Entenda o que é a morte para os cristãos e como superar o luto

Por Daniella Fernandes

Morte. Quem é que gosta de falar sobre o assunto? Ele é sempre evitado por causar vários sentimentos ruins, inclusive o medo. Mas, para os cristãos, o que é a morte e como ela é encarada? “O medo de morrer é um medo natural, espontâneo e necessário, porque ele vem do nosso instinto de conservação, que serve para a preservação da nossa espécie. Já o medo da morte é inadequado, é um medo aprendido dentro da nossa cultura. Desde crianças ouvimos que a morte é algo ruim. Não é comum, dentro da nossa cultura, crianças participarem de velórios e sepultamentos. Nós não somos educados para aceitar a morte como sendo algo natural”, explica a psicóloga clínica e coordenadora do Núcleo de Apoio aos Enlutados (NAEn), Vera Vianna. Ainda segundo a psicóloga, a morte causa tanto medo no ser humano pelo fato de ele não estar preparado para aceitá-la; que é preciso ter expectativa de morte como se tem expectativa de vida, porque assim estaremos preparados para aceitá-la.

O pastor Paulo Pereira, que também é psicólogo e ministra o curso “Saúde Emocional e Vida Cristã”, diz que no Velho Testamento a morte era o fim da existência, pois as pessoas ainda não conheciam as revelações de Deus sobre a eternidade. A morte representava também um castigo divino, mas a vinda de Jesus mudou tudo. “Com a revelação na pessoa de Jesus Cristo, sua mensagem sobre ressurreição e salvação eterna, e os teólogos como Paulo, a morte passou a ser o fim do corpo carnal e o início da eternidade com uma vida em que não sofremos as limitações deste corpo e desta mente contaminados pelo pecado. Embora em Romanos 6.23 esteja escrito que ‘O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna’, já não é apenas a morte, mas o início do novo. Em um único versículo vemos a sentença de Deus para este corpo, mas a redenção da alma para a eternidade”, esclarece.

Por ter o Espírito Santo como consolador, algumas pessoas esperam que os cristãos se comportem de forma diferente diante da perda de uma pessoa querida. Mas o pastor e psicólogo Paulo explica que, em alguns casos, o desespero é presente, mesmo para os que esperam em Deus. “Alguns acham que o cristão não pode nem mesmo se desesperar diante de uma perda. E quantos adoecem depois disso, pois o que sentiam era exatamente um desespero. Isso não significa falta de fé. É uma dor profunda da alma. Em Eclesiastes 3 está escrito que há tempo de chorar e, inclusive, tempo de prantear. Entendo que o pranto é um choro profundo da alma, que pode incluir um desespero mesmo”, diz.  O pastor ainda ressalta que cada um sabe a sua dor, que isso não deve ser entendido como fraqueza da pessoa que mais demonstra a dor, e tampouco como sinal de maturidade de quem sofre aparentemente menos. “A conversão não tira a nossa humanidade”, afirma.

Como superar o luto?

 A psicóloga clínica e coordenadora do Núcleo de Apoio aos Enlutados (NAEn), Vera Vianna, lista as quatro fases do luto, de acordo com John Bowlby: a primeira fase é de entorpecimento e choque; a segunda é de anseio e busca; a terceira fase é de desorganização e desespero, e quarta e última fase é de reorganização. A psicóloga explica que é preciso ter em mente que o luto é considerado um processo, uma fase de transição e que não vai durar para sempre. “Suportamos mais a dor quando conseguimos crer que ela será passageira e cessará com o tempo, e não quando a negamos. É necessário saber que o processo de recuperação tem seus altos e baixos, há dias melhores e dias piores. Não tenha pressa de ‘ficar bem’. Quanto mais significativa for a sua perda, maior será a sua dor. É preciso permitir-se sentir a dor e expressá-la. Chore sempre que sentir vontade (isto serve para os homens também), porque o choro, além de trazer alívio, pode ser um escape químico para reduzir o estresse emocional. Eleja alguém para compartilhar a sua dor, para falar sobre os seus sentimentos. Uma dor compartilhada é eficaz na elaboração do luto”, aconselha.

O pastor e psicólogo Paulo Pereira também reforça a ideia de que é preciso se permitir passar pelo luto. Ele conta que é muito comum no momento de luto ouvir as expressões: “Fulano está com Deus”. E que ele imagina o enlutado dizendo: “Eu sei! Mas eu gostaria tanto que ainda estivesse comigo!”. O psicólogo diz que, reconhecendo a dor, o cristão pode buscar muito em oração a compreensão de sua perda. “Ele sabe que é Deus quem define o fim da existência terrena e, portanto, é também quem melhor pode responder às suas interrogações. O cristão também precisa estar aberto a buscar uma ajuda pastoral ou até psicológica, para melhor lidar com a perda”, ressalta.

A perda pode causar vários sentimentos, que não devem, de forma alguma, ser reprimidos, nem no anseio de querer ser o ‘mais forte’ para ajudar a família. Vera pontua que toda emoção reprimida causará, em longo prazo, um dano. Não vivenciar o luto é um comportamento inadequado, porque pode colocar a pessoa numa situação de risco, tanto físico quanto emocional. “Aquele que se isola para sofrer sozinho a dor da perda levará tempo maior para se recuperar. O que você não verbaliza pode ser transformado também em doenças que chamamos psicossomáticas.  O corpo reage com sintomas o que não é expresso em palavras. Expressar sentimentos é saudável, não é sinal de fraqueza, é sinal de saúde mental. Vivenciar o luto é um processo normal e necessário. Pensamentos suicidas persistentes, abuso de substâncias, tais como calmantes ou comprimidos para dormir, depressão constante, sentimentos excessivos de culpa e raiva são indicativos de que a ajuda de profissionais especializados se faz necessária”, salienta.