Ele adotou carreira para lá de polêmica, depois que resolveu deixar o grupo de funk Os Hawaianos para se tornar um “funkeiro de Jesus”

Por Monique Suriano
moniquesuriano@yahoo.com.br

Momentos antes de subir ao palco da festa realizada pela Catedral das Assembleias de Deus em Santa Cruz no Lar Betel, o cantor Tonzão concedeu uma entrevista exclusiva ao JRE e falou sobre as experiências de vida, de conversão, e da carreira para lá de polêmica, depois que resolveu deixar o grupo de funk Os Hawaianos para se tornar um “funkeiro de Jesus”. Recentemente ele lançou o vídeo clipe da música “Temos Montão”, um funk ostentação, que mostra o músico andando de helicóptero com sua esposa, vestindo roupas caras, em uma mansão com piscina e dirigindo o carro 4×4.

Na letra o cantor fala que o montão que hoje ele tem é usado para abençoar os irmãos. “Temos montão, temos montão, Deus deu muito pra nós pra dividir com os irmãos”, diz o refrão. O clipe foi produzido pela “Tom Produções” de Washington Rodrigues, conhecido por dirigir os vídeos clipes de funk de representantes desse gênero de todo o Brasil. Mas a letra de Tonzão é diferente dos funks ostentação que o mercado secular conhece, o evangélico fala contra o adultério e a bebida. “Ter um monte de mulher/ isso aí é pra covarde/ quero ver ter uma só e renunciar a própria carne/ Eu não quero Camaro amarelo/ isso pra mim é muito pouco/ eu quero andar com Jesus Cristo na carruagem de fogo/ Vodka é para os fracos/ eu tomo é santa ceia”, diz outro trecho.

A música “Temos Montão” faz parte do segundo CD gospel de Tonzão com o título “Coisa Linda de Deus” lançado depois que o cantor deixou a Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias onde havia lançado o CD “Tonzão e os Adudianos”.

JRE: De onde vem Tonzão?
Tonzão: Tonzão vem de Evertonzão. Eu era baixinho e magricelinho na minha adolescência. Eu morava na Cidade de Deus e me mudei de lá, ficando afastado da comunidade por mais de dois anos. Quando voltei eu estava maior e mais forte, então meus amigos tomaram um susto, eles disseram: caramba! Você tá grandão! tá um Evertonzão! Depois o Evertonzão se transformou em Tonzão e acabou ficando.

JRE: Há quanto tempo você se converteu e como foi essa experiência?
Tonzão: Eu me converti há quatro anos. Foi uma experiência maravilhosa. Eu fui criado numa comunidade carente, meu pai era traficante e, ainda muito pequeno eu o vi morrer por meio do tráfico.  Eu tive uma vida muito sofrida, muito difícil de trabalho: catei latinha, fiz malabarismo no trânsito, fui flanelinha… Passei muita necessidade, sempre junto com a minha avó, procurando emprego com dignidade. Sempre ajudando minha avó, a fim de que meus irmãos não morressem de fome.
Na comunidade se vê muitas pessoas se dando bem, seja no tráfico de drogas, seja como jogador de futebol, como cantor de funk. E esses são os meios mais rápidos de se ganhar muito dinheiro, uma vez que falta qualificação profissional e intelectual. Eu  acreditava que o dinheiro seria a única forma de trazer a felicidade verdadeira.

JRE: Foi quando você começou a fazer sucesso, certo?
Tonzão: Por muito tempo eu lutei, chorei e corri atrás do sucesso. E consegui através do grupo de funk que eu fazia parte, os Havaianos. E ali, com os Hawaianos, comecei a viajar o Brasil e o mundo, botando sempre muito dinheiro no bolso, mudando a minha realidade e a de outros, meus familiares; tudo o que sempre sonhei. Mas, dentro de mim, nada mudou! Minha mãe continuava nas madrugadas, meus irmãos não queriam nada com a vida. Eu, então, comecei a falar assim para mim mesmo: “para que isso tudo se não tenho paz? Nunca quis ter dinheiro para zoar; não! Eu queria ter dinheiro para que a minha família vivesse com dignidade e decência. E eu tive tudo isso, porém a minha família não melhorou.

Quem foi que te apresentou Jesus?
A Cibele, minha companheira hoje. Nos conhecemos nas noitadas, ela também dançava num grupo de funk. Mas ela já tinha tido uma passagem pela igreja. Alguns amigos a apelidaram, por causa do comportamento dela, de “crente do funk”. O modo dela era diferente e, então, me apaixonei. Começamos a “ficar”… e ela me mostrou um novo horizonte, sempre me falando sobre Jesus… Ela também me contava testemunhos de pessoas que eu havia conhecido e de suas respectivas mudanças de vida. Então em pensei: “eu quero esse Jesus para minha vida.” Embora tivesse aceitado a Cristo eu não vivia as práticas de um discípulo de Jesus. Falhos todos os seres humanos são, o importante é ter a vontade de melhorar e evoluir, mudando as práticas que são abomináveis.

E como foi para você abandonar tudo?
Planejava largar tudo, mas era difícil. Uma guerra na mente muito grande. Não é fácil abrir mão de fama, de dinheiro. Era uma luta constante. Até que um fato marcou a minha vida. Foi em 2011, estávamos no auge da nossa carreira, numa quinta-feira, indo para São Paulo, era a última viagem do ano, mas não teve show, então eu fui curtir uma balada e, já na pista de dança, não me senti bem. Comecei a passar mal e acabei sendo levado para o hospital, onde tomei medicamentos e, mesmo com os exames, não detectaram o que eu tinha. Ali naquele hospital eu achei que ia morrer e foi quando comecei a lembrar do povo de Deus que me evangelizava, do pastor, da igreja e a presença de Deus invadiu aquele lugar, nós oramos e eu já estava curado. Foi a partir daquele momento que eu abandonei tudo… Desse dia até então, estou aqui para a honra e glória do Senhor!

E sua companheira?
Muitos acharam que ela não iria vir comigo, mas ela largou a Gaiola das Popozudas e veio comigo para presença do Senhor. Nós nos casamos e tentávamos ser pais, mas não conseguíamos. Depois de um propósito de orações, no dia do meu aniversário, Deus nos abençoou com um filho após cinco anos de casamento. Nosso filho está para fazer um ano e já recebemos outro presente de Deus: ela está grávida de cinco meses.

Vocês pertencem a qual igreja?
Eu sou líder de adolescentes de todo o Campo do Ministério Flordelis, em são Gonçalo, Itaboraí e Niterói, cobrindo aquelas regiões e suas adjacências. O Ministério Flor Lins é coligado com o de Madureira, portanto, juntos, temos viajado por todo Brasil em nome de Jesus, entrando em comunidades e resgatando os perdidos. Além disso, tenho palestrado em presídios, em colégios, e em institutos para menores infratores. E tudo isso é muito gratificante. Hoje sou uma pessoa transformada e valorizo os momentos simples: fazer um café para minha esposa, fazer compras com ela, brincar com meu filho, estar em comunhão com os irmãos. É muito bom! É uma paz que não se tem igual! Mesmo sem dinheiro no bolso, tenho a felicidade sonhada e querida.