No mês das crianças, o JRE preparou uma matéria especial sobre o crescimento espiritual dos pequeninos 

Por Daniella Fernandes

Jesus Cristo deixou muito claro o amor e interesse dEle pelas crianças ao repreender os discípulos que as impediam de chegar até Ele: “Deixai vir os meninos a mim, e não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus” ­­– Mc 10.14b. Os pequeninos são tão especiais para Deus, que quando os discípulos perguntaram quem era o mais importante no Reino dos Céus, Jesus mostrou uma criança e afirmou que para entrar no Reino dos Céus era necessário ser como ela (Mt 18.1-4). Mas será que as igrejas estão dando tamanha atenção às crianças? Será que o investimento no ministério infantil tem a importância devida? Será que os cristãos estão ajudando as crianças a chegarem até Cristo?

A pedagoga Marilene Souza, que já foi líder de departamento infantil, coordenadora de berçário e professora de Escola Bíblica Dominical, explica que investir em crianças é investir no Reino de Deus. “O propósito de Deus é que a igreja tenha compromisso com a vida espiritual desses pequeninos. As igrejas precisam se conscientizar de que o ministério infantil nasce no coração de Deus e Ele não quer que nenhuma criança se perca. As crianças fazem parte da Igreja de Cristo Jesus e, por isso, devemos tratá-las com mais amor e atenção”, ressalta.

Não é novidade para nenhum cristão que a Escola Bíblica Dominical (EBD) é a escola do crente. É lá que se aprende a Palavra de Deus, que gera crescimento espiritual ao cristão. Não é diferente no mundo das crianças: a EBD é de fundamental importância para o aprendizado delas sobre o Reino de Deus. A pedagoga explica que o crescimento espiritual de uma criança é de responsabilidade dos pais, quando eles são cristãos, e que também se dá através do conhecimento da Palavra de Deus e das lições bíblicas ensinadas na EBD. Marilene lamenta que alguns tios e tias da “salinha” das igrejas estejam despreparados para lidar com os pequenos e que alguns acabam aceitando trabalhar com crianças porque ninguém aceitou a tarefa. “Infelizmente existem professores despreparados, mas também conheço professores aptos a ensinar e que têm compromisso com a obra de Deus e o ministério. O professor tem que ter um chamado, se dedicar, orar e planejar para dar a aula. Sei que também tem professores que querem aprender mais por meio de seminários e cursos, mas não têm condições financeiras para arcar com esses custos. Tem os que não utilizam o material didático, porque é caro. Por que as igrejas não investem nesse departamento e no ministério infantil? Fico muito triste em saber que algumas igrejas veem as crianças como segundo plano. Se eu fico triste, imagina o coração de Deus? É necessário que as igrejas invistam nos líderes e nos professores”, diz.

Durante o culto, geralmente as igrejas disponibilizam a “salinha” para as crianças. A ideia é de que os pais possam participar da reunião no templo e que os filhos tenham o “cultinho” deles, de acordo com a faixa etária de cada criança. O que mães e pais esperam é que seus filhos aprendam histórias bíblicas, canções e coisas sobre o Reino de Deus, mas nem sempre é isso que acontece. Segundo a pedagoga, muitas das vezes, com o intuito de ajudar os pais a assistirem ao culto, por falta de preparo, os professores se esquecem de ensinar lições bíblicas com ferramentas infantis e limitando-se apenas aos desenhos e pinturas para entreterem as crianças. É quando a “salinha” deixa de ser usada para ensinar a Bíblia, na linguagem dos pequenos, para ser só recreação. Marilene ainda ressalta a importância de falar sobre salvação e fazer apelo nas “salinhas”, pois algumas crianças, mesmo sendo filhas de cristãos, ainda não aceitaram Jesus e também pelo fato de pais não crentes irem ao culto e deixarem os filhos na “escolinha” da igreja.

A psicopedagoga, líder do ministério infantil e de evangelismo do Projeto Vida Nova de Irajá, Flávia Perdigão, lamenta que a sociedade, de um modo geral, e até mesmo a própria família, ache que a criança às vezes não assimila. Ela explica que é ao contrário, que é preciso ensinar desde cedo. “Até os sete anos de idade o caráter da criança está sendo moldado, então o investimento é agora. É preciso investir nesse momento para que, em um futuro bem próximo, ela comece a dar frutos. Hoje sou fruto de tudo o que eu vivo no Reino, de investimento que eu tive na minha vida infantil. A minha base do evangelho não se deu por hoje, das coisas que vivo hoje com Deus, mas veio do ministério infantil. É fundamental um investimento de oração e de conhecimento. Criança aprende, ela tem uma memória maravilhosa, então quanto mais informações a respeito de Deus, em relação ao Reino, em nível de conhecimento, é fundamental”, afirma.




Evangelização Infantil

Ao contrário do que alguns pensam, as crianças também precisam ser evangelizadas. “Toda criança carece de salvação. As crianças precisam conhecer o amor de Jesus, amor que liberta, salva e transforma. Uma criança ganha para Jesus representa uma vida inteira para Deus. Uma vez alcançada para Jesus, é preciso que a criança seja discipulada, pois assim poderá crescer e se desenvolver espiritualmente (Lc 2.52)”, diz a pedagoga Marilene.

Existem igrejas e ministérios que ainda investem no departamento infantil, porque sabem que é de fundamental importância falar de Jesus para os pequenos. Um exemplo dessa dedicação às crianças é a festa “Jesus mais doce que o mel”, promovida há 20 anos pelo Projeto Vida Nova de Irajá, com a visão de evangelismo estratégico do apóstolo Ezequiel Teixeira e da Pastora Márcia Teixeira. O evento é feito no dia em que algumas religiões comemoram o dia de Cosme e Damião, com o intuito de evangelizar crianças e pais não crentes. Com muita música, brincadeiras e peça teatral, as crianças aprendem quem realmente foram Cosme e Damião e assim entendem que o único protetor das crianças é Jesus Cristo.

“O Jesus mais doce que o mel é um evangelismo voltado para as crianças. A gente trabalha todos os anos em cima de um tema na direção de Deus. Esse ano Deus gerou no nosso coração que deveríamos resgatar a identidade de filhos de Deus, de príncipes e princesas. A gente tem visto nos noticiários que as crianças têm sido muito assoladas, elas têm sido muito bombardeadas até mesmo pelas próprias famílias. Então Deus gerou no nosso coração que a gente trouxesse um ambiente de Reino de Deus e elas pudessem desfrutar disso”, conta a líder do ministério infantil e de evangelismo do Projeto Vida Nova de Irajá, Flávia Perdigão.

Foram mais de mil convites distribuídos pelos próprios membros da igreja nos evangelismos nas casas, nas escolas, por profissionais que atuam com crianças e também nos cultos. Em um ambiente de muita descontração e adaptado à linguagem infantil, muitas crianças levantaram as mãos aceitando Jesus como Salvador. No final do culto, todas as crianças receberam presentes: kit lanche com doces e guloseimas; as meninas ganharam coroas de princesas e os meninos, espadas de príncipe. Todas as crianças saíram vestidas com uma camiseta que dizia: “Jesus, o único protetor das crianças”.

Flávia explica que o propósito do “Jesus mais doce que o mel” também é alcançar o coração dos pais não crentes, já que os filhos não vão sozinhos. “Quando você ganha uma pessoa para Jesus, você ganha uma pessoa, mas quando você ganha uma criança, você ganha uma família. Se de fato a criança se agradar do ambiente, ela vai incomodar os pais para trazê-la à igreja. Muitos pais voltam depois que a criança ouviu a Palavra. Eles acabam trazendo os filhos e também são impactados com a Glória de Deus”, diz.




Crianças cristãs: da “salinha” para o templo

Muitas crianças nas igrejas evangélicas frequentam as “salinhas” para idade delas enquanto os pais estão participando do culto. Mas como saber quando é o momento de mandar os filhos para o templo? Com quantos anos aproximadamente um indivíduo consegue compreender uma reunião de adultos? Quando é que a capacidade cognitiva de uma criança permite que ela assista aos cultos no templo e deixe a “escolinha”? O JRE ouviu a psicóloga Aline Rodrigues, para ajudar a esclarecer essas questões.

A psicóloga explica que as “salinhas” possuem uma linguagem própria para cada faixa etária, com atividades e brincadeiras que estimularão a aprendizagem de cada criança. Já na reunião de adultos, os assuntos são diferenciados, exigindo um pensamento mais abstrato e capacidade de concentração maior por parte das crianças, para conseguirem assimilar os conteúdos expostos. Aline se baseia no conceito de estágio do teórico Jean Piaget para explicar as questões: “O desenvolvimento da inteligência não se dá pelo acúmulo de informações, mas é um desenvolvimento que se dá por saltos e rupturas. Cada estágio representa uma evolução desta inteligência e este desenvolvimento acontece por sequência, e nenhum destes estágios pode ser pulado. Eles são divididos basicamente em três: sensório-motor (0 a 24 meses), pré-operatório (2 a 7 anos) e operatório (7 anos em diante). Este, por sua vez, foi subdividido em dois, sendo operatório concreto (7 a 11 anos) e operatório formal (12 anos em diante). Com base nesse conceito dos estágios, pode-se sugerir que a idade para que uma criança possa começar a se adaptar à participação das reuniões juntamente com os adultos seria dos 7 ou 8 anos de idade, pois, no período do estágio operatório, a criança já consegue organizar o pensamento por meio da lógica. No estágio operatório formal, que inicia a partir dos 12 anos, a criança, que já seria adolescente, tem a capacidade de trabalhar com hipóteses, tendo mais características da forma de pensar de um adulto”, afirma.

A psicóloga também ressalta que é importante pensar que a criança passará por um período de adaptação, da “salinha” para o culto. Aline aconselha que a criança deve ser acompanhada pelos dirigentes do culto infantil da “escolinha“, para que ela possa tirar dúvidas e se sentir mais à vontade no novo ambiente.

Foto: Marcio Araújo/ Projeto Vida Nova