Como o cristão pode comemorar o Natal sem entrar no paganismo religioso?

Por Daniella Fernandes

Luzes, presentes, comida, muita comida, amor e família. Junte todos esses ingredientes e tantos outros mais e teremos o Natal. O Natal é comemorado em muitos países e é uma época em que as pessoas ficam voltadas para a família e os corações estão mais sensíveis e solidários. É nesta data que muitos celebram o nascimento de Jesus Cristo. Mas, historicamente, o Natal era uma comemoração ao nascimento do deus sol (natalis invicti solis). No século III, a Igreja Católica deu um novo significado à data, a fim de converter povos pagãos, e então todo ano, em 25 de dezembro, começou a ser comemorado o nascimento de Jesus Cristo. Mas será que os cristãos festejam esta data da maneira certa? Evangélicos podem celebrar o Natal, já que a data não condiz com o verdadeiro dia do nascimento do Salvador?

O pastor da Igreja Batista Palavra Viva, José Mauricio, explica que o Natal é essencialmente comercial e que, do ponto de vista histórico, é uma festa pagã romana, e que, em nenhum momento, nem em registros históricos, nem na Bíblia, o mês de dezembro aparece como referência. Ele diz que nada impede que os cristãos comemorem a vinda do Salvador, mas o problema é que nesta data muitos pensam em Jesus como “o menino Deus”. “É perigosa esta alusão, pois nos faz esquecer de que Ele morreu adulto e, dentro do planejamento de Deus, conforme profetas, como Isaías, já tinha descrito séculos antes. A Bíblia não especifica uma data, mas quando o recenseamento foi convocado, a época deduz que seria em tempos sem chuva ou inverno para facilitar a locomoção. E mesmo sendo dezembro, na região de Belém deveria ser muito frio, segundo estudos climáticos para a época, para pastores estarem ao ar livre com suas ovelhas”, afirma.

De acordo com a pastora da Igreja Batista Nova Filadélfia em Campinho, Monica Marinho, hoje, por conta das misturas de significados e do sincretismo que envolve o Natal, este pode ser considerado uma festa pagã, e que, se a celebração fosse apenas pelo nascimento de Cristo, não haveria nada demais em festejar a data. “A partir do momento em que os símbolos pagãos e comerciais assumem a posição de primazia, a festa perde a importância no contexto familiar e piedoso. Do ponto de vista do cristão, colocando o foco em Jesus, sendo Ele lembrado em todo tempo, lembrando o motivo real do seu nascimento, a data não só pode, como também deve ser comemorada. É um dia estabelecido em calendário oficial e a Igreja em si não deve deixar passar em branco. Se a Igreja não comemora perderá a oportunidade de anunciar a Cristo num dia de comoção mundial. Neste dia é comum as pessoas estarem mais sensíveis ao evangelho, e nós não podemos deixar isso passar. Entretanto, como tudo na vida do cristão, devemos reter o que é bom (1 Tess 5.21) e avaliar o que nos convém”, ressalta.

Geralmente, no Natal as pessoas costumam enfeitar a casa com símbolos natalinos, usando árvores de natal, presépios e luzes. Na concepção do pastor José Mauricio, esses símbolos estão fora do contexto do cristianismo de Jesus, dos apóstolos e até mesmo dos primeiros bispos e mestres da Igreja das épocas anteriores. “Tudo isso surge na miscigenação ou sincretismo de cultos pagãos europeus que foram anexados ao longo dos séculos da chamada Idade Média, para a religião católica romana, no intuito de ganhar ou converter os seguidores de bruxos, magos, encantadores e a grande plebe que vivia nas florestas. Não há na Bíblia nenhuma referência a esses símbolos como marco na vida da Igreja ou do cristão”, diz.

A pastora Monica Marinho compartilha que acha lindo uma decoração de bom gosto, colorida e iluminada. Ela acredita que muitos cristãos adotam esses ornamentos muito mais pelo valor estético do que para se lembrar de Cristo ou até mesmo por uma devoção pagã. “A árvore de natal tem a origem dividida entre uma linda história atribuída a Martinho Lutero e o significado pagão de se levantar ramos verdes ao deus sol. Existem símbolos natalinos declaradamente pagãos, que são todos os relacionados com o Papai Noel: renas, bonecos de neve e etc, esses são dispensáveis. Eu também não preciso do presépio, por exemplo, são imagens de escultura que também são totalmente dispensáveis. Não precisamos de nada disso, podemos fazer uma boa decoração sem essas coisas. Não faltam ideias com luzes, flores e bolas. Ninguém traz para casa imagens e símbolos pagãos, se for bem orientado. Todas as coisas do cristão devem ser levadas em oração a Cristo e devem passar pelo crivo do Espírito Santo. Se todos os cristãos, em sua devoção, agissem desta maneira, dispensaríamos muitos símbolos em nossa casa, não só os natalinos”, aconselha a pastora.

Papai Noel deve fazer parte do Natal cristão?

Papai Noel. Talvez esse seja um dos símbolos mais venerados na festa natalina. A figura do Papai Noel também está presente em grande parte das decorações. O pastor Maurício lembra que o “bom velinho” é um ser mítico de origem católica (São Nicolau) e que a roupa vermelha que ele usa nada mais é do que um comercial da Coca-Cola. O pastor explica que ele agrega valores míticos e teológicos para as crianças, pois figura quase uma moral de deus. A pastora Monica Marinho aconselha que pais cristãos não devam, de maneira nenhuma, alimentar essa fantasia infantil. “Entre os símbolos natalinos, nada desvirtua mais o significado do nascimento de Cristo do que o Papai Noel. A troca de presentes, não deve ser priorizada, mas a troca de carinho e atenção. A criança deve ser ensinada que seus pais se esforçaram muito durante o ano para poder presenteá-la no dia do Natal. Entender que um estranho veio para satisfazer seu desejo é diminuir o valor da família neste dia tão especial. É muito mais significativo entender que os presentes são trocados porque o nascimento de Cristo nos trouxe um novo significado para as relações humanas, em que somos orientados a amar a Deus e ao nosso próximo. Cristo nasceu, este é o presente que toda a humanidade recebeu”, esclarece.

Segundo o pastor José Mauricio, o cristão deve comemorar o nascimento, a vinda e encarnação de Cristo, o Messias de Deus, que foi um maravilhoso marco na história da humanidade. Além disso, o pastor acrescenta que os cristãos devem celebrar a morte e ressurreição de Cristo, como se faz nas celebrações da Santa Ceia nas igrejas. “O Natal é idólatra e irreal para um cristianismo maduro, filosófico e ideológico. Faz gerar retrocesso antagônico ao que os apóstolos deixaram como regra de fé e credo para a Igreja”, ressalta. A pastora Monica diz que o cristão deve, sim, receber a família e os amigos em casa, compartilhar com eles de uma ceia natalina, trocar presentes e lembrar que estão reunidos, naquele dia especial, para agradecer a Deus por ter providenciado o Redentor. Esta, segundo a pastora, é uma comemoração sadia.