Pr Paulo Ramos afirma que a igreja precisa aceitar os desafios da contemporaneidade e se contextualizar

Por Monique Suriano
moniquesuriano@yahoo.com.br

Os desafios que cercam os líderes cristãos do século XXI não são pequenos. É bem verdade que também não eram menores os desafios dos líderes dos séculos passados. Mas o século XXI é diferente. Há algo nele que difere, em muito, dos demais séculos vividos pelas gerações passadas. O século XXI traz o desafio da contemporaneidade em meio à tecnologia. Formos forçados a acompanhar as transformações tecnológicas e sociais, o que nos fez mudar por dentro. A imensa gama de tecnologia a nosso dispor alterou nossa forma de pensar e comportar. E o maior desafio dos pastores hoje é acompanhar as transformações sociais sem perder a alma bíblica do ministério.

O bom pastor e líder continua em oração, continua na leitura devocional da Palavra, continua no convívio abençoado com os irmãos, e ainda é contemporâneo com seu tempo e sociedade. Quem fala sobre o assunto e conta sua experiência pessoal e ministerial é o pastor presidente da Igreja Batista Monte Horebe, Paulo Roberto de Oliveira Ramos. Leia na íntegra.

JRE: Como foi o processo de contextualização da Monte Horebe para ela se tornar uma igreja referência na região?
Pr. Paulo Roberto: 
 Eu já estou aqui há 38 anos, cheguei aqui no dia 1º de dezembro de 1974. E quando cheguei aqui, nos éramos apenas 192 membros. Durante 24 anos a igreja permaneceu num crescimento muito inexpressivo, até o ano de 1998, sua taxa de crescimento era de 2 a 3% ao ano, pois era uma igreja que tinha uma liturgia tradicional, não desenvolvia seu ministério, era uma igreja que não tinha cultos temáticos, que não quebrava os paradigmas. Mas no ano de 1998 Deus começou a fazer um mover diferente em nossa igreja quando criamos os cultos temáticos.

JRE: Que cultos são esses?
Pr. Paulo Roberto:
Na segunda-feira acontece o Culto da Vitória da Família, onde temos uma liturgia bem diferenciada, um culto contemporâneo, alegre, interativo, com muitos cânticos e uma Palavra informal, porém profunda e voltada para a família moderna. Esse culto começou a dar muito resultado, pois ele se tornou uma forma de atração evangelística, até hoje temos de 300 a 400 pessoas não evangélicas frequentando. Essa reunião já chegou a receber uma base de três mil pessoas por culto, hoje em dia fica em torno de duas mil pessoas celebrando. Depois disso criamos o Culto da Palavra, que é realizado às quartas-feiras, o Culto da Conquista às quintas-feiras, e a Tarde da Benção realizada também às quartas-feiras. Esse culto tem como propósito a vitória sobre a enfermidade, sobre a família, sobre as causas impossíveis das pessoas.  Criamos ainda o culto para jovens chamado Point Horebe, que acontece todos os sábados às 19h30, o culto voltado para os adolescentes chamado Sou Teen, o Culto da Mulher, e em breve iniciaremos o culto voltado para os homens. O slogan da igreja é Igreja Batista Monte Horebe, O Melhor Lugar Para Sua Família. Isso significa que nós somos uma igreja voltada para as necessidades da família, todo o nosso ministério foca a família como projeto de Deus, entendendo que uma família bem estruturada é uma família forte e equilibrada emocionalmente e espiritualmente, resultando numa igreja forte e sadia.

JRE: O senhor disse que a igreja precisou quebrar paradigmas para experimentar um crescimento. Como foi isso?
Pr. Paulo Roberto:
Jesus quebrou os paradigmas do seu tempo todas as vezes que esses paradigmas roubavam a glória de Deus em detrimento da glória dos homens. A quebra do sábado foi um absurdo para os religiosos da época, mesmo que para curar um enfermo e glorificar a Deus. Jesus quebrou o paradigma do sábado. Devemos quebrar os paradigmas quando esses não contribuem mais para a expansão do reino de Deus e Sua glória. Infelizmente, o que se observa em muitos ministérios é a repetição de ações e ritos aparentemente produtivos, contudo inócuos, enfadonhos e áridos.

Qual foi o segredo que transformou uma igreja de 194 membros em um igreja com mais de seis mil membros?
Na Palavra de Deus está escrito: “Clama a mim e responder-te-ei, anunciar-te-ei coisas grandes e firmes que não sabes”… Deus só começa fazer um mover quando a igreja o busca em oração.  E nós estávamos buscando esse mover em oração há cerca de 10 anos. O crescimento da igreja aconteceu naturalmente, ela foi saltando de 600 para 1.000, de 1.000 foi para 1.500, de 1.500 foi para 2.000. Na década de 1980/90, a taxa de crescimento médio da Igreja Batista Monte Horebe era em torno de 2 a 3%, hoje nós crescemos em uma taxa de 16% ao ano. E já estamos fazendo projetos, porque queremos no próximo decênio alcançar 75.000 membros na igreja. Esse é o nosso novo desafio de fé.

O que não pode faltar em uma igreja contextualizada?
A explanação da Palavra é o ponto principal que não pode faltar, porque o que faz uma igreja crescer é a união do trabalho do Espírito Santo em cima de uma Palavra ministrada com poder e com graça.  Monte Horebe é um lugar onde a Palavra de Deus é ministrada com a unção da alegria, de uma forma diferente, contextualizada, contemporânea, de uma forma que faça o cristão ter instrumentos para ter uma vida melhor, e não ficar impregnada de preconceito, de paradigmas ultrapassados, de costumes, mas uma igreja que procura ministrar a Palavra, para que essa palavra se torne um instrumento de um viver melhor.

O que o senhor mais prioriza no seu ministério?
O que eu mais priorizo no meu ministério são os propósitos de Deus na vida da igreja, porque o que traz qualidade na vida da igreja é quando os propósitos de Deus estão sendo vivenciados por todos os membros da igreja; que é a adoração, o evangelismo, que é uma igreja com espirito missionário, que é uma igreja que tem um espirito de discípulo, interessado em aprender com mais profundidade a Palavra de Deus. A Monte Horebe é uma igreja que prima pela Palavra, nós priorizamos a exposição da Palavra nos nossos cultos. O maior tempo que nós dedicamos nos nossos cultos, em todas as celebrações é a explanação e aplicação da Palavra no viver diário do cristão.

Qual foi a sua maior experiência com Deus durante esses 38 anos de ministério?
Eu tive várias experiências. Minha primeira experiência marcante foi à conversão, que se deu aos 19 anos. Mas acredito que a experiência mais marcante do meu ministério foi a minha chamada, porque Deus me chamou de uma maneira muito forte, hoje eu sou um pastor que não tenho dúvidas da minha chamada. Eu renunciei tudo, nasci em uma família de classe média, muito bem ajustada, com um bom nível social e financeiro, não fui para o ministério, para o seminário para fazer uma carreira, mas fui porque tinha uma chamada. Deixei de fazer o curso de engenharia para estudar no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil no ano de 1971.  Quando eu enfrento as dificuldades do ministério, eu olho para trás e vejo que Deus me chamou, e que apesar de todas as dificuldades que eu tenha que enfrentar, Ele está do meu lado, e todas às vezes que eu entro em muitas lutas no ministério, eu me lembro dessa chamada, que ela foi inequívoca, e digo pra mim mesmo: eu não posso deixar de seguir a vocação que Deus me deu.

Quais são os próximos projetos para a igreja?
Construir um templo para 15.000 pessoas, mas estamos pedindo confirmação a Deus, porque Ele tem que aprovar. Pastor vive de sonho, quem não tem sonho perece, o que me faz permanecer no ministério da Igreja Batista Monte Horebe é que a cada ano Deus me dá novos sonhos, sonhos grandes para a honra e glória dele. Não honra pessoal minha, porque um dia eu vou passar, alguém vai ficar aqui no meu lugar e os sonhos de Deus vão continuar nessa igreja. Então esse é o nosso desejo, fazer com que a Igreja Batista Monte Horebe alcance não somente o município do Rio de Janeiro, onde já somos seis igrejas, mas também os outros estados do Brasil, e até outras nações. Brevemente nós vamos entrar ali em São Paulo e na Paraíba. Nossa visão é que a igreja não pode ficar feliz com as suas quatro paredes, fincar suas estacas somente no seu próprio quintal, mas ela tem que pensar grande, uma igreja com o espirito missionário, de sustentar missionários, contribuir com juntas de missões mundiais, nacionais, uma igreja que seja uma igreja de crescimento exponencial acima da média, e isso se consegue com oração, visão, e trabalho com tenacidade.

Qual a sua maior paixão na vida?
Minha maior paixão na vida é servir a Jesus, estar no ministério fazendo a obra de Deus. Sou um pastor realizado, amo apascentar, Deus me deu esse dom de gostar das pessoas, o importante para mim não é quando eu inauguro um templo, uma nova igreja, a coisa mais importante para mim é quando eu vejo pessoas salvas, Jesus transformando vidas, pessoas que tinham famílias completamente disfuncionais, desarrumadas pelo pecado, e Jesus usa a nossa igreja para ser um instrumento de Deus para mudar a vida dessas pessoas. E transformando a vida das pessoas vai transformar famílias, vai trazer um viver diferente, ver que o céu pode existir na terra, ver que o céu não é apenas uma realidade de futuro, mas ele é presente aqui e agora.

Qual foi o momento mais difícil da sua caminhada?
Eu já passei muitas dificuldades no ministério, mas acredito que o início para mim foi muito difícil porque eu não tinha experiência, nem os amigos que tenho hoje, como o pastor Silas Malafaia, pastor Silmar Coelho, que me ajudaram muito. Esses homens influenciaram muito a minha vida, e me fizeram ver de uma maneira diferente muitas coisas que eu tinha no aquário da minha denominação e não via que existia um oceano de oportunidades tão perto. Hoje eu oriento cerca de 30 pastores e ministros, e procuro dar a eles as orientações que eu só fui receber muito tarde no ministério.