Quando a enfermidade bate à porta, muitos se questionam se a doença é uma forma de punição

Por Daniella Fernandes

Os cristãos são acometidos por muitos problemas que roubam a fé e lhes tiram a paz. Mas Jesus Cristo deixou uma palavra de encorajamento e fé para os dias maus: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33b). Só pelo fato de fazer parte deste mundo, todos estão sujeitos a sofrer situações difíceis. Quando a enfermidade bate à porta, muitos, cristãos ou não, se questionam se cometeram algo errado diante de Deus, se a doença é uma forma de punição, ou se a circunstância existe porque Deus deseja tratar algo em particular com a pessoa.

A pastora e articulista na área de Educação Cristã da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), Telma Bueno, explica que não se deve generalizar afirmando que toda doença é um castigo de Deus. “Na maioria das vezes a enfermidade acaba sendo uma consequência das nossas atitudes, das nossas escolhas. A pessoa sabe, por exemplo, que fumar pode causar câncer, mas ela decide fumar. É uma opção dela, e ela terá de arcar com as consequências. A gente sabe que sal em excesso faz mal para pressão arterial, para os rins e a pessoa enche a comida de sal. Não é castigo de Deus, foi uma opção, a pessoa terá de arcar com as consequências dessa opção”, diz a pastora. Telma fala ainda sobre homens registrados na Bíblia como Jó, Ezequias e Timóteo, que embora fossem bons, justos e obedientes ao Senhor, eles também ficaram doentes. Ela ressalta que, enquanto estivermos nesse corpo, nós estaremos sujeitos a enfermidades.

A doença pode não ser um castigo de Deus, mas é uma consequência do pecado da humanidade, é o que compartilha o pastor e Coach Comportamental Ricardo Ribeiro: “O pecado foi uma escolha do primeiro casal e, consequentemente, de todos nós, e esta escolha nos colocou do lado de fora da proteção do Éden. Adão e Eva tinham uma roupa espiritual que os protegia de qualquer mal, e esta roupa foi tirada; por isso, viram que estavam nus. Esta mesma roupa nos é devolvida pelo sangue de Jesus. No entanto, também existem doenças totalmente espirituais, trazidas por espíritos maus, oriundo de maldições, invocações, pactos, pecados voluntários e involuntários. Nesse segundo caso, quando o demônio sai, a doença também vai embora”, afirma o pastor.

Ainda de acordo com a pastora Telma Bueno, a Bíblia também mostra casos de enfermidades de origem maligna, como é o da passagem de Lucas 13:10-13, onde uma mulher estava possuída por um espírito de enfermidade: “Certo sábado Jesus estava ensinando numa das sinagogas, e ali estava uma mulher que tinha um espírito que a mantinha doente havia dezoito anos. Ela andava encurvada e de forma alguma podia endireitar-se. Ao vê-la, Jesus chamou-a à frente e lhe disse: Mulher, você está livre da sua doença. Então lhe impôs as mãos; e imediatamente ela se endireitou, e louvava a Deus”. Porém a pastora ressalta que isso não significa que toda enfermidade seja possessão demoníaca.

Existe um jargão muito falado nas igrejas: “Não veio pelo amor, vem pela dor”, referindo-se a alguém que ficou doente e que ainda não se converteu a Cristo. Algumas pessoas acreditam que Deus pode fazer alguém se arrepender dos seus maus caminhos por meio de uma enfermidade. “Quando a pessoa está doente, ela se sente emocionalmente mais frágil, fica mais sensibilizada, muita das vezes fica impossibilitada de fazer suas rotinas do dia a dia, como trabalhar, por exemplo. A pessoa tem mais tempo de refletir, para repensar no amor e na misericórdia de Deus. O Senhor pode aproveitar esses momentos para trazer a pessoa para a salvação. Mas a gente não pode colocar isso como uma regra. “Não vem pelo amor, vem pela dor”, como se Deus fosse um carrasco e as pessoas fossem obrigadas. Deus não obriga ninguém a nada”, enfatiza a pastora.

Alguns teólogos defendem a tese de que quando um cristão fica acamado, Deus pode aproveitar a situação ruim para tratar algo na vida dele. “Deus nos trata em todo tempo, e de certa forma até mesmo o diabo serve a Deus neste propósito. Existem muitos versículos que comprovam esta tese, mas prefiro ficar com o clássico Romanos 8:28a: ‘E sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus’”, explica Ricardo Ribeiro. A pastora Telma Bueno ressalta que, às vezes, o cristão fica doente na igreja e tem vergonha de dizer que está doente. Não fala para ninguém, porque algumas pessoas acham que se alguém está enfermo alguma coisa está errada ou é porque a fé é pequena para receber a cura. “É preciso ter cautela, porque muitos pregam como se o cristão fosse super-homem. Jesus levou sobre si as nossas enfermidades? Levou! Eu não tenho de aceitar a enfermidade como minha, mas isso não significa que não estamos sujeitos à enfermidade e isso tem causado muita confusão”, alerta.

Jesus deixou um legado de esperança para os dias de sofrimento e, assim como Ele, as pessoas podem passar pelos dias de tribulações com a força de Deus. Mesmo doentes no corpo, na alma, ou no espírito é preciso confiar na soberania de Deus e entender que todas as coisas estão sob o controle d’Ele e que nada atrapalha os planos do Senhor. Algumas situações fogem do controle humano, e muitas das vezes não temos respostas imediatas de Deus. “O crente acha que tem resposta para tudo. Nós não temos respostas para tudo. Eu não sei por que Deus cura uns e não cura outros, mas Deus continua sendo Deus, continua sendo Jeová Rafah. As pessoas, em vez de tratar isso com seriedade e sinceridade, ficam se culpando. A pessoa fica pior porque, além da doença, ela carrega um sentimento de culpa, achando que Deus não a ama, não a ouve e que tem algo de errado com ela. Deus cura? Cura! Quando Ele quer e a hora que Ele quer”, finaliza a pastora.