O que a Bíblia fala sobre o servo de Deus marcar o corpo com tatuagens?

Por Daniella Fernandes
danyyfernandys@hotmail.com

Colorida, preta e branca e agora até em 3D. A tatuagem tem feito parte do universo de muitas pessoas e agora também está se inserindo no meio cristão. A tatuagem para alguns, evangélicos ou não, ainda é um tabu. Porém algumas igrejas já não mantêm o mesmo rigor a respeito de ter ou fazer uma tatuagem. Por conta disso, muitos debates têm se levantado no meio cristão. Muitos ainda se perguntam: é pecado se tatuar?

O evangelista e pastor da juventude do Projeto Vida Nova de Irajá, Fagner Estevão, diz que não há nada que o cristão não possa fazer, a única coisa que não pode fazer é pecar. Tudo que deixamos de fazer, deixamos exercendo nossa escolha de agradar o coração de Deus e viver em santidade como Ele é Santo. O ato de se tatuar não é um ato pecaminoso, apesar de poder trazer o pecado, por exemplo, no caso de um jovem que se tatua em desobediência aos pais. O pecado estará muito facilmente exposto, seja em contendas com os pais, com a igreja local ou com os líderes; às vezes por inveja: ‘preciso fazer porque fulano ou fulana fez’, e por aí vai”, explica.

Quando um evangélico questiona se tatuagem é pecado, o versículo bíblico mais lembrado é Levítico 19.28: “Não façam cortes em seus corpos por causa dos mortos, nem tatuagem em si mesmos. Eu sou o Senhor”. O pastor Fagner Estevão ainda explica que esse texto expressa a proibição feita na Lei e que não vem como uma proibição isolada, mas sim como um alerta e ensino a Israel para se preservarem somente para Deus e não se misturarem com outros povos, práticas e crendices deles. O pastor conta que esse é o único texto da Bíblia em que há uma referência direta.

Para o pastor da Igreja Batista da Vitória em Santa Cruz-RJ, Francisco Almeida, o cristão não deve se tatuar porque não é conveniente. Ele diz que é preciso observar Levítico 19.28 onde diz que o crente não deve fazer marcas ou lacerações no corpo, isso significa que o povo não podia, e hoje também não pode, se aliar aos costumes egípcios. “Eles tinham hábito de marcarem o corpo com os nomes dos seus mortos. E outros povos também, que faziam lacerações (marcas) no corpo para invocar outros deuses ou mesmo por autopunição e culto a essas divindades, e também como forma de revolta e protesto aos padrões sociais normais. O povo estava vivendo entre pagãos e tinha se contaminado, por isso Deus fez essa recomendação. Não é diferente do momento em que vivemos: estamos ressuscitando as tatuagens e lacerações que remontam momentos da história em que o povo abandonou o Deus verdadeiro e seguiu a deuses que exigiam compromissos de marcas corpóreas, feitas, algumas vezes, com corantes e pontas de ossos, para penetrarem profundamente na pele”, conta.

A jovem cristã da Primeira Igreja Batista em São Gonçalo, Michelle Gripp, que é maquiadora profissional, produtora de moda e tatuada, diz que, infelizmente, dentro das igrejas, ainda existem tabu e preconceito com as pessoas que fogem do padrão tradicional que sempre foi visto no meio evangélico. Michelle conta que os cristãos tatuados são marginalizados. “Isso é uma questão de respeito ao próximo, vai além de valores. Eu posso não querer tomar determinadas atitudes, quanto ao meu ponto de vista, mas não posso criticar ou dar lições fracionadas sobre alguns versículos isolados da Bíblia, para convencer ou constranger a pessoa tatuada, que eu não gosto da atitude dela, e tentar mudar a pessoa por eu achar que isso a levará ao inferno ou causará escândalos dentro e fora dos templos. Igreja somos nós, a nossa função é abraçar e amar o próximo como ele é e não querer rotular uma pessoa por suas escolhas diferentes. Já fui vítima de olhares assustados. Mas hoje isso não me incomoda. Tenho certeza da minha conversão e salvação. Então, quando estou sendo marginalizada, olho apenas para o alvo”, afirma.

O pastor Fagner ressalta que, pela tatuagem ser uma marca no corpo, é preciso ter cautela e muita certeza para fazê-la. Ele ainda diz que é necessário observar o que será feito. “Muitas tatuagens têm símbolos que remetem a cultos e rituais satânicos, outras apontam para sentidos supersticiosos, como a carpa, por exemplo. Os tribais devem ser evitados, uma vez que os traços podem ter sentidos desconhecidos para um leigo. É uma decisão muito séria que não pode ser tomada numa rápida conversa de roda de amigos. Outro fator a ser observado é a finalidade e o local da tatuagem. É muito comum ver jovens que se tatuam nas partes do corpo que consideram atraentes. Fazem para chamar a atenção para seu corpo e, muitas das vezes, com objetivo de serem sensuais. Isso não convém a um cristão”, pontua.

De acordo com o pastor Francisco, o cristão nasceu com a pele em perfeitas condições para viver e adorar o Deus verdadeiro, e não há necessidade de aparatos artificiais. O pastor também lembra o contexto histórico do piercing, que era um objeto utilizado para indicar o estado escravo. “Todos que usavam argolas, na maioria das vezes no nariz ou na orelha, sinalizavam que eram escravos de alguém, seja por escolha, por prisão ou compra. Portanto, parto da premissa bíblica que diz que somos escravos de Deus. Para sermos escravos de Deus não precisamos de piercing para marcar a escravidão. Já devemos ter as marcas de Cristo, trazemos o Espírito Santo de Deus, que é o nosso selo, indicando que sou escravo eterno do Senhor Deus, por meio da salvação em Cristo Jesus”, acrescenta.

Sou tatuado. Me converti  a Cristo, e agora?

Se uma pessoa já foi tatuada antes da conversão, ela deve tirar a tatuagem? O pastor da juventude do Projeto Vida Nova de Irajá, Fagner Estevão, afirma que, se uma pessoa se converteu ao evangelho de Cristo, ela precisa é viver o que Jesus falou para Nicodemos em João 3: “Necessário é nascer de novo, o que é nascido da carne, é carne, mas o que é nascido do Espírito é Espírito”. O pastor esclarece que uma verdadeira experiência com Jesus vai além da mudança estética, mas que, em alguns casos, principalmente quando as marcas trazem símbolos satânicos ou usam de sensualidade, o que se espera é que a pessoa se sinta mal e procure tirar aquilo do corpo. Mas ele ressalta que essa é uma obra da qual o próprio Espírito Santo se encarrega.

O pastor da Igreja Batista da Vitória em Santa Cruz-RJ, Francisco Almeida, explica que a Bíblia fala que Deus não leva em conta o tempo da ignorância do homem. “Acredito, piamente, que essas pessoas estão lavadas e remidas pelo sangue de Jesus e nenhuma condenação ou maldição estará ou permanecerá sobre sua vida. Tirar a tatuagem pode ser bom para marcar a vida como nova criatura e indicar a transformação, mas, se não for possível, indicará, principalmente para a pessoa, todas as vezes que olhar, o que era a sua vida e o que está sendo, depois de Jesus Cristo transformá-la. Esse é tipicamente a realidade que Paulo frisa, em uma das suas cartas: ‘esqueço-me das coisas que para trás ficam e prossigo para o alvo, rumo ao prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus’ – Filipenses 6.14”, finaliza.