Geraldo Guimarães revela na entrevista o período em que ficou afastado de Deus, mesmo em comunhão com a igreja

Monique Suriano
moniquesuriano@yahoo.com.br

A equipe de reportagem do JRE aproveitou a passagem do cantor Geraldo Guimarães pelo 21° Congresso da União de Adolescentes da Catedral das Assembleias de Deus em Santa Cruz, no sábado, dia 14 de novembro, para conhecer mais sobre a trajetória ministerial e as experiências marcantes da vida de um dos cantores mais destacados no meio gospel atualmente. Geraldo Guimarães é autor das letras “Maravilhosa graça” e “Um Deus tão grande”. Congrega na Igreja Videira no Rio de Janeiro, dirigida pelo pastor Ricardo Guimarães, o irmão mais velho. Na entrevista ele fala como nascem suas composições, sobre os perigos da fama, e ainda revela o período em que ficou afastado de Deus, mesmo em comunhão com a igreja. Confira a entrevista.

JRE: Você já gravou letras maravilhosas, que tocam nas principais rádios do país. Como essas composições acontecem?
Geraldo Guimarães: Tem duas situações em que uma música nasce para mim. Primeiro: quando eu quero dizer algo para Deus. Quando o espírito quer expressar algo, algo que eu estou crendo, algo que eu estou desejando. Nesse momento pode nascer uma canção. Segundo: quando Deus quer falar comigo. E muitas dessas vezes o crente é espremido. Na caverna, no vale, no funil, na moenda saem lindas canções, pois é a hora em que Deus freia a gente. Então uma canção é gerada quando Deus quer muito falar para nós ou através de nós, e também no momento em que a nossa alma e nosso espírito desejam externar o que a gente está sentindo.

JRE: O que é ser um artista gospel em sua opinião?
Geraldo Guimarães: Nem sempre a gente consegue fazer do show uma igreja, mas acho que todo mundo deveria pelo menos tentar. Meu desejo é que essa atmosfera da igreja seja compartilhada em um palco, em um show de prefeitura, em uma Marcha Pra Jesus. O problema está em querer trazer aquela atmosfera de show e de entretenimento para o altar da igreja. O problema não é ser artista, artista é aquele que domina uma arte; e se cantar é uma arte, ele pode ser chamado de artista. Mas você precisa saber que você é um canal da graça de Deus antes de qualquer coisa. O lugar de segurança para todo mundo é debaixo de uma cobertura espiritual, dentro da vida da igreja. Se você conversar com um cantor que se afastou de Deus, vai perceber que antes de cair ele se afastou da convivência da igreja e desprezou a cobertura espiritual. A única maneira de continuar dominando a arte e sendo usado por Deus é fazendo parte da vida da igreja e estando debaixo da cobertura espiritual. É continuar sendo ovelha, mesmo quando se é pastor. Continuar sendo liderado, mesmo quando me torno um grande líder. Continuar ouvindo, mesmo quando o mundo inteiro me dá oportunidade de falar.

JRE: Você tem quantos anos de ministério? Como ele começou?
Geraldo Guimarães: Três anos e meio. Qual ministro de louvor que nunca quis gravar um CD? Eu era como tantos cantores por aí que desejam muito gravar um CD. Mas chegou um momento da minha vida em que descobri que eu não tinha propósito nenhum nessa gravação. Para que eu vou gravar um CD? Então quando eu descobri que gravar CD não me levaria a lugar nenhum, eu não quis mais. Eu já tinha vencido na vida empresarialmente, estava casado, bem estruturado na minha igreja. Mas foi quando eu desisti que Deus disse: ‘Já que você não quer, eu quero’. Deus confundiu tudo na minha cabeça e as portas foram se abrindo, as oportunidades foram aparecendo, e a primeira música que eu gravei para fora foi “Maravilhosa Graça”, e hoje ela é cantada no Brasil inteiro.

Teve alguma música que mais te marcou?
Na verdade eu tenho duas músicas que são muito fortes no meu ministério. Uma delas é “Maravilhosa Graça”, que foi a confirmação de Deus para tudo que temos feito hoje. Quando eu cantei a graça de Deus, eu percebi que a escolha de Deus por mim, não era por quem eu era, mas por aquilo que Ele queria fazer através da minha vida. O mérito não era meu, o mérito era de Deus. E a outra música que me mostrou de fato quem eu sou é “Um Deus tão grande”, que com amor tão grande me fez alcançar muito além do que sonhei. O que eu vivo hoje eu nunca sonhei na minha vida. É muito maior do que eu podia ter calculado ou desejado.

Qual foi a maior experiência que você já teve com Deus?
Teve um momento da minha vida em que eu não conseguia mais caminhar, já não imaginava que eu pudesse desfrutar do perdão e da comunhão com Deus novamente, quanto mais ministrar na casa de Deus. Eu tinha muita dificuldade para me perdoar pelas decisões e atitudes erradas que tomei. Foi quando percebi que Deus é poderoso para me perdoar e derramar graça sobre a minha vida. Então esse momento de reconciliação foi algo que me marcou muito, além da minha conversão. Eu tinha tudo para dar errado, se fosse pelo meu mérito eu não estaria aqui hoje. Então essa proximidade com a Palavra de Deus e com a graça de Deus me fez entender que eu também posso me perdoar naquilo que Deus já me perdoou.

Então você se afastou da igreja nesse período?
Não, eu nunca me afastei da igreja. Acho muito bom você registrar que a pior maneira de alguém desviar é dentro da igreja. Porque existe a sensação de que você continua fazendo a coisa certa, quando o seu coração já não está mais ali. Quando a essência se perde é um pouquinho mais difícil, que nos casos onde a pessoa sai da igreja e cai no mundo.  Mas nesse momento eu pude entender o perdão de Deus. Deus me ensinou a me perdoar, e eu fui restaurado exatamente quando eu me senti perdoado. Eu entendi que o amor de Deus não mudou, e que o perdão de Deus podia mudar a minha história. E mudou, eu estou aqui.

Hoje o senhor veio participar de um culto de adolescentes. Quais foram as maiores dificuldades que o senhor enfrentou na adolescência?
A cultura da igreja para os adolescentes da minha época era totalmente diferente da cultura de hoje. Hoje você tem uma liberdade de culto muito maior, existem trabalhos específicos para cada faixa etária, antigamente a linguagem era uma só, um ensinamento bíblico único para todos. As crianças até tinham uma literatura diferente, mas os adolescentes não. Eles saiam do departamento infantil para o departamento de adolescentes e ficavam perdidos. Por isso muita gente se perdeu na minha época.

Foto Luis Fernando Magão