O JRE conversou com um casal de pastores sobre assuntos polêmicos que envolvem o sexo na vida cristã 

Por Daniella Fernandes

Sexo. Algum tempo atrás, quando essa palavra era citada dentro de uma igreja evangélica causava estranheza, vergonha e até escândalo. Hoje, as igrejas evangélicas, de um modo geral, entenderam a importância da abordagem do sexo dentro de um contexto cristão. Muitas igrejas promovem palestras sobre sexualidade do cristão e cursos para casais, em que o tema é abordado à luz da Palavra de Deus. Há também pastores que são voltados para o ministério familiar e nos púlpitos das igrejas pregam sobre sexo, com muita descontração e naturalidade, o que torna a mensagem leve e até muitas vezes engraçada. Mesmo com uma maior abertura para conversar sobre sexualidade, alguns evangélicos ainda possuem tabus e dúvidas sobre o sexo na vida cristã. Para ajudar a esclarecer alguns questionamentos, à luz da Bíblia, o JRE conversou com o casal de pastores da Igreja do Reino em Maricá, Júnior Martins e Priscila Martins.

O sexo é um presente de Deus para a vida de casais casados. Em Hebreus 13.4, a Bíblia aconselha que os casais preservem o leito sem mácula. O pastor Júnior Martins ressalta que essa citação bíblica faz oposição à corrupção. “A mácula não só está relacionada a um ato da corrupção (prostituição), mas a um comportamento, uma conduta. O termo mácula, no original, refere-se também a puro, sincero, estado de adoração a Deus, ou seja, a principal instrução de Deus na instituição do matrimônio é ter uma só mulher e um só marido”, diz.

“A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher.” 1Co 7.4. Em alguns momentos esse versículo é usado de forma errônea. A pastora Priscila Martins explica que Deus criou genitálias complementares que correspondem mutuamente ao ato sexual. Ela diz que não é só o órgão genital, mas toda a anatomia corporal é correspondente, ou seja, “o corpo da mulher pertence ao marido e o corpo do marido pertence a mulher”. A pastora esclarece que isso não dá uma ideia de posse ou do uso liberal por parte de um dos cônjuges. Priscila afirma que no sexo não há autoridade, há complementação e cumplicidade.

De acordo com o pastor Júnior, estamos submersos numa cultura que explicitamente banalizou a plenitude do sexo, e isso não está ligado a um ambiente, mas ao conceito que se tem desse ambiente. Por isso, sobre se o cristão pode ou não frequentar motéis, o pastor exemplifica: “Um quarto residencial, de uma família cristã pode também abrigar prostituição como num quarto de motel, não no número de frequentadores, mas na motivação e comportamento sexual. A nossa indagação não é referente ao ambiente. Nada é do diabo até que concedamos oportunidade a ele, através de pensamentos e comportamentos. Isto pode fazer de um quarto de motel um lugar santificado e um quarto residencial corrompido. O meu conselho é que este ambiente não componha uma necessidade, uma dependência para o comportamento sexual do casal cristão. Que ele seja uma dentre as opções que o casal tem, sendo observado segurança, higiene e frequentadores. Tudo me é permitido, mas há questões que não convêm. Creio que o Espírito Santo trará o equilíbrio e direção, promovendo cura e também libertação de tabus, envolvendo o casal num acordo mutuo e saudável na rotina sexual”, pondera.

Alguns casais dizem que para apimentar a relação assistem a filmes pornôs, usam fantasias e realizam desejos sexuais. O pastor Júnior afirma que a indústria pornográfica abre precedentes, opções e oportunidades à imoralidade sexual que são contrárias aos propósitos de Deus na identidade e construção da intimidade do casal. Ele explica que o casal é complementar e não precisa de modelos ou terceiros dentro da relação. Já no que diz respeito a usar fantasias sexuais e realizar certos desejos, a pastora Priscila diz que não é pecado, mas que é preciso agir com moderação. “A liberalidade conjugal do casal cristão deve ser equilibrada pelo entendimento no Espírito, promovendo na liberdade a oportunidade de cumplicidade e sinergia sexual, sem dar ocasião à libertinagem. Portanto, caso haja o consenso do casal no uso de vestuário ou adereços para as fantasias que criaram, que isto não destitua a identidade do cônjuge (sua esposa não é uma colegial ou pode não ser uma empregada doméstica). Que não institua uma dependência emocional ou sexual, que não substitua a genitália do cônjuge, que não subjugue ou subestime o corpo, a forma e o desenvolvimento sexual do outro. Que esta decisão seja conversada e ponderada, promovendo alegria e liberdade sexual a dois”, explica.

Talvez duas questões que tragam mais questionamentos e conflitos para casais cristãos estão ligados ao sexo oral e anal. Existem muitas dúvidas em relação se a prática é pecado ou não. Segundo o pastor Júnior, sexo anal é pecado. “A Bíblia declara abertamente a abominação de Deus sobre a sodomia, que é prática do sexo anal. Há uma discrepância sobre o assunto, associando a sodomia ao efeminismo, porém em Coríntios 6.10 está escrito: ‘Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus’. Não são só efeminados que são adeptos ao sexo anal. A sodomia é uma prática que não é apenas de um grupo social”, diz o pastor. A esposa do pastor, Priscila Martins, explica que a respeito do sexo oral, não há nada literal e explícito na Bíblia sobre se a prática é ou não pecado. Mas ela deixa um conselho pautado em 1 João 3.20: “Sabendo que, se o nosso coração nos condena, maior é Deus do que o nosso coração, e conhece todas as coisas.”

O casal de pastores explica como um casal cristão pode manter uma vida sexual ativa e saudável e que glorifique a Deus. “Com cumplicidade. Nada mais é exclusivo, parcial e privativo, numa vida conjugal. Como cúmplices, deve haver conhecimento da expectativa sexual que um tem sobre o outro, numa comunicação franca, firme e madura. A oração é imprescindível, mas a comunicação é a munição dessa oração. Comuniquem-se, orem, convidem o Espírito Santo para o governo de suas mentes e motivações. Observem o outro e procure honrar e zelar pela integridade física e emocional. Invista tempo, exercite a paciência e manifeste amor. Construam ações do desejo focando um no outro, entendendo as limitações, pois vocês são uma só carne. Sendo Deus o centro dessa vida em comum, construindo um olhar de cumplicidade e compromisso sobre o outro, tudo irá bem e glorificará a Deus”, finaliza  o casal de pastores, Júnior e Priscila Martins.