Ministrações sobre bênçãos e prosperidade têm tomado o lugar das pregações de arrependimento dos pecados e volta de Cristo. Mas por que algumas igrejas quase não pregam mais sobre esse tema?

Por Daniella Fernandes

Graça, prosperidade, bênçãos e vitórias. Esses são alguns dos temas otimistas pregados em muitas igrejas evangélicas da atualidade. Por que muito se fala sobre bênçãos, riquezas, graça de Deus para a vida dos cristãos e muito pouco se prega a respeito da salvação, conversão dos pecados e, principalmente, a volta de Cristo? Será que algumas igrejas estão usando o púlpito para ministrar o que o povo quer ouvir, ou o que precisam ouvir e o que Deus realmente quer falar? O JRE ouviu dois pastores para entender por que algumas ministrações não confrontam mais os cristãos a respeito do pecado e da volta de Cristo que, pelos sinais, cada dia mais se aproxima.

O pastor e professor de escatologia, Dilson Jayme, lamenta o fato de alguns pastores diminuírem as pregações sobre salvação, arrependimento e pecado. “Algumas igrejas perderam o foco. Estão pregando um evangelho sem a cruz e sem o sangue de Cristo, dando preferência às pregações brandas para não afugentar seus membros em seus cultos de ‘adoração’. Começam com muitos louvores, muitas oportunidades e um tempo muito reduzido para pregação da Palavra, tendo como resultado uma igreja lotada de membros sem conhecimento da Palavra, a qual é essencial para a purificação, santificação e libertação do pecado e, consequentemente, o plano de salvação de almas fica completamente comprometido”, diz.

De acordo com o pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus Ministério Missão Adorar-te, Jonas da Silva, estamos diante de uma geração que prefere ouvir que está tudo bem, que Deus vai dar vitória, do que ser confrontada com uma pregação que a faça refletir sobre pecado. “O Reino dos céus é seletivo (Mt 13:47-48) e não é possível falar de salvação dentro de uma teologia ortodoxa sem entrar na questão do pecado. O pecado nos afasta de Deus e nos desvia do caminho do céu. Na era da inversão de valores, em que o certo passou a ser errado, e o errado passou a ser o certo, um considerável número de pessoas não quer sentar em um banco de igreja para ouvir que, se não mudar seu comportamento, terá estadia permanente no inferno. Desta forma acaba sendo mais ‘lucrativo’ pregar sobre temas corriqueiros do dia a dia, que proporcionem um bem-estar ao ouvinte, de modo que ele se torne um frequentador assíduo. Em outras palavras, pregar o que o povo quer ouvir”, explica.

A Palavra de Deus adverte que sem santificação ninguém verá a Deus (Hb 12:14). A purificação dos pecados acontece através do sangue de Jesus Cristo, quando um pecador se arrepende dos seus erros e começa a ter uma vida diária de santificação, de fé em fé, para que, por graça, ele possa ir morar no lugar preparado para os santos: o céu. Por isso, segundo o pastor Dilson, é primordial a pregação da volta de Cristo nas igrejas, para que os cristãos estejam preparados e desfrutem do que Deus preparou para os seus. “Estamos vivendo os últimos dias. Diversas profecias estão se cumprindo diante de nossos olhos, nos alertando sobre o resgate da igreja do Senhor. Estamos realmente muito próximo do arrebatamento. A pregação sobre esse tema se torna muito importante para que todos entendam que não é hora de brincar de ser crente, é hora de decisão. Se alguns não pregam sobre isso, é por falta de fé, ou por falta de conhecimento do assunto”, afirma.

O pastor Jonas ressalta que, mesmo com uma data imprecisa, a volta de Jesus Cristo é real e todo cristão deve estar se preparando para esse dia. Ele questiona por que a pregação sobre o arrebatamento está reduzida. “O alerta da veracidade do arrebatamento vai nos conscientizar de que precisamos estar sempre prontos. Isso nos faz pensar, por que alguns pararam de pregar sobre um dos mais importantes acontecimentos relacionados à igreja? Seria porque pregar sobre arrebatamento não gera oferta? Porque a volta de Jesus não é a preocupação das pessoas, nem da igreja atual? Porque não atrai público? Porque estamos oferecendo paliativo ao invés de solução e mudança de vida? Tudo que conquistamos aqui é momentâneo, muitos estão se preocupando com o agora, porém o que Deus quer proporcionar é eterno. A vinda do Senhor está próxima. Que o Senhor nos ajude a estar pronto para este dia”, alerta.

Apesar de existir uma tendência real de alguns palestrantes quererem tornar o conteúdo do sermão o mais agradável possível ao seu público, que, segundo o pastor Jonas, satirizam textos bíblicos, usam anedotas, se vestem de maneira chamativa, tornando-se verdadeiros artistas, os chamados “profissionais de púlpito”, ainda existem os que se preocupam com a pregação da verdade da Palavra de Deus. E mesmo não tendo como negar que algumas igrejas estão mais preocupadas em manter adeptos do que de pregar a verdade, o pastor busca consolo em saber que ainda há pastores e igrejas comprometidos em ajudar os cristãos na caminhada para o grande dia do Senhor. “Existem pastores fiéis e igrejas sérias que testemunham a verdade, doa em quem doer, e que no dia do Senhor ouvirão: ‘Vinde, benditos de meu Pai’ (Mt 25:34)”, finaliza.

Foto: Daniella Fernandes