Pastor Lawrence  Maximo polemiza dizendo que as igrejas brasileiras deixaram de ser missionárias para tornarem-se mercenárias

Por Monique Suriano
moniquesuriano@yahoo.com.br

Apaixonado por missões e pelo prazer de apresentar Jesus Cristo àqueles que ainda não o conhecem, o pastor missionário Lawrence Maximo é um defensor de pessoas e projetos que abracem essa causa cada vez mais esquecida pela igreja do século XXI. Cientista Social (antropólogo), teólogo, missiólogo, escritor, professor universitário, pesquisador e articulador de projetos socioculturais, Lawrence é membro da Primeira Igreja Batista de Campo Grande (RJ) presidida pelo pastor Carlos Elias. Atualmente, aos 33 anos, mestrando Ciências Políticas com ênfase em Antropologia pela Universidade de Lisboa, em Portugal, ele atua como missionário na Organização Transcultural Etnia.

Inconformado com o cenário atual das igrejas brasileiras e seus interesses comerciais, Lawrence polemiza na entrevista concedida ao JRE dizendo que as igrejas brasileiras deixaram de ser evangélicas para tornarem-se babélicas, deixaram de ser missionárias para tornarem-se mercenárias.  Ainda afirma que se Deus permitisse que a perseguição aos cristãos chegasse ao Brasil seria uma ótima oportunidade para as igrejas voltarem às primeiras obras. Confira!

JRE: Como você avalia as igrejas brasileiras quando o assunto é missões?
Pr. Lawrence Maximo: Antes de qualquer crítica, temos de acentuar que existem muitos pontos positivos no movimento missionário brasileiro. Porém, somos uma decepção missionária, uma vergonha. O Brasil enviava mais missionários nos anos oitenta quando não tinha globalização, e muito menos igrejas ricas. Hoje temos uma igreja midiática e com forte influência no cenário político.
Como missiólogo, eu digo com muita veemência que a maioria das igrejas não fazem missões. A cultura missionária veiculada nas igrejas brasileiras é totalmente deturpada, não sabem o que significa Missio Dei (Missão de Deus = natureza da igreja). Repetem os mesmos erros, aqueles que estão de frente dessa tônica parecem que seus cargos são vitalícios, as mesmas caras, com as mesmas pretensões, é hora de mudar, sabemos que não está dando certo, porque insistem no erro? Tem muita gente boa no Brasil, com chamado e que amam vidas. Conheço vários projetos missionários maravilhosos em funcionamento, trabalhos lindos na África e Ásia, onde não possuem mídia ou qualquer contato com aqueles que dizem os “pensantes (elite) de missões no Brasil”.

JRE: Qual é a sua maior crítica ao movimento missionário brasileiro?
Pr. Lawrence Maximo: Os pastores brasileiros são a maior causa do fracasso do movimento missionário! Todo pastor exerce seu cargo por comissão de Cristo, e só pode preenchê-lo quando considera o mundo inteiro o seu redil. O pastor da mais pequenina igreja tem o poder para fazer sentir a sua influência ao redor do mundo. Não merece o seu cargo, o pastor que não entra em sintonia com a amplitude magnífica da Grande Comissão, e extrair inspiração e zelo da sua extensão mundial. A igreja que não exerce esse chamado é porque seus pastores não estão cumprindo a ordem de Cristo. Um exemplo dessa veracidade é que existem grandes ministérios no Brasil que não possuem um se quer missionário no campo.
Segundo lugar, a falta de preparo dos nossos missionários tem sido um ponto de discussão há alguns anos. Sinto que há uma ênfase exacerbada em determinadas áreas em detrimento de outras. As organizações missionárias e as igrejas têm concentrado esforços nos grupos majoritários, esquecendo-se dos minoritários. A igreja e seus missionários não podem eleger alguns povos e condenar outros ao esquecimento.
Terceiro e último, criou-se alguns estereótipos em relação aos missionários, como: só são missionários de fato aqueles que vão para a África, para os países muçulmanos e, de preferência, a lugares em que haja perseguição e corra bastante sangue. Ser missionário na América Latina não dá status e, aqui no Brasil, às vezes, não há reconhecimento nem desperta o interesse da maioria das igrejas. Um absurdo!

JRE: Como as igrejas podem retornar ao caminho missionário?
Pr. Lawrence Maximo: Bom…missões não é apenas uma salinha de canto dentro das igrejas, muito menos um departamento, a evangelização do mundo é a nossa tarefa mais importante e que precisa ocupar o primeiro lugar. Se dermos à obra missionária o primeiro lugar, então contribuiremos mais para missões do que qualquer outra coisa. Se não for assim, é porque alguma outra coisa assumiu o primeiro lugar. Devemos investir a maior parte dos nossos recursos na obra missionária. De outra maneira, não estaremos dando o primeiro lugar a missões, nem estaremos crendo que a evangelização do mundo é a tarefa suprema da igreja do Senhor Jesus Cristo.
Se eu improvisasse uma pirâmide para detectar porque a igreja brasileira não faz missões, sem generalizar, diria que no topo da pirâmide estão as igrejas que perderam a identidade de Cristo, perdendo essa centralidade, a igreja passa a não ser cristocêntrica. Em segundo, quase que unificado ao primeiro, é a inversão de valores, pois quando você não tem Cristo como à primazia da igreja, quando Cristo deixa de ser a centralidade, o homem entra, e automaticamente a centralidade do homem começa a reinar. Então, deixaram de ser evangélicas para tornarem-se babélicas, deixaram de ser missionárias para tornarem-se mercenárias! Resumidamente só há uma resposta para isso e ela está na Bíblia: “O campo é o mundo” (Mateus 13.38).

Você acredita que o Brasil pode se tornar algum dia um país perseguido?
Seria maravilhoso! Talvez se Deus permitisse isso, quem sabe sacudiria essas árvores, para que caíssem os frutos pobres que contaminam e perpetuam sua contaminação. Um missionário perguntou certa vez a um cristão da igreja perseguida chinesa (onde se reúnem em grutas, selvas, em barcos para estarem em alto mar só para cultuarem a Deus) que iria orar para que Deus viesse a intervir essa perseguição, nosso irmão chinês repreendeu o missionário, dizendo que apenas orasse para que Deus viesse a multiplicar a fé da igreja perseguida, pois assim eles continuariam a crescer cada vez mais… Conhecemos essa realidade se olharmos para a igreja primitiva!

Como foi o caminho até tornar-se pastor missionário?
Bom, eu estava diante de uma igreja que não sabia o significado da palavra missões. Aos dezessete anos já ministrava com intensidade. A minha proposta de mensagem consistia sobre a obra missionária. E na época era algo muito contraditório inclusive. Eram perguntas sem respostas. Quem poderia me conduzir ao campo? Levar-me para o campo? Quem poderia me aconselhar ou quem sabe me preparar de uma forma cabível para os campos e isso eu não tive na denominação em que congregava. É por isso que me identifico muito com o Rei Davi: Quem estava mais apto para escrever: “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”? Quem cresceu naquelas montanhas avermelhadas ao sul de Jerusalém? Onde ficava três ou cinco meses fora de casa, pastoreando as ovelhas do seu pai. Quem forjou o caráter de Davi foi o próprio Deus mediante a plenitude da imagem dos campos e montanhas, quem mais poderia ensinar a um menino como defender as ovelhas do ataque de um leão? Somente Deus. Não é a toa que ele é chamado de homem segundo o coração de Deus. Com toda humildade eu posso falar que eu também vim dessa escola. Já padeci muitas intempéries. Fui para o campo apalavrado com igrejas, com chamado e projetos, e simplesmente fui abandonado, e mesmo assim resisti, pois sabia que Deus tinha constituído um projeto em minha vida. Minha trilha foi muito árdua.
Creio no chamado incondicional de Deus para com o homem, foi exatamente isso que aconteceu em minha vida, apenas tinha certeza de uma coisa, existia uma promessa, onde o próprio Deus tinha me chamado para sua seara. Deus tem seus meios, sua multiforme de agir para abrir caminhos, mediante sua vontade. Posso citar dois anjos em minha vida, minha amiga missionária Susimara (missionária há 20 anos) e a doutora Maria Leonardo, fundadora e presidente da Organização Transcultural Etnia (com seus mais de 30 anos de experiência na obra missionária), organização essa que tenho muita honra em fazer parte, onde me preparou e me capacitou, como missionário e professor.

Qual é o seu conselho para as pessoas que tem um chamado missionário?
Primeiramente, quero deixar uma coisa bem clara, existe um ditado mentiroso em nosso meio, dizendo que todo crente é missionário, isso não é verdade, é uma balela. Quem conhece o Evangelho sabe disso. Bom, se o Senhor Jesus é a primazia de sua vida, se existe uma chama que arde dentro de você, onde queima constantemente esse fogo, onde tudo que faz e pensa é por essa causa, você (como todos nós), sente na alma que essa inquietude só vai cessar quando estiveres obedecendo a esse chamado. Você não se importa com bens materiais, não se preocupa com seu nome (ou sobrenome) nos tablóides do marketing desse sistema evangelical brasileiro corrupto. Se você olha a linha do horizonte com lágrimas nos olhos por amor e compaixão dos perdidos, como meu Jesus chorou quando olhou Jerusalém, não fazendo acepção de pessoas assim como Paulo entre os gentios, meus parabéns, você é um missionário e não tem para onde correr!
Sendo assim vou destacar alguns pontos importantes: Ter a certeza e convicção desse chamado; Dividir com seu pastor local; Comece a trabalhar seu chamado na igreja local (infelizmente alguns dizem ter o chamado e nunca trabalharam em suas igrejas locais – como a igreja local e o pastor vão conhecer realmente seu chamado?), um erro gravíssimo; Juntamente com seu pastor (igreja) escolha um centro de treinamento transcultural (agência missionária) para seu preparo e capacitação; Preparado, com a benção e o apoio do seu pastor e (igreja) estará apto para ser enviado ao campo missionário. Que Deus te abençoe!