morte. O momento da morte é o divisor de águas. Deus é misericordioso, o problema é que a morte pode chegar antes da misericórdia de Deus.

E aqueles que desejam receber a misericórdia de Deus, o que devem fazer?
Quais são os pastores que se dedicam a se entregar ao ministério, esperando que as ovelhas confessem as suas fraquezas. Podemos contar nos dedos. Parece que as pessoas não confiam em seus pastores. Diria que o primeiro passo, então, seria a confissão. Se as igrejas de hoje tivessem um gabinete disponível, com pessoas cheias de Espírito Santo, nós não teríamos tantos problemas. Há, infelizmente, muitos irmãos e irmãos sem qualquer orientação. Eles não têm com quem confessar! Os pastores não querem mais abrir o gabinete para os que desejam confessar. Toda igreja deveria incentivar, cada vez mais, a confissão de pecados pelos irmãos. Hoje raramente falamos sobre o pecado e sobre todas as questões atreladas a ele.

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